Corrupção na Lava Jato e na Procuradoria. Por Jeferson Miola

delação forçada e brecht
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por Jeferson Miola - 14/04/2018

Eu não queria mais falar sobre isso mais uma vez, doutora Raquel, mas a corrupção já entrou na Lava Jato, na Procuradoria”.
Esta denúncia é de extrema gravidade:
  1. foi feita por ninguém menos que Gilmar Mendes, juiz da suprema corte do país;
  2. foi formalizada no próprio stf, durante a sessão plenária de 11 de abril de 2018, diante da presença de todos/as integrantes da suprema corte e da procuradora-geral da república;
  3. implica agentes do ministério público e do judiciário;
  4. aponta constrangimento ao livre exercício do Direito pelos advogados e limitação ao exercício pleno do direito de defesa de réus;
  5. foi dirigida diretamente à procuradora-geral Raquel Dodge – quem, por oficio, tem a obrigação funcional e institucional de instaurar investigação.
A denúncia pode ser conferida no vídeo da sessão do stf a partir do minuto 56. Gilmar Mendes fez afirmações gravíssimas sobre o modus operandi da Lava Jato, e também sobre condutas criminosas de integrantes da Operação:
– “O advogado Batochio me disse: ‘Estou deixando o caso porque Curitiba assim exige’. Isso é um ponto importante Doutora Raquel, para dar transparência a esse processo. Curitiba [a Lava Jato] assim o exige”.
– “Estamos escolhendo advogados para delação. Ou aqueles que não poderiam sê-lo. Veja como este sistema vai engendrando armadilhas”.
– “Uma notícia antiga; Doutora Raquel deve conhecer, de 13 de maio de 2017, no painel da fsp: irmão de procurador da Lava Jato atua como advogado de defesa do marqueteiro João Santana”.
Vários processos tinham que passar pelo escritório do doutor Castor, que é irmão do procurador da república”.
– “E depois, quando isso foi denunciado, que este advogado é um advogado ativo nesta relação, se diz que continua a passar pelo escritório do Doutor Castor, só que agora de forma clandestina”.
– “O caso do Doutor castor em Curitiba e o caso Miller aqui. É notório que houve corrupção, é evidente.
– “É extremamente grave o que está a ocorrer, e certamente o que estou falando aqui não é segredo para mim, é não é segredo para o relator [da Lava Jato, Edson Fachin], que é de Curitiba”.
– “É um caso sério de corrupção. Não tem outra palavra. E isso está sendo alimentado por este empoderamento; não tem revisão”.
– “Estamos empoderando gente que já está muito empoderada, muito empoderada”.
– “Ou alguém tem dúvida da atuação de Fernanda Tórtima e Marcelo Miller?
– “Marcelo Miller recebeu um montante de indenização por conta daquele trampo do escritório. Pensei: e a PGR, tão ágil para pedir indisponibilidade de bens de todo mundo, por que não foi em relação ao doutor Marcelo Miller?
– “Este tribunal será no mínimo conivente se não fizer nada com este tipo de prática. Não preciso adivinhar. Isso já está prenhe de corrupção, no verdadeiro sentido da palavra”.
Aparteado por um colega surpreso, que lhe perguntou se tinha tomado providências diante das denúncias gravíssimas, Gilmar respondeu: “Estou dizendo à procuradora. Estou falando para a procuradora também”. E continuou, com a habitual imodéstia: “Eu já disse, ministro Fux, que eu sou mau profeta, porque em geral eu acerto as previsões. Péssimo profeta”.
Faltando menos de 3 minutos para o término da sessão, Raquel Dodge pediu a palavra. Ela se limitou, porém, a comunicar a existência de inquérito sobre o ex-procurador Marcelo Miller, mas não proferiu absolutamente nenhuma palavra sobre todas as demais denúncias.
É incrível como a mídia porta-voz da Lava Jato – neste caso, toda a mídia golpista, não só a Globo – omitiu o fato no noticiário.
Não é de hoje que se lançam suspeitas de corrupção na Lava Jato, mais além das claras evidências dos atropelos e arbitrariedades contra determinados réus e facilidades para outros.
Não é de hoje a existência de denúncias graves, sem esclarecimento satisfatório pela Lava Jato. A suposta “perda” da senha de acesso ao sistema de gerenciamento de propinas da Odebrecht, o Mywebday, é uma delas.
Outra denúncia antiga e grave envolve Carlos Zucolotto, amigo e padrinho de Sérgio Moro, que teria cobrado propina de US$ 5 milhões para intermediar, junto à força-tarefa da Lava Jato, acordo de delação favorável para Rodrigo Tacla Duran.
Este caso é emblemático.
O padrinho do Moro não foi investigado, Tacla Duran não foi aceito como testemunha no processo do ex-presidente Lula, e até hoje se desconhece a identidade da pessoa citada por Zucolotto pela sigla “DD” – que seria o responsável pelo aval ao acordo de delação com recebimento de US$ 5 milhões em propina.
Deve-se anotar que o único integrante da Lava Jato cujo nome corresponde às iniciais DD é Deltan Dallagnol.

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