Áudio revela quem é o líder ruralista que está tentando impedir a caravana de Lula pelo Rio Grande do Sul

Por Joaquim de Carvalho - no DCM - 21 de março de 2018

Sérgio Malgarin
DE SANTA MARIA, POR JOAQUIM DE CARVALHO, EM REPORTAGEM FINANCIADA PELOS LEITORES, ATRAVÉS DE PROJETO DE CROWDFUNDING.
Lula encerrou por volta das 21h30 o discurso que fez para moradores do bairro Nova Santa Marta, em Santa Maria, Rio Grande do Sul. Parecia bem humorado e lembrou quando esteve lá, na década de 90, quando a área era uma ocupação de movimento de trabalhadores sem teto. O bairro hoje está urbanizado, e uma da pioneiras, Elisa Pinheiro, conta como sua vida foi transformada.
“Cheguei aqui como uma doméstica que dormia e acordava com a preocupação do aluguel”, disse ela, que é presidente da associação dos moradores. Hoje, ela tem dois filhos na universidade, e já não vive do emprego doméstico.

“Minha vida se transformou. Dignidade, a gente sempre teve. Só que agora nós pudemos melhorar um pouquinho. Filho de pobre virou doutor. E eu falo isso com orgulho”, afirmou, enquanto Lula, do alto do caminhão de som, discursava.
Se Lula estava preocupado, não demonstrou.
Durante a tarde, deputados petistas procuraram o governo federal e o governo estadual para denunciar ameaças que a caravana vem sofrendo.
“São as mesmas pessoas, é uma milícia armada, que tem perseguido a caravana para nos ameaçar. Só que não vão nos amedrontar. O que queremos é que os governos estadual e federal saibam que a segurança de dois ex-presidentes — Lula e Dilma — é de responsabilidade deles”, disse Gleisi Hoffmann, presidente nacional do partido.
Enquanto Lula discursava, nos bastidores assessores e lideranças petistas discutiam duas notícias que chegavam de Brasília. Uma dava conta de que o ministro Marco Aurélio Mello, do STF, decidiu levantar uma questão de ordem na sessão desta quarta-feira, no Supremo Tribunal Federal, sobre a não inclusão, na pauta da corte, da ação que decide se é inconstitucional a prisão a partir da condenação em segunda instância.  O alvo da questão de ordem é Cármen Lúcia, presidente do STF.
A outra notícia é a de que a Rede Globo teria aumentado a pressão para que a presidente do Supremo Tribunal não paute a ação.
Por que a emissora estaria tão mobilizada em torno de um assunto que compete a um dos poderes da república? A Globo vem se empenhando na campanha para destruir a imagem de Lula há bastante tempo, e agir assim faria parte de sua estratégia. Mas a presidente do STF se curvar a essa pressão é estarrecedor.
Cármen Lúcia era assunto entre os aliados de Lula em Santa Maria, enquanto a segurança de Lula se ocupava também de outras questões.
Os responsáveis pela segurança de Lula receberam o áudio que uma manifestação de um ruralista em grupo de whatsapp. Um dos participantes do grupo vazou o áudio, em que um homem diz que pretende impedir a entrada de Lula em São Borja, marcada para esta quarta-feira.
O interlocutor cita o líder ruralista Sérgio Malgarin como organizador do protesto:
“Eu sugiro que hoje (terça-feira) a gente se reúna no Sindicato Rural, na medida em que as máquinas vão chegando e de lá a gente saia com uma posição firme sobre a questão amanhã, que é para onde nós vamos nos dirigir, nunca esquecendo que, para a gente trancar trevo e achar que vai trancar a entrada do Lula, nós temos que monitorar lá de Santa Maria a saída dele de lá, e seguir para ver, porque senão botam ele para dentro do carro e o carro entra, e nós estamos em todos os trevos, não tem ninguém aqui, e ele faz e acontece. Muita atenção para isso. E a ideia é, no centro da cidade, nós locarmos um carro de som, um trio elétrico da Cosmos Sonorizações, altamente potente, pedir para o Alemão fazer uma coisa forte, e fazer como fizemos em Bagé, não deixar ele falar”.
O áudio revela que o protesto contra Lula no Rio Grande do Sul é organizado pelo mesmo grupo. Não é numeroso, mas segue um padrão: ao mesmo tempo em que ameaçam a caravana, enaltecem Jair Bolsonaro, presente das bandeiras e camisetas dos manifestantes.
Sérgio Malgarin já foi secretário da Agricultura de São Borja e é produtor de vinho.
Em Santa Maria, um empresário que é dono de uma clínica médica e de um posto de gasolina cancelou o contrato que permitia a dois ônibus da caravana estacionar numa área que pertence a ele. Há algumas semanas, ele já tinha aceitado receber os veículos, mas mudou de ideia.

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