Irã: Agentes de ‘mudança de regime’ sequestram protestos
Da série: “Todos os golpes são a mesma CIA-Israel”
29/12/2017, Moon of Alabama
Ontem e hoje houve pequenos protestos no Irã. Tudo sugere que sejam o primeiro estágio de uma grande operação de golpe para “mudança de regime” comandada por EUA e Israel com a ajuda de um grupo de terroristas iranianos.
Antes, no início desse mês, a Casa Branca e os sionistas preparavam-se para mais um assalto ao Irã:
Uma delegação chefiada pelo Conselheiro de Segurança Nacional de Israel reuniu-se com altas autoridades dos EUA na Casa Branca no início desse mês, para discussão conjunta sobre estratégia para fazer frente à agressão do Irã no Oriente Médio – como alto funcionário dos EUA confirmou ao jornal Haaretz.
O que houve na sequência é resultado, provavelmente, da reunião acima referida:
Centenas de manifestantes tomaram as ruas da segunda maior cidade do Irã, Mashad, na 5ª-feira, para protestar contra a carestia, gritando slogans contra o governo.
Vídeos postados nas mídias sociais mostraram manifestantes em Mashad, noroeste do Irã, um dos locais sagrados para o Islã Xiita, aos gritos de “morte ao (presidente Hassan) Rouhani” e “morte ao ditador”.
A agência semioficial de notícias ILNA e as mídias sociais noticiaram manifestações também em outras cidades na província Razavi Khorasan, incluindo Neyshabour e Kashmar.
Um vídeo daquele protesto em Mashad mostrava não mais de 50 pessoas cantando slogans, com mais gente assistindo e andando na praça, do que gente participando.
São muito justificados os protestos contra as políticas econômicas neoliberais do governo Rohani no Irã. O desemprego oficial no Irã está acima de 12%, e o crescimento econômico é praticamente zero. A rua iraniana não é a única força que está insatisfeita com tudo isso:
O Líder Supremo do Irã, Aiatolá Ali Khamenei, que repetidas vezes criticou os resultados econômicos do governo, disse na 4ª-feira que a nação luta contra “preços altos, inflação e recessão”, e conclamou os funcionários a encarar com determinação esses graves problemas.
Na 5ª-feira e hoje, os slogans de alguns manifestantes mudaram, de clamor por alívio na economia, para clamor por mudança de regime.
Meu instinto diz que os suspeitos de sempre estão por trás desses protestos. Vejam que começaram em várias cidades no mesmo momento. Não é agitação local espontânea numa só cidade: claramente os movimentos são coordenados.
E há também o seguinte:
Carl Bildt @carlbildt – 9:38 PM – 28 Dec 2017 de Roma, Lazio
Circulam notícias de que caíram os sinais de redes internacionais de TV por satélite nas maiores cidades do Irã. Suspeita-se de ação do governo iraniano, com medo de que as manifestações de hoje se espalhem.
Busca detalhada em vários idiomas não localizou nenhuma dessas ‘notícias’. Carl Bildt é um ex-primeiro-ministro sueco, recrutado pela CIA em 1973 como informante. Desde então prosperou e já é ativo agente dos EUA operante em tempo integral. Esteve envolvido no golpe da Ucrânia e tentou extrair algum lucro pessoal naquela ‘ação.
A única resposta ao tuíto de Bildt veio de um Riyad Swed – @SwedRiyad que postou vários vídeos dos protestos, um deles mostrando carros de Polícia em chamas.
Não tenho certeza de que o vídeo seja autêntico. A conta tem algumas características esquisitas (ativa desde setembro de 2016, 655 tuítos, mas só 32 seguidores?).
Ontem mesmo, uma das conferências no Congresso de hackers do Chaos Computer Club, CCC,[1] foi sobre o Serviço Secreto do Government Communications Headquarters, GCHQ [Quartel-general das Comunicações] britânico, e suas muitas contas fantasmas [ing. sock-puppet accounts em Twitter e Facebook. São contas usadas para obter humint [ing. human inteligence, “informação obtida de fonte humana] e para coordenar operações de “mudança de regime”. Nos slides das páginas 14-18 (11’20”) cita papéis obtidos do GCHQque listam o Irã como um dos alvos. O conferencista fala especificamente de uma conta do GCHQ “@2009Iranfree”, que foi usada para provocar protestos de rua no Irã, depois da reeleição do então presidente Ahmedinejad.
Hoje [29/12], 6ª-feira é dia de descanso no Irã, e houve vários protestos mais em outras cidades. Matéria da Reuters de hoje:
Cerca de 300 manifestantes reuniram-se em Kermanshah depois do que a agência Fars descreveu como “um chamamento anti-revolução”, gritando que “prisioneiros políticos devem ser libertados” e “Liberdade ou morte”, ao mesmo tempo em que destruíam bens públicos. A agência Fars não citou nomes de grupos de oposição.
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Cenas filmadas, cuja autenticidade não pôde ser confirmada, mostram protestos também em outras cidades dentre as quais Sari e Rasht no norte, Qom ao sul de Teerã, e Hamadan no oeste do país.
Mohsen Nasj Hamadani, vice-chefe da segurança na província de Teerã, disse que cerca de 50 pessoas reuniram-se numa praça em Teerã, e a maioria dispersou sob ordens da Polícia, mas alguns que se recusaram a sair foram “temporariamente detidos” – informou a agência ILNA de notícias.
Alguns desses protestos têm explicações econômicas genuínas, mas acabaram sequestrados por outros interesses:
Na cidade central de Isfahan, um morador disse que os manifestantes uniram-se a um comício organizado por trabalhadores fabris que exigiam pagamento de salários atrasados.
“Os slogans rapidamente mudaram, de temas econômicos, para gritos contra [o presidente Hassan] Rouhani e o Supremo Líder [Aiatolá Ali Khamenei),” disse o morador por telefone.
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Protestos puramente políticos são raros no Irã […] mas há frequentes manifestações de trabalhadores por causa de demissões ou salários atrasados, e de pessoas com dinheiro depositado em instituições não regulamentadas e bancos quebrados.
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Alamolhoda, representante do Aiatolá Khamenei em Mashhad, no nordeste, disse que umas poucas pessoas aproveitaram-se dos protestos da 5ª-feira contra o aumento do custo de vida, e puseram-se a gritar slogans contra o papel do Irã em conflitos regionais.
“Algumas pessoas reuniram-se para manifestar suas demandas, mas de repente, numa multidão de centenas, um pequeno grupo de não mais de 50 pessoas puseram-se a gritar coisas horríveis como “Esqueçam a Palestina”, “Nem Gaza nem o Líbano! Minha vida, só pelo Irã” – relatou Alamolhoda.
Dois vídeos postados pela BBC Persa e outras que vi mostram só pequenos grupos de protestos, de uma dúzia de pessoas, com gente em torno assistindo ou filmando as pessoas que gritam slogans.
Vídeos publicados pelo grupo terrorista Mujahedin-e Khalq [MEK] (1, 2, 3, 4, 5), também mostram só pequenos protestos, apesar de o MEK falar de dezenas de milhares de pessoas que gritam “morte ao ditador”. O MEK, ou sua organização “civil”, chamada Conselho Nacional de Resistência do Irã, parece estar muito envolvido nos atuais protestos. O website do grupo está atualmente cheio de matérias sobre os protestos: um total de dez matérias, e o comando lançou declaração de apoio aos ‘manifestantes’:
Mrs. Maryam Rajavi, presidenta eleita da Resistência Iraniana, saudou o heroico povo de Kermanshah e outras cidades que se levantaram hoje cantando “liberdade ou morte”, “morte a Rouhani”, “morte ao ditador”, e “libertem os prisioneiros políticos”, e protestaram contra a carestia, a miséria e a corrupção.
A presidenta disse “Ontem Mashhad, hoje Kermanshah, e amanhã por todo o Irã; esse levante está cobrando o que nos devem, até a derrubada da ditadura totalmente corrompida dos mulás, e é o levante da democracia, da justiça e da soberania do povo.
Esse manifesto ‘precoce’ do MEK – a matéria estava nos jornais ontem (28/12) às 10h26 – é extremamente suspeito.
Em 2012 foi noticiado que Israel havia usado a organização terrorista MEK para assassinar cientistas nucleares no Irã:
Na 5ª-feira, funcionários do governo dos EUA falando ao canal de notícias NBC disseram que agentes do Mossad estavam treinando membros do grupo dissidente de terroristas Mujahedin do Povo do Irã, para assassinarem cientistas nucleares iranianos, acrescentando que o governo do presidente Barack Obama sabia da operação, mas não tinha qualquer laço direto com aqueles agentes.
Funcionários dos EUA teriam confirmado aos jornalistas a conexão entre Israel e os Mujahedin do Povo do Irã (MEK). Um dos oficiais teria dito que “todas as suas suposições estão corretas”.
Em outubro, documento do CATO Institute analisou (e rejeitou) várias sugestões de como os EUA deveriam lidar com o Irã. No item “Opção 3: Mudança de Regime de dentro para fora” o documento dizia:
Nessa abordagem, os EUA pressionariam o regime iraniano e simultaneamente apoiariam grupos que fazem oposição – dentre outros, o Conselho Nacional de Resistência do Irã, de extremistas exilados [ing. National Council of Resistance of Irã] NCRI), facções democráticas da Revolução Verde, ou minorias étnicas dentro do Irã – estratégia que defensores costumam comparar ao apoio de Reagan a grupos da sociedade civil na União Soviética.
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Propositor da “democratização coercitiva” [ing. “coerced democratization”], Mark Dubowitz, da Fundação para a Defesa das Democracias, conclamou o presidente Trump a “avançar na ofensiva contra o regime iraniano” (…) “enfraquecendo as finanças do regime” mediante “sanções econômicas massivas”, ao mesmo tempo em que “mina o poder dos governantes iranianos fortalecendo as forças pró-democracia” dentro do Irã. Essa opção parece estar ganhando tração na revisão que o governo Trump está fazendo na política dos EUA para o Irã, e já recebeu apoio público de Tillerson. Enquanto esteve no Congresso, o atual diretor da CIA Mike Pompeo também trabalhou a favor dessa abordagem.
O grupo MEK/NCRI observou que o senador Tom Cotton, que provavelmente substituirá o atual chefe da CIA Pompeo, quando Pompeo passar para o Departamento de Estado, emitiu declaração de apoio aos manifestantes.
Casa Branca e governo de Netanyahu já definiram uma estratégia comum contra o Irã. Altos membros do governo Trump está a favor de uma “mudança de regime” imposta por “forças pró-democracia” no Irã. Poucas semanas depois de ser firmado um acordo, começam no Irão protestos coordenados, que são rapidamente sequestrados por agentes muito ativos de mais um golpe para ‘mudança de regime’. Um grupo de terroristas iranianos exilados, bem conhecidos por sua colaboração mortal com espiões israelenses, e também por manter células operacionais dentro do Irã, mostra altamente engajado nos ‘protestos’, desde o primeiro dia.
Se se trata da operação para “mudança de regime” que suspeito que seja, os protestos rapidamente se alastrarão. Quando o povo vive em dificuldades, quaisquer poucos milhares de dólares bastam para criar multidões de ‘indignados’. Pequenos grupos especialistas cuidarão de causar agitação e tumultos, escondidos na massa de pessoas realmente desesperadas e realmente tentando fazer ouvir a própria voz. É o que basta.
O ‘jornalismo’ ‘ocidental’ abraçará a causa com seu falso humanismo falso progressista e cuidará de converter a enganação em ‘notícia’ e em ‘boa ética’. Quando a polícia iraniana prender os baderneiros profissionais, os ‘jornalistas’ ‘denunciarão’ a “brutalidade”. Nada mais fácil para esse tipo de profissionais que produzir um mártir e convertê-lo em ícone. Mais alguns casos de censura e supressão de direitos serão rapidamente ‘noticiados’ (videCarl Bildt, acima), surgirão notícias forjadas [ing. fake news] vindas de todos os ‘veículos’ e centenas de perfis falsos distribuídos pelas empresas Twitter e Facebook virarão repentinamente “iranianos” e denunciarão a violência contra a democracia “diretamente do local” nos gabinetes e computadores em Langley, até perderem o fôlego.
Para a polícia e os políticos iranianos a questão é sensível. Protestos contra as dificuldades da vida, por causa da economia são evidentemente muito justos, e até Khamenei já manifestou apoio às reivindicações. Mas a agitação de rua tem de ser contida antes de escalar e ficar incontrolável. Rapidamente aparecerão armas entre os manifestantes, atirando a esmo. Nem o Mossad nem o MEK têm qualquer pudor, quando se trata de matar gente a quilo.
Mas a República Islâmica tem apoio genuíno em grandes partes da sociedade. Há grandes organizações civis que apoiam o governo – não em tudo e cegamente, mas nas grandes linhas. Muitos iranianos são nacionalistas orgulhosos e não será fácil dividi-los. Se se trata mesmo, como suspeito, de atentado para “mudança de regime”, antevejo que será (mais um) fracasso.
[1] Sobre o Chaos Computer Club, CCC [Coletivo Caos], ver “30 anos de hacking político: entrevista com Andy Müller-Maguhn”, 14/11/2011, em Redecastorphoto [NTs].
Traduzido por Vila Vudu
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