Paul Craig Roberts: Estratégia de Putin começou, afinal, a funcionar?


Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu

Postado por 

Já expliquei a prática cristã do presidente Vladimir Putin da Rússia, de oferecer a outra face às provocações do ocidente, como estratégia para convencer a Europa de que a Rússia é racional e razoável, e Washington não é; e de que a Rússia não ameaça nem os interesses nem a soberania dos europeus, e Washington sim, ameaça tudo isso. Ao se curvar a Israel e retirar os EUA do acordo multinacional sobre proliferação de armas nucleares que inclui o Irã, o presidente Donald Trump pode ter afinal comprovado o sucesso da estratégia de Putin.


Os três principais estad0s-vassalos de Washington na Europa – Grã-Bretanha, França e Alemanha – manifestaram-se contra a ação unilateral de Trump. Trump entende que o acordo multinacional depende exclusivamente de Washington. Que se Washington retira-se do acordo, fim do acordo. Não interessa o que queiram os demais países signatários do acordo. Consequentemente, Trump aspira a reimpor antigas sanções que impedem qualquer relacionamento comercial ou de negócios com o Irã, e quer impor novas sanções. Se Grã-Bretanha, França e Alemanha continuam com os contratos comerciais que têm com Irã, Washington sancionará também seus estados vassalos e proibirá atividades de britânicos, franceses e alemães nos EUA. Visivelmente Washington pensa que, dado que os lucros da Europa nos EUA superam o que os europeus obtenham no Irã, é claro que a Europa baixará a cabeça e obedecerá, como estados-vassalos fazem e sempre fizeram no passado.

Claro que sim, é possível que rastejem. Mas dessa vez haverá revide. Ainda é cedo para saber se o revide irá além dos discursos e chegará a confronto com Washington. O Assessor para Segurança Nacional do governo Trump, neoconservador e pró-Israel John Bolton, ordenou que empresas europeias cancelem negócios que tenham no Irã. O embaixador de Trump na Alemanha, Richard Grenell, ordenou que empresas alemãs fechem imediatamente quaisquer operações que tenham no Irã. 

A violência da ação contra a Europa e o flagrante pouco caso que EUA manifestam contra interesses e a soberania dos estados europeus expõem à vista, de repente e muito visível, a longa vassalagem de governos europeus. Com a visibilidade, apareceu também o desconforto.

A chanceler alemã Angela Merkel, antes leal fantoche de Washington, disse que a Europa já não pode confiar em Washington e deve "tomar o destino em suas próprias mãos."

O presidente da Comissão Europeia Jean-Claude Juncker disse que a liderança de Washington fracassou; que é chegada a hora de a União Europeia assumir a liderança do bloco e "substituir os EUA" [Precisamente o que Varoufakis disse ao mesmo Juncker, antes de a troika europeia, então todo-poderosa, destruir a Grécia. Sic transit gloria Juncker! (NTs)]. E vários ministros dos governos francês, alemão e britânico ecoaram os mesmos sentimentos.

A matéria de capa da revista alemã Der Spiegel, "Adeus Europa", traz Trump caricaturado como 'o dedo' que aguarda a Europa [aqui, a capa é anunciada na página do designer no Twitter (NTs)]. Na matéria, diz a revista que é "hora de a Europa unir-se à Resistência".

Por mais que os políticos europeus tenham sido regiamente pagos pela vassalagem canina, talvez percebam agora que aceitaram carga imprestável e pesada demais.

Embora sempre respeite a capacidade de Putin para resistir a provocações, já manifestei minha preocupação ante o risco de sua capacidade para resistir vir a estimular maiores e novas provocações, o que intensificará o confronto, até que só restem duas saídas para a Rússia, ou guerra ou capitulação. Por outro lado, se o governo russo assumisse posição mais agressiva contra as provocações, devolveria o risco e o custo das provocações para os europeus, cujo servilismo diante de Washington é o que possibilita as provocações. Agora parece que o próprio Trump ensinou essa lição aos europeus.

A Rússia passou vários anos ajudando o Exército Árabe Sírio a expulsar da Síria os terroristas que Washington envia para lá para derrubar o governo sírio. Contudo, apesar da aliança russo-síria, Israel continua com seus ataques militares ilegais contra a Síria. É possível pôr fim a esses ataques, se a Rússia entregar à Síria seus sistemas S-300s de defesa aérea.

Israel e os EUA não querem que a Rússia venda à Síria seu sistema S-300 de defesa aérea, porque Israel quer continuar a atacar a Síria, e os EUA querem que a Síria continue a ser atacada. Se não atacar a Síria, afinal, que utilidade teria Israel para Washington?

Vários anos antes de Washington mandar seus mercenários e 'agentes locais' islamistas atacarem a Síria, a Rússia acertou a venda, para a Síria, de um avançado sistema de defesa aérea. Mas cedeu à pressão de Washington e Israel e não entregou os sistemas. Agora outra vez, depois da visita de Netanyahu à Rússia, ouvimos de um auxiliar de Putin, Vladimir Kozhim, que a Rússia continuará sem entregar as defesas aéreas de que a Síria tanto precisa.

É possível que Putin entenda que tenha de fazer desse modo, para não oferecer a Washington um caso a ser usado para pôr a Europa novamente em linha com a política de Washington, de 'agressão-infinita'. Ainda assim, para os que não vejam as coisas desse modo, é movimento que faz a Rússia parecer fraca e pouco empenhada na defesa de nação sua aliada.

Se Putin crê que consiga influenciar Netanyahu em matéria de acordos de paz com Síria e Irã... é sinal de que o governo russo absolutamente não compreende o objetivo real de Israel ou dos 17 anos de guerra que Washington faz contra o Oriente Médio.

Espero que a estratégia de Putin funcione. Se não, o presidente da Rússia terá de mudar o modo como responde a provocações. Ou será provocado até ser obrigado a entrar em guerra.*******

Comentários