Lula: 'Fome está voltando no Brasil por irresponsabilidade dos golpistas'
FATOS E RUMOS
Em entrevista exclusiva ao Brasil de Fato, o ex-presidente fala sobre as consequência para o país do golpe, cuja chegada de Michel Temer ao poder foi só o começo
por Beatriz Pasqualino - na Rede Brasil Atual - publicado 02/12/2017
Em entrevista exclusiva ao Brasil de Fato, o ex-presidente fala sobre as consequência para o país do golpe, cuja chegada de Michel Temer ao poder foi só o começo
por Beatriz Pasqualino - na Rede Brasil Atual - publicado 02/12/2017
RICARDO STUCKERT
Ex-presidente Lula se prepara para nova caravana pelo interior do país, agora do Espírito Santo ao Rio de Janeiro
Brasil de Fato – Fome, desemprego e perda de direitos históricos. Esses são alguns exemplos do impacto do golpe na vida dos brasileiros, na avaliação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em entrevista exclusiva ao Brasil de Fato. Para reverter esse cenário, Lula afirma que vai convocar um referendo revogatório, caso se candidate e seja eleito em 2018. Sobre as eleições presidenciais, ele dispara: “Eu não precisava ser candidato a presidente. Eu já fui, já fui bem sucedido. Mas eles cutucaram a onça com vara curta e a onça vai brigar“. Na entrevista, Lula volta a denunciar o papel da Rede Globo na perseguição política contra ele, em aliança com o Poder Judiciário, Ministério Público e Polícia Federal.
O ex-presidente afirma ainda que a Reforma da Previdência “é contra o trabalhador, contra o pobre“. E a respeito da questão agrária, Lula destaca o papel preponderante do agricultor familiar – e não do agronegócio – na produção da maior parte do alimento que chega à mesa dos brasileiros.
Nesta segunda-feira (4), o ex-presidente inicia sua terceira caravana pelo país – já cruzou nove estados do Nordeste e também Minas Gerais. Desta vez, ele percorrerá o Espírito Santo e o Rio de Janeiro de ônibus.
Confira abaixo a entrevista, em texto e vídeo, que contou também com perguntas colhidas pela equipe de reportagem do Brasil de Fato nas ruas do país.
O senhor tirou esta metade do ano para colocar o pé na estrada. Já foi para o Nordeste, com a caravana, para Minas Gerais e agora dia 4/12 segue para o Espírito Santo e Rio de Janeiro. O que essa experiência tem te ensinado sobre o Brasil e os brasileiros de hoje?
Eu descobri na campanha de 1989 que não é possível você governar este país para todos os brasileiros e brasileiras se você não conhecer as entranhas dele. Porque, normalmente, quando você é candidato, você vai de capital em capital, de palanque em palanque, do aeroporto para outro aeroporto.
Você desce de um carro, sobe em um palanque, faz um discurso, nem cumprimenta o povo, entra no carro, volta para o aeroporto… Em 1989, eu descobri, que seu quisesse governar o Brasil, efetivamente para os brasileiros, eu teria que conhecer o Brasil. Por isso que, em 1992, eu comecei a fazer as caravanas.
A primeira que eu fiz, eu refiz a viagem que eu tinha feito em 1952, de Pernambuco a São Paulo. Fiz de ônibus essa viagem. Depois eu viajei a Amazônia, o Sudeste, o Norte, o Sul, viajei o Centro-Oeste. Foram praticamente 91 mil quilômetros de estrada, de barco, de trem, conversando com mais de 600 comunidades no Brasil, para a gente aprender como vive o quilombola, o sem-terra no acampamento, os índios brasileiros, as catadoras de coco babaçu. Porque uma coisa é você ler uma história em um livro, outra coisa é você estar diante da pessoa, com os seus problemas, sua realidade, te relatando a vida dela.
E por que que eu, depois que governei o Brasil, voltei a fazer essas viagens? É porque grande parte das políticas públicas que eu coloquei em prática quando estive na Presidência da República foram oriundas do aprendizado que eu tive na caravana.
E agora eu voltei para ver duas coisas: como está o Brasil de hoje, quais as políticas públicas que tiveram efetivamente sustentabilidade; e como está a vida do povo hoje.
E ainda tenho que visitar o Sul do país, o Norte do país. Estou pensando em fazer uma viagem pelo Amapá, Roraima, Amazonas, Pará, Acre. Depois eu quero pegar o Mato Grosso, Goiás, Maranhão, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e o Paraná, para completar o Brasil inteiro e ter uma fotografia.
Ou seja, se vai ter a campanha de 2018 e se o PT entender que eu deva ser o candidato, quero ser candidato com a fotografia muito viva e atualizada das aspirações e da esperança do povo brasileiro.
E até agora, essa fotografia tem o quê?
Essa fotografia às vezes me alegra e às vezes me entristece. Ela me alegra porque, em muitos lugares, as pessoas têm a clareza absoluta da evolução da vida delas. Quando você chega numa comunidade agrícola, as pessoas lembram da quantidade de financiamento do Pronaf [Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar], do Programa Luz para Todos, do PAA [Programa de Aquisição de Alimentos]. As pessoas têm noção de que as coisas melhoraram.
Agora, quando você chega num centro urbano, você começa a perceber que, embora as pessoas lembrem da evolução no salário mínimo, do Bolsa Família, do ProUni [Programa Universidade para Todos], dos institutos federais de educação, elas também começam a se queixar de que a pobreza está voltando.
Ou seja, o desemprego aumentou, a massa salarial tem caído, o brasileiro não tem mais recebido aumento acima da inflação. Ele percebe que as pessoas estão já voltando a pedir esmola nas ruas, tem aumentado o número de pessoas dormindo nas praças públicas.
Então, essa é uma tristeza que eu tenho. Nós tínhamos tirado o Brasil do Mapa da Fome, segundo os dados da ONU (Organizações das Nações Unidas) do começo deste ano. E estamos percebendo que a fome está voltando no Brasil por irresponsabilidade das pessoas que deram o golpe neste país.
Essa é a fotografia que eu tenho agora. Mas ao mesmo tempo, eu tenho também a certeza de que este povo é capaz de dar a volta por cima. Ele não pode perder a esperança, tem que continuar acreditando. Este Brasil é muito grande e pode melhorar a vida das pessoas na hora que elas tiverem um governo que conheça a vida delas e esteja preocupado com as pessoas.
(Assista a íntegra da entrevista:)
PERGUNTA DAS RUAS | Ana Carolina Teixeira, estudante de Jornalismo (São Paulo/SP): Por que você vai se candidatar sendo que há tantas denúncias contra você?
Eu vou me candidatar porque o fato de ter denúncia não quer dizer nada. No Brasil toda vez que alguém é candidato, sempre aparece uma enxovalhada de denúncias contra as pessoas, seja no campo da política, da economia. E eu já provei a minha inocência em todos estes processos que eu estou sendo acusado. E estou na expectativa de que eles consigam provar para a sociedade algum desvio de conduta do Lula, ou na Presidência ou depois dela.
Eu fui acusado de ter um apartamento triplex em uma praia, aqui na cidade de Santos, em São Paulo. Cansei de dizer que o apartamento não era meu, mas eles teimaram que o apartamento era meu. Nós provamos que não é possível você ter um apartamento que você não tenha documento, não tenha escritura, que você não pagou, não comprou, que você não tenha nada.
Mas eles teimaram em dizer, porque eles não precisam de prova, eles precisam apenas ter convicção. Depois, o [juiz Sérgio] Moro me condenou a nove anos e seis meses de cadeia e ainda me obrigou a devolver R$ 10 milhões.
O que é engraçado é que quando nós entramos com o recurso, o Moro diz, na defesa dele, que ele não disse que o apartamento era meu, ele não disse que tinha dinheiro da Petrobras. Mas mesmo assim ele manteve a condenação. Por quê?
Porque eu acho que tanto o juiz Moro, quanto o Ministério Público, quanto a Polícia Federal estão refém neste momento, de uma política que eles adotaram de condenar as pessoas pela mídia. Ou seja, “primeiro eu quero condenar as pessoas politicamente. Eu conto uma mentira e a mídia vai divulgar aquela mentira como se fosse verdade“. E nem todo mundo aguenta quatro ou cinco manchetes de jornais, do Jornal Nacional. As pessoas ficam debilitadas, fragilizadas. Alguns se matam, como o reitor de Santa Catarina.
Eu tenho que aproveitar tudo que eu construí na vida para poder não só provar a minha inocência, mas para provar que eles estão mentindo, que não estão se comportando de forma adequada.
Porque um juiz não tem que ficar dando importância para o Jornal Nacional. Ele tem que dar importância para os autos do processo, para as provas das pessoas que vão depor. Eu levei 83 testemunhas para depor a meu favor. O acusador não compareceu nenhuma vez, que é o senhor [procurador Deltan] Dallagnol. Não levaram nenhuma testemunha de acusação. E depois o cara me condena sem nenhuma responsabilidade?
São sempre desagradáveis essas denúncias. É sempre desagradável você aparecer na imprensa, sendo acusado. Mas eu tenho que ter a sabedoria de, graças ao status que o povo brasileiro me deu, de ter sido um presidente muito reconhecido, aproveitar para me defender e servir de exemplo para outras pessoas.
Ou seja, se tem político que roubou e está com medo, é problema do político que roubou e está com medo. Se tem gente que roubou e está com o dinheiro, essa pessoa tem que ir presa mesmo. Agora eles têm que aproveitar e absolver os inocentes.
Você veja que eu sou pego de surpresa às seis horas da manhã lá em casa, com um monte de Polícia Federal. Eles foram na minha casa, na casa dos meus quatro filhos, invadiram a casa de todo mundo, cada um com a máquina fotográfica pendurada no pescoço. Não encontraram nem dinheiro, nem jóia.
Eles poderiam ter tido a sensibilidade de pedir desculpas à opinião pública, de dizer ao povo que não encontraram nada. Levantaram até o colchão da minha cama. Tiraram a tampa do exaustor do fogão. Acho que pensaram que eu tinha ouro lá dentro escondido. Abriram meus televisores achando que eu tinha ouro dentro da televisão.
Ao não encontrar nada eles deveriam ter tido vergonha na cara e ter pedido desculpas à sociedade brasileira. Eles não fizeram isso. Saíram quietinho e deixaram as manchetes falar, porque na verdade o grande juiz hoje, no meu caso é o “Jornal Nacional“, a Rede Globo de Televisão.
Se dependesse da Globo, são mais de 30 horas de “Jornal Nacional“ me condenando. E eu quero viver para ver a dona Globo me pedir desculpas no ar. Por isso que eu, embora fique ofendido, fique chateado, isso me dá um ânimo e uma disposição de brigar muito grande.
E eu vou ser candidato por isso, é a chance que eu tenho também de me defender.
E como enfrentar a Globo em 2018, na campanha eleitoral, se ela tem todo esse poder?
Nós já ganhamos da Globo em 2002, 2006, 2010, 2014. Portanto, não é difícil ganhar. Ela faz estrago, obviamente. A Globo escolhe candidato, e eu nunca fui o candidato dela. A Globo apoia qualquer um contra mim. Agora ela está atrás de um candidato.
Eu estou esperando, porque a única coisa que eu tenho na vida de precioso é a minha honra. Foi o compromisso que eu assumi com o povo brasileiro e não vou permitir que a elite brasileira, através de manipulação dos meios de comunicação, de juízes e promotores subordinados aos interesses da elite brasileira, tentem me colocar no mesmo saco dos políticos corruptos que eles conhecem. Eu só tenho um aliado, neste momento do Brasil, que é o povo brasileiro. Por isso a minha tranquilidade e disposição.
Se o objetivo deles é tentar não deixar eu ser candidato, vamos brigar para ver. Eu vou estar na disputa até que eles tenham coragem de cometer a barbárie de sangrar mais uma vez a democracia brasileira. Porque já sangraram com o impeachment da Dilma.
Eu nasci para brigar. Eu não precisava ser candidato a presidente. Eu já fui, já fui bem sucedido. Mas eles cutucaram a onça com vara curta e a onça vai brigar.
PERGUNTA DAS RUAS | José Mauro (ambulante, Rio de Janeiro/RJ): Hoje sabemos que no Brasil temos 14 milhões de desempregados. Caso o senhor seja eleito, quais medidas o seu governo tomará de imediato para o Brasil voltar ao ciclo de crescimento e geração de emprego?
Só é possível dizer ao povo brasileiro que a gente vai voltar a gerar emprego, se a gente primeiro tiver o compromisso de dizer que a economia brasileira vai voltar a crescer. E eu falo isso de cátedra, porque tive o prazer a satisfação, por conta do apoio que eu tive do povo brasileiro, de junto com a Dilma, de 2003 a 2014, a gente criar mais de 20 milhões de empregos neste país com carteira profissional assinada.
É por isso que a gente conseguiu aumentar o salário mínimo durante 12 anos seguidos. É por isso que todos os trabalhadores que trabalhavam de forma organizada tiveram aumento de salário acima da inflação. É por isso que nós conseguimos tirar 36 milhões da miséria e fazer com que 40 milhões de pessoas fossem a um padrão de consumo de classe média. É por isso que nós tivemos o maior programa habitacional do país.
No Rio de Janeiro, a gente tinha as pessoas de várias comunidade trabalhando em obras do PAC [Programa de Aceleração do Crescimento], porque a gente exigia que as empresas contratassem essas pessoas. É por isso que a gente queria recuperar a indústria naval do Rio de Janeiro, que em 2002, quando eu fui candidato, tinha apenas 2 mil trabalhadores, chegou a ter 86 mil trabalhadores o ano passado.
Eles estão desmontando a indústria naval brasileira, como estão desmontando a indústria de óleo e gás, no Rio de Janeiro. Estão vendendo aquilo que para nós era o passaporte do futuro: o pré-sal, que a gente queria para recuperar o prejuízo de investimento na educação que não foi feito no século 20 neste país.
Vamos fazer a economia brasileira voltar a crescer. E para isso, nós precisamos fortalecer o mercado interno de um país que tem 207 milhões de pessoas. Se você combinar o fortalecimento do mercado interno, uma política de incentivo ao desenvolvimento de infraestrutura com a política de aumento do financiamento para o povo pobre deste país, para o povo trabalhador, na hora que o povo tiver o mínimo de dinheiro, que ele for ao supermercado, ao shopping, que ele for comprar um caderno, uma camisa, um lápis, um chinelo, a economia brasileira começa a funcionar. E quando a economia brasileira começa a funcionar de baixo, ela vai ajudar o crescimento econômico.
Quando eu deixei a Presidência, a gente estava crescendo 7% ao ano. O comércio varejista estava crescendo acima de 12%. Ou seja, a verdade é que este país viveu um momento auspicioso na sua história econômica e eu tenho orgulho de fazer parte disso, porque vocês ajudar a fazer. Agora nós temos gente tentando ajudar a destruir.
Quando todo mundo tiver acesso a um pouquinho de dinheiro, a economia deste país volta a funcionar. Do jeito que eles estão fazendo agora, com milhões de pessoas desempregadas, com quem é mais rico ficando cada vez mais rico, vendendo nosso pré-sal para os chineses e americanos, não vai dar certo.
Tenho muita esperança que o Rio de Janeiro não vai ficar do jeito que está. Ele não pode pagar o pato pelo desacerto na economia, não tem o direito de estar sofrendo como está sofrendo hoje, nem salário recebe do poder público. Obviamente que a gente não esperava que as pessoas que o governassem estivessem roubando tanto. Mas eu sonho com a volta do crescimento econômico e com a possibilidade de você ter um emprego decente, com carteira assinada, apesar de a reforma trabalhista, estar dificultando isso.
PERGUNTA DAS RUAS | Lisian Jardim dos Santos (Assentamento Novo Rumo, em São Gabriel/RS): No seu próximo governo, poderemos contar com políticas públicas que fortaleçam a produção de alimentos saudáveis, com melhorias na geração de renda das famílias assentadas?
PERGUNTA DAS RUAS | Geraldo Zantarias (João Câmara, Rio Grande do Norte): O senhor falou em 2002, quando candidato, que resolveria o problema da Reforma Agrária com uma canetada. O que houve com sua caneta, que não solucionou? E agora, se vencer em 2018, o que fará pela Reforma Agrária?
Vamos aos fatos e vamos aos dados. Entre 2003 e 2014, mais notadamente de 2003 a 2010, eu disponibilizei para a Reforma Agrária mais de 47 milhões de hectares de terras. No governo da Dilma, acho que foram 2,8 milhões hectares. Foi menos, eu não sei por que. Ou seja, nós chegamos a 51 milhões de hectares disponibilizados para a Reforma Agrária.
Você sabe o que significa isso? Isso significa 52% de toda a terra desapropriada no Brasil em 500 anos para efeito de Reforma Agrária. Fizemos tudo? Não, falta fazer. Mas uma coisa tão importante quanto você desapropriar terra é você fazer com que a terra que já está na mão do agricultor se torne produtiva. E para ela se tornar produtiva, nós tivemos que fazer o quê? Aumentar muito o dinheiro de financiamento da agricultura familiar.
Nós criamos o Programa Mais Alimentos para financiar máquinas em 2008 e poder tornar o campo mais produtivo, para enfrentar a crise de alimentos que se apresentava no mundo. E nós financiamos quase 80 mil tratores de 80 cavalos para ajudar o pequeno produtor, além de implementos agrícolas.
Você lembra do programa PAA [Programa de Aquisição de Alimentos], que era o programa para comprar alimento? Você lembra que nós saímos de R$ 2,5 bilhões do Pronaf [Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar], em 2003, para R$ 30 bilhões no último ano da Dilma?
O avanço espetacular que teve o desenvolvimento na agricultura familiar é motivo de orgulho para o Brasil aqui e para o mundo inteiro. E isso tem que continuar acontecendo. Sobretudo agora, que o mercado consumidor está cada vez mais exigente, cada vez mais querendo produto orgânico, mais saudável.
Cada vez mais a gente vai ter que ir aprendendo para poder fazer que o Brasil compreenda que quem dá comida para o país não é nenhum grande produtor de 50 milhões de hectares de soja. É o pequeno produtor de um hectare de feijão, de meio hectare de hortaliça, de três hectares de qualquer coisa, de um açude que cria peixe. Essa gente é que está sustentando o país e é essa gente que nós queremos continuar incentivando.
PERGUNTA DAS RUAS | Antônio de Carvalho Filho (São Paulo/SP): Trabalho desde os 7 anos e, registrado, desde os 13 anos. Estou meio descrente, muitas vezes até meio desesperado com a questão da minha aposentadoria, por causa da Reforma da Previdência. A gente luta tanto e quando chega na hora de a gente ter um pouquinho mais de tranquilidade, aí acontece isso. O que fazer?
Acho que o povo brasileiro tem muita razão de estar apreensivo. Primeiro porque já foi feita a Reforma Trabalhista, uma coisa feita por um Congresso altamente conservador, sem nenhum debate com a sociedade. E eu acho que a sociedade ainda não se deu conta dos malefícios que significa a Reforma Trabalhista, porque na televisão o governo está dizendo que ela significa mais emprego, mais oportunidade.
O que ele não diz é a qualidade do emprego que ele vai criar, que é emprego sem carteira profissional assinada, intermitente, que o cara só vai ganhar as horas que trabalha. Não diz que muitas vezes as férias e os direitos históricos vão desaparecer. Vai levar um tempo para os trabalhadores perceberem o que vai acontecer.
Eu acho que nós, do movimento social, não conseguimos neste curto período esclarecer para o povo do que ele estava sendo vítima, na verdade. A Previdência é a mesma coisa. Historicamente se tenta jogar a culpa da situação econômica do país a um déficit da Previdência. Quando a Previdência tinha dinheiro, ele foi utilizado para fazer a Transamazônica e não devolveram o dinheiro. Foi utilizado também para fazer a Ponte Rio-Niterói e não foi devolvido.
No meu período de governo, por exemplo, de 2004 a 2014, quando nós geramos 22 milhões de emprego e legalizamos 6 milhões de micro e pequenos empreendedores individuais, a Previdência brasileira foi superavitária. Então, se nós quisermos resolver o problema da Previdência, não é dificultando a vida do pobre de se aposentar.
A aposentadoria é uma das riquezas do nosso povo. É você ter consciência que trabalhou para o Brasil e quando você estiver com uma idade avançada...vai viver o resto da sua vida recebendo uma contribuição por parte daquilo que você contribuiu com o crescimento econômico do país.
Temos que gerar mais emprego, formalizar mais a economia e dar aumento de salário e aumento de salário mínimo. Como nós fizemos, que aumentamos 74%. Querer aumentar apenas o tempo de idade para o trabalhador e o tempo de contribuição é, no fundo, jogar nas costas do trabalhador brasileiro, que é a vítima, a responsabilidade por um déficit que ele não tem culpa. A culpa é da própria política econômica do governo ou da política de gasto do governo
Não é o salário do trabalhador, do salário mínimo, que causa problema à Previdência. É um procurador que se aposenta com R$ 30 mil, é um diplomata, um general que se aposenta com isso. O povo trabalhador, que trabalha que nem um desgraçado dentro da fábrica, a Previdência dele não é deficitária. E é só gerar emprego que ela vira superavitária.
Ainda vamos precisar fazer muita briga e aí é que entra a importância da eleição de 2018, de votar num Congresso comprometido com os direitos dos trabalhadores. E quando a gente fala em direito dos trabalhadores, a gente não quer quebrar o Brasil.
A gente quer que o Brasil seja governado de forma a que os ricos paguem um pouco mais e os pobres ganhem um pouco mais. Porque é preciso equilibrar a distribuição de riqueza neste país. E a aposentadoria é uma das riquezas do nosso povo.
É você ter consciência que você trabalhou para o Brasil e quando você estiver com uma idade avançada, você vai se aposentar, vai viver o resto da sua vida recebendo uma contribuição por parte daquilo que você contribuiu com o crescimento econômico do país.
Essa Reforma da Previdência é contra o trabalhador brasileiro, ela é contra o pobre. Ela favorece mais as camadas que ganham mais dinheiro e prejudica as camadas que ganham menos dinheiro e é por isso que nós temos que brigar muito.
Não sei se o governo vai ter coragem de mandar a proposta de Reforma da Previdência para o Congresso. E não sei se o Congresso vai ter coragem de aprovar. Mas o dado concreto é que eu estou dizendo, se eu for candidato em 2018, eu estou propondo um Referendo Revogatório.
Ou seja, vamos ter que pedir autorização do Congresso Nacional, para que a gente possa mudar muita coisa que foi feita de errado, neste governo golpista. Isso é um compromisso, porque senão não tem nem sentido eu ser candidato.
Ser candidato para chegar lá e constatar que está tudo errado e que eu não posso fazer nada, eu prefiro ficar em casa.
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