Nassif: Fachin pode estar atuando como agente provocador

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por Luis Nassif - no GGN - 28/03/2018

Em agosto de 2008, Veja praticou um dos maiores casos de fake news da história do jornalismo, com o caso do falso grampo no Supremo Tribunal Federal (STF).
Assinada pelos jornalistas Diego Escosteguy e Policarpo Junior, a reportagem se inseria na ofensiva para travar a Operação Satiagraha. Dizia que
a espionagem clandestina, uma praga histórica no país, está deixando de ser uma atividade de bandidos para transformar-se em rotina institucional. Nos últimos anos o Brasil vem demonstrando uma excessiva tolerância diante das violações à liberdade e à privacidade das pessoas em nome do combate à corrupção". 

Mais tarde, Policarpo seria diretamente envolvido em uma série de grampos em parceria com o bicheiro Carlinhos Cachoeira, tendo como araponga Jairo Martins – que, na época do falso grampo no Supremo, era consultor de informática do então presidente do STF Gilmar Mendes. E Escosteguy se transformaria em um dos jornalistas que atuaram na linha auxiliar da Lava Jato, defendendo a tese de que o combate à corrupção justifica as violações à liberdade e à privacidade das pessoas.
Visto à distância, Satiagraha representou o ensaio, de fato, do modelo policialesco que, anos depois, tomaria conta do país.
Lembro o episódio para relatar a maneira como se criaram factoides para levar a opinião pública à ebulição e parar com a Operação.
A revista levantou uma série de episódios pelo Google e manipulou amplamente as conclusões. Atribuiu a Sepúlveda Pertence a frase que teria se aposentado do Supremo devido a grampos – o que ele negou peremptoriamente no mesmo sábado em que saiu a edição. E colocou o Ministro Marco Aurélio de Mello na galeria dos Ministros atacados por e-mails ameaçadores.
Em cima desse pout-pourri de denúncias fabricadas, Gilmar berrava aos quatro cantos contra o estado policialesco. E, com isso, conseguiu o que quis de Lula.
Ante um governo ingênuo e despreparado, o factoide deu certo, resultando no fim da Satiagraha, na saída do delegado Paulo Lacerda da ABIN (Agência Brasileira de Informações) e, por tabela, no desmonte total da disciplina da Polícia Federal que, dali em diante, se transformaria na maior fonte de desestabilização do regime. E, desta vez, com liberdade total.
Na ocasião, Marco Aurélio poderia aparecer como herói sem medo. Em vez disso, deu entrevista desmentindo a suposta gravidade da ameaça. Tratava-se de um caso banal de um funcionário público desequilibrado que enviou o e-mail e foi logo identificado, constatando-se que era mera bazófia.
Digo isso para mostrar como funciona a estratégia de criar, para fins políticos, um clima de boatos espalhando pânico. Aliás, a história está repleta desses exemplos.
Ao divulgar supostas ameaças recebidas por ele e sua família, o Ministro Luiz Edson Fachin avança um lance a mais na ampliação do Estado de Exceção. Quem está mais sujeito a ameaças? Ministros como Marco Aurélio, que se colocam contra a maré, ou Fachin, que faz o que a maioria vociferante quer?
No entanto, Marco Aurélio divulgou a informação sobre os mais de 2 mil telefonemas que recebeu, dos e-mails enviados e em nenhum momento se colocou como vítima. É bem provável que, entre os e-mails, houvesse uma ou outra ameaça de desequilibrado. Mas Marco Aurélio sabe da responsabilidade de um Ministro do Supremo, e evitou colocar lenha na fogueira.
Depois de derrotado na última votação do Supremo, Fachin se apresenta como o herói sem mácula e sem medo. Divulga as ameaças e garganteia: não tem medo de ameaças contra ele, mas apenas contra sua família.
Que tipo de ameaças, não se sabe. Pode ser algum desequilibrado de esquerda, pode ser uma armação de um MBL – que esta semana mesmo foi denunciado por armar operações para se vitimizar -, pode ser um e-mail isolado.
Em um momento em que a caravana de Lula recebe ameaças concretas, na forma de quatro balaços, que advogados críticos da Lava Jato têm suas residências invadidas, as declarações de Fachin permitem supor que o antigo advogado de movimentos de trabalhadores rurais, se prepara para a próxima etapa de sua vida política. Depois de vestir a capa do implacável, de recusar HC ao mesmo tipo de liderança rural que ele defendia antes, em ações que pavimentaram sua nomeação para o Supremo, presta-se agora ao papel de álibi para a ampliação do arbítrio.
É possível, sim, que tenha recebido ameaças isoladas. A jogada consistiu em dar divulgação e superdimensiona-las e montar o alarido. Em qualquer das hipóteses, Fachin está atuando como agente provocador.

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