Em nota, cientistas repudiam convocação de cientista: Carlini faz “apologia à vida”

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Da Redação do Viomundo - 23/02/2018 / com informações da Folha de S. Paulo
O dr. Elisaldo Carlini prestou depoimento quarta-feira na 16 DP, zona Sul de São Paulo, sob suspeita de fazer apologia ao uso de drogas.
imbroglio começou quando, ao promover na Unifesp o 5º Congresso Maconha – Outros Saberes, em maio do ano passado, ele convidou um líder religioso que está preso por tráfico, Geraldo Antônio Batista, o Ras, fundador da primeira igreja rastafari do Brasil.
Ras cumpre pena de 14 anos de prisão. Ras participou do evento tirando proveito do indulto do dia das Mães, ao lado de líderes religiosos de outras denominações.

Mas a Justiça havia negado a saída antecipada do preso para participar do evento, um pedido formalizado por Carlini — e a juíza Carla dos Santos Fullin Gomes, corregedora dos presídios da região de Campinas, provocou o Ministério Público a investigar o que foi considerado “apologia ao crime”.
O pedido para a investigação partiu da promotora Rosemary Azevedo Porcelli da Silva.
A Justiça ainda não decidiu se um inquérito será instaurado.
MANIFESTAÇÃO PÚBLICA
A Academia Brasileira de Ciências (ABC) e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) repudiam veementemente a intimação policial do Dr. Elisaldo Carlini para depor sobre suposta apologia às drogas.
Professor emérito da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), membro titular da ABC, diretor do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), primeiro representante da SBPC no Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas (Conad), condecorado pela Presidência da República e premiado internacionalmente, aos 88 anos o Dr. Carlini continua sendo o mais respeitado cientista brasileiro com atuação na área de drogas.
Já nos anos 1970 ele produziu pesquisas pioneiras que caracterizaram a ação anti-convulsivante da maconha, que apenas nos últimos anos começou a ser amplamente reconhecida no Brasil.
As descobertas do Dr. Carlini permitiram a formulação de remédios eficazes para tratar doenças como epilepsia e esclerose múltipla, hoje utilizados em diversos países.
Acusar o Dr. Carlini de apologia às drogas equivale a criminalizar a inteligência e o conhecimento técnico-científico.
Trata-se de uma provocação cruel e vazia contra um cientista que dedicou toda sua vida à fronteira do conhecimento.
Nas palavras de Bertolt Brecht, “há homens que lutam um dia e são bons, há outros que lutam um ano e são melhores, há os que lutam muitos anos e são muito bons. Mas há os que lutam toda a vida e estes são imprescindíveis”.
O Dr. Elisaldo Carlini é imprescindível e sua carreira é uma apologia à vida.
São Paulo e Rio de Janeiro, 23 de fevereiro de 2018
ILDEU DE CASTRO MOREIRA  e LUIZ DAVIDOVICH, presidentes da SBPC e da ABC
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