Joaquim de Carvalho: Pai e irmão de Zucolotto, amigo de Moro, também foram acusados de fraude à execução

Os Zucoloto e os Moro no show do Skank
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do DCM - 12/01/2018

Pai e irmão de Zucolotto, amigo de Moro, também foram acusados de fraude à execução

Por Joaquim de Carvalho

Na família Zucoloto, não é só Olga Kintschev, mãe do amigo de Sergio Moro Carlos Zucolotto Júnior, quem teve problema com a Receita Federal.
Ela foi acusada pela Procuradoria da Fazenda Nacional de fraude à execução de um débito tributário relativo a um posto de combustível, com a alienação de um apartamento que estava penhorado.
Um desembargador do Tribunal Regional Federal da 4a. Região entendeu que, embora tivesse transferido o imóvel para o filho, Carlos Zucolotto Júnior, o apartamento continuava registrado em nome dela no cartório. Como morava no imóvel, era bem de família e, portanto, impenhorável.
Quatro anos antes, o marido dela, Carlos Zucoloto, pai de Zucolotto (curioso que o nome do filho amigo de Moro é o único da família com dois tês) e outro filho, Marco Wesley Kintschev Zucoloto, também foram alvo de execução, juntamente com a empresa Fornecedora Catarinense Ltda.
Justiça penhorou um apartamento, mas ele não pôde ser executado, pois, a exemplo do que fez Olga, Carlos Zucoloto pai também alienou o imóvel depois de citado da penhora.
A Procuradoria da Fazenda Nacional o denunciou por fraude à execução fiscal, mas a Justiça entendeu que não era o caso.
A Fazenda Nacional recorreu, e o desembargador Otávio Roberto Pamplona confirmou a decisão. Embora impenhorável, o apartamento podia ser alienado, como de fato ocorreu. Como ele continuou morando no imóvel, não podia haver execução – era bem de família.
A ligação de Zucoloto com Moro é antiga e muito próxima.
Em dezembro de 2016, fiz uma reportagem sobre o restaurante Paraguassu Grelhados, onde Moro se encontrou com o cantor Fagner para beber na companhia de amigos, depois de ser homenageado por ele.
Na época, entrevistei o dono do restaurante, João Luiz Zucoloto, que se apresentou como amigo do juiz, participante de seu grupo de churrasco.
Ele contou que a amizade da família começou através de César, irmão mais velho do juiz, e Carlos Zucolotto Júnior. Os dois estudaram juntos em Maringá.
Foi César quem apresentou Carlos Zucolotto Júnior a Moro, e os dois ficaram tão próximos que o magistrado, quando se casou com Rosângela, o convidou para ser padrinho.
Na entrevista, João e a mulher, Néia, contaram que tinham estado com Moro alguns dias antes, para um churrasco, em que Moro, como de hábito, fumou um charuto.
E teria reclamado da agenda apertada daqueles dias, com palestras e homenagens no Brasil e no exterior — foi nessa época que, homenageado pela revista Istoé, se deixou fotografar na conversa ao pé do ouvido com Aécio Neves.
A proximidade das famílias Zucoloto e Moro é confirmada pela rede social de João, o dono do Paraguassu.
Eles (João, Carlos e esposas) estiveram juntos no show do Skank em Curitiva.
João publicou fotos em que todos do grupo aparecem se divertindo, enquanto Moro permanece de cabeça abaixada, com boné do New York Yankees, mexendo no celular.
João, esposa, Carlos, esposa, e Moro no celular
João Luiz tomou as dores do juiz pelo menos duas vezes. Quando a Folha de S. Paulo publicou uma notícia que poderia ser considerada negativa ao juiz, ele pregou boicote ao jornal, que ele chamou de “jornaleco”.
Depois investiu contra a chef argentina Paola Corosella, radicada no Brasil, quando ela perguntou ao juiz Sergio Moro, através do Twitter, se punir só um lado não atrapalha o combate à corrupção.
“Mais uma que poderia ter ficado de boca fechada. Mas foi bom que ela criticou o juiz Sérgio Moro, pois deixou bem claro de que lado ela está. Volta pro teu país Paola, vai dar seus pitacos por lá, aliás, a Argentina está uma M, precisa muito de você por lá. Agora que não assistirei mesmo o programa que ela faz na Band”, escreveu.
Na pré-estréia do filme sobre a Lava Jato, estava lá, juntamente com o irmão, Carlos, e fez alguns selfies.
A amizade de Moro com a família Zucoloto é uma questão privada que só ganhou relevância e despertou interesse público a partir do depoimento do advogado Rodrigo Tacla Durán, que prestou serviços para a Odebrecht e é processado na Vara de Moro por lavagem de dinheiro.
Durán demonstrou que o escritório dele em São Paulo contratou o escritório de Carlos Zucolotto Júnior, em Curitiba, para serviços advocatícios.
Rosângela era do escritório de Moro — pelo menos aparecia no site como advogada do escritório.
Em tese, isso poderia levar Moro a se declarar suspeito.
Mas ele nunca cogitou esta hipótese e defendeu Zucolotto quando Tacla Durán contou que manteve tratativas com o amigo de Moro para obter facilidades em acordo de delação premiada com a Lava Jato.
Tacla Durán mostrou cópias periciadas da conversa com Zucolotto através do aplicativo Wickr e a cópia do e-mail enviado pelos procuradores da Lava Jato com os termos negociados com o amigo de Moro.
As conversas revelam que, para concretizar o serviço, Zucolotto queria receber 1,5 milhão de dólares. Por fora. 
Tacla Durán não aceitou e, primeiro, vazou o conteúdo da conversa, mais tarde confirmou a denúncia à CPI da JBS, que terminou sem que os deputados ouvissem os promotores e Zucolotto.
Permanece o mistério.
Para quem divulga com estardalhaço na rede social a amizade com o magistrado, a família Zucoloto deveria ser mais cuidadosa com os negócios.
Acusações de fraude à execução fiscal não pegam bem, ainda que tenham sido rejeitadas na Justiça federal do Paraná. Muito menos denúncias de corrupção para interferir em acordos de delação premiada.
Moro explorou a imagem de santo, herói, xerife, incorruptível. Não combina com a imagem que emerge da família Zucoloto.

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