Tuiuti e blocos mostram que anestesia política está passando... Por Tereza Cruvinel

Mídia Ninja
.
por Tereza Cruvinel - no 247 - 12/02/2018

Quem rompeu o grito que estava parado no ar foi a Paraíso do Tuiuti,  ao levar para o sambódromo do Rio o presidente-vampiro, os manifestantes-fantoches a favor do golpe do impeachment, os paneleiros vestidos de verde-amarelo, a crítica aos retrocessos  e aquele formidável “Fora Temer” no final, acompanhado por boa parte das arquibancadas. Mas não apenas o desfile da escola de São Cristóvam, ao longo do carnaval, trouxe a indicação de que pode estar passando a longa anestesia política que tomou conta do Brasil desde o golpe de 2016.  Em Salvador,  o samba de Léo Santana, “Vai dar PT”, levantou a massa que seguia  o trio elétrico “Pipoco” no circuito Ondina.  Em Belo Horizonte, blocos entoaram  com frequência o “Olê, Olá, Lu-lá”.  Teve gente com cartaz pedindo uma “Operação Lava-Toga”, houve o levante da Mangueira contra o anti-sambismo do prefeito Crivella e não faltaram, até agora, Brasil afora, os gritos de Fora Temer. E na Rocinha, em tom nada carnavalesco,  ainda apareceu uma faixa: “Se prenderem Lula o morro vai descer”.

         Carnaval é uma coisa, participação política é outra, está claro. Mas começa bem o ano que decidirá o futuro do Brasil e de sua jovem democracia,  o ano da disputa entre a vontade popular e a vontade dos senhores que estão tentando controlar a eleição pela exclusão do candidato favorito.

         Em recente evento com artistas e intelectuais no Rio, Lula falou da anestesia que a mídia,  o discurso anti-política e a Lava-Jato conseguiram aplicar no povo brasileiro. Uma anestesia daquelas para longas cirurgias, comparou Lula.  Os gritos e imagens que vêm do Carnaval estão dizendo que ela pode estar passando. Que, encerrada a festa, ficará o inconformismo com as mazelas, passadas e contemporâneas, descritas pelo desfile da Tuiuti com o enredo “Meu Deus, meu Deus, está extinta a escravidão?”  Imagens fortíssimas falaram sobre a crueldade imposta aos milhões de africanos escravizados por mais de três séculos,  mas não ficaram nas correntes e açoites do passado. Chegaram ao golpe de 2016 com todos os seus retrocessos. Afinal, o trabalhador intermitente será quase um novo tipo de escravo, alguém que não sabe o quando vai trabalhar nem quanto vai ganhar no final do mês,  alguém que terá uma situação previdenciária precária e uma vida financeira absolutamente imprevisível.     

         Os gritos a favor de Lula e contra Temer sintetizam o momento. O golpe é Temer, e sua continuidade é a tentativa de inabilitar Lula.  A anestesia parece estar passando mas nem por isso serão prováveis grandes atos ou manifestações de massa.  Como parece claro há algum tempo, o brasileiro comum desistiu do ativismo político, decepcionou-se com as falsas primaveras de 2013 e 2015 e está se guardando para quando a eleição chegar.  Se Lula puder ser candidato, será eleito, e o povo terá vencido o golpe.  Se não puder, de todo modo a resposta será dada nas urnas. 

Comentários