MK Bhadrakumar: Porta para sair da Síria está aberta para Trump

11/4/2018, MK Bhadrakumar, Indian Punchline

Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu

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A fatídica decisão do presidente dos EUA Donald Trump de atacar militarmente a Síria está próxima de se cumprir e terá impacto não só sobre o futuro da Síria e de toda a política do Oriente Médio, mas também sobre a capacidade dos EUA para impor a própria hegemonia global na ordem mundial emergente.

Como já é rotina, o dia começou com o tuíto de Trump, no qual dizia:


· "Rússia diz que derrubará todo e qualquer míssil disparado contra a Síria. Se prepare, Rússia, porque os mísseis estão chegando, lindos novos e "inteligentes!" Vocês não podem ser parceiros de um Animal que Mata com Gás, que mata o próprio povo e diverte-se!

·  Nosso relacionamento com a Rússia é hoje pior do que jamais foi, incluindo a Guerra Fria. Não há razão para isso. A Rússia precisa de que a ajudemos na economia, coisa muito fácil de fazer, e precisamos que todas as nações trabalhem juntas. Fim da corrida armamentista?"

Trump diz que está pronto para ordenar o ataque. Mas também é fato q se trata de mensagem trumpeana. A segunda parte é dirigida ao Kremlin e fala de possível cooperação EUA-Rússia para benefício mútuo. Trump oferece uma isca: negociações para pôr fim à corrida armamentista, questão prioritária para os russos.

Trump parece supor que estaria 'negociando' uma solução 'ganha-ganha', acenando com uma cenoura e à espera de que Moscou saia da frente e deixe os EUA atacaram a Síria à vontade. É tragicômico, para dizer o mínimo, que a diplomacia norte-americana tenha descido tanto – o presidente dos EUA negocia a Síria como se fosse negócio imobiliário de prédio em Manhattan.

Uma catarata de declarações dos russos, por seu lado, deixa bem claro que Moscou defenderá a Síria custe o que custar. Significa não só que os mísseis dos EUA serão destruídos, mas, também, que as plataformas norte-americanas de lançamento são alvos a atacar. Essa mensagem foi veiculada pelo canal de TV do Hezbollah – gesto, claro, de devastador menosprezo às 'forças' de Israel.

Depois do ataque israelense conta a base aérea síria T4, na 2ª-feira, Putin mandou seu enviado especial para a Síria, Alexander Lavrentiev, a Teerã, em visita 'não agendada e inesperada', para se reunir com o poderoso czar da segurança nacional do Irã e principal nome para assuntos sírios, almirante Ali Shamkhani, presidente executivo do conselho de segurança nacional e homem que se reporta diretamente ao Supremo Líder Ali Khamenei. Evidentemente, as ações de russos e iranianos são coordenadas no mais alto nível.

Quanto ao Irã, está jogando com as cartas fechadas junto ao peito, exatamente como deve ser. Teerã entende perfeitamente bem que a operação de falsa bandeira que forjou um ataque químico pode ser usada como álibi pelos EUA para criar novos fatos em campo na Síria, com vistas a desgastar a posição de comando em que estão Rússia e Irã.

Putin serviu-se de uma cerimônia no Kremlin para apresentação de credenciais nos novos enviados estrangeiros, hoje, para uma referência oblíqua ao grito de guerra de Trump. Disse Putin


· "A situação dos assuntos mundiais só inspira preocupação, a situação do mundo vai-se tornando mais e mais caótica. Mesmo assim, ainda esperamos que o bom-sendo venha talvez a prevalecer, e as relações internacionais entrem em rota construtiva, e todo o sistema mundial torne-se mais estável e previsível."


Pode-se interpretar como um apelo ao 'bom senso' de Trump. Mas na sequência, Putin também destacou que Moscou continuará a defender o fortalecimento da segurança "global e regional", e assumirá plenamente suas "responsabilidades internacionais, sempre desenvolvendo a cooperação com nossos parceiros sobre base construtiva e respeitosa."

Mais cedo, num briefing para a imprensa, o porta-voz do presidente Dmitry Peskov foi explícito. Disse ele que "Não participamos de 'diplomacia de Twitter'. Somos a favor de abordar com seriedade as questões sérias. Cremos firmemente que é importante não dar passos que possam prejudicar a já frágil situação [na Síria]."

Fato é que Trump meteu-se numa situação nada invejável. A Rússia repetiu incontáveis vezes que responderia a qualquer ataque dos EUA na Síria; e que, Deus nos proteja, se se perderem vidas de russos no ataque dos norte-americanos, nesse caso, o inferno abrirá todas as portas. Por outro lado, se Trump volta atrás, sua credibilidade sofrerá duramente. Não é como chamar Kim Jong Un de "Baixinho dos Foguetes" e fica tudo por isso mesmo.

Há ainda alguma escapatória para Trump? Sim, há.

secretário da Defesa dos EUA James Mattis disse hoje que o trabalho de avaliação, pela inteligência, do suposto uso de armas químicas em Douma, na Síria, está em andamento. Palavras dele: "Ainda estamos avaliando a inteligência – nós e nossos aliados. Ainda estamos trabalhando nisso". Mattis respondeu desse modo quando perguntado diretamente se havia provas suficientes para acusar o governo sírio de ter usado armas químicas em Douma.

Pela minha avaliação, a chance de o relatório da inteligência ocidental concluir q 'não há qualquer prova' são consideráveis. (O primeiro vice-comandante do Departamento de Operações do Comando do Estado-maior da Rússia, tenente-general Viktor Poznikhir, disse a jornalistas hoje em Moscou que os famosos "Capacetes Brancos", que não passam de 'ONG' de fachada para agências de inteligência que colaboram com grupos terroristas na Síria, encenaram e filmaram um suposto ataque com armas químicas contra civis na cidade de Douma.)

De fato, se se mantiver a avaliação do general russo – de que houve uma operação de falsa bandeira, e o ataque foi forjado –, Trump pode dar um suspiro de alívio. Afinal de contas, se não houve ataque químico, quem precisa dar lições aos russos? *****


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