Sergio Saraiva: O nojo e a pedra
O nojo que escorre das tintas e o sangue que corre das pedras são ambos derramados pelas mesmas folhas que os produzem.
por Sergio Saraiva - no blog Oficina de Concertos - março 29, 2018
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“O PT, por seu papel central nos escândalos recentes de corrupção, não teria como escapar ileso da indignação geral. Ainda mais porque têm sido claras as indicações de Lula no sentido de buscar o confronto e desafiar a legitimidade das sentenças da Justiça e da própria magistratura. Nas zonas rurais, sem dúvida o PT é identificado com os frequentes e deploráveis atos de vandalismo promovidos pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra e seus congêneres”.
Extratos do editorial – ”Idade da pedra”– com o qual a Folha lamenta o atentado a Lula – pasme-se; e, com o qual, tenta se eximir da parcela de responsabilidade que lhe cabe nesse ato terrorista.
Caso você tenha lido “O PT colheu o que plantou” – não se enganou.
Trata-se da conhecida argumentação hipócrita: “os tiros contra a caravana de Lula exigem investigação imediata e repúdio absoluto”, MAS ….
Alguém, por favor avise ao editorialista que há dois modos de se autorizar um mal feito. O primeiro é autorizando-o simplesmente. Outro é não o condenando. Ambos o legitimam.
O segundo caso é o utilizado pela Folha para incentivar os ataques à caravana de Lula. Basta acompanhar a cobertura dada pelo jornal. Anunciam com antecedência hora e local onde as hostilidades devem ocorrem – as chamam de “protestos” e aos agressores de “manifestantes” Dia seguinte, dão ampla visibilidade aos atos. As pedras tornam-se ovos. Tudo é escárnio.
A Folha agora responsabiliza as “fake news e a demonização militante de adversários, que grassa sem contraditório por meio das redes sociais”.
A Folha pratica o jornalismo que não ousa dizer o próprio nome.
“Impõe-se imediata e rigorosa investigação para encontrar e punir os responsáveis por esse ataque”. Indigna-se o editorialista.
Alguém, por favor avise ao editorialista que os terroristas que atacaram Lula, são bem conhecidos. Há vídeos na internet e eles – na certeza da impunidade – jamais esconderam seus rostos. A própria Folha apresentou-os: são os presidentes de sindicatos de produtores rurais – os proprietários de terras, os ruralistas abastados com seus tratores – correligionários de Bolsonaro. Chegaram a chamá-los de “parte da população” – se era eufemismo, soou como sarcasmo.
Nada mais enojante do que culpar a vítima pela agressão. E a Folha não nos poupa desse nojo.
“A violência, tudo indica, tem agora outra origem —só favorecendo, de resto, o papel de vítimas que petistas assumem de modo farsesco para livrar-se das sólidas acusações que os colocam no estado de prestar contas à Justiça”.
Alguém avise ao editorialista que as fotos das cabeças sangrando a pedradas – nenhuma delas publicada pela Folha – não reforçam o “papel de vítima” dos petistas. Provam de que lado estão as vítimas. Farsante são os contradizem os fatos em nome de seus interesses.
Por fim, alguém avise ao editorialista que não é “a tiros que tentam destruir as bases de todo convívio democrático”; é à tinta. E ele é um dos que puxam o gatilho.
PS: justiça se faça, poderia dizer o mesmo do editorial do jornal O Estado de São Paulo – ”Violência inadmissível” – por trás de um título tão verdadeiro de suas intenções como uma nota de três reais, nunca por coincidência, o mesmo argumento culpabilizando as vítimas pela agressão sofrida; nunca por coincidência, o uso quase que dos mesmos termos, a ponto de tornar repetitivo recitá-los. Nunca por coincidência, o mesmo nojo.
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