Genocídio: mais de 6 mil rohingyas foram mortos em apenas um mês

Somando a estas mortes as que resultaram de desnutrição e da exposição a doenças, só entre 25 de agosto e 24 de setembro terão morrido, no Estado de Rakhine, mais de 9 mil pessoas da minoria muçulmana rohingya, segundo relatório dos Médicos Sem Fronteiras, que aponta o dedo ao Exército birmanês.

esquerda.net - 14/12/2017

Mais de 647 mil rohingyas fugiram da Birmânia para o Bangladesh e estão agora abrigados em acampamentos superlotados e insalubres. Foto de Mohammad Ghannam/MSF.
Mais de 647 mil rohingyas fugiram da Birmânia para o Bangladesh e estão agora abrigados em acampamentos superlotados e insalubres. Foto de Mohammad Ghannam/MSF.
As investigações dos Médicos Sem Fronteiras (MSF) em acampamentos de refugiados em Cox's Bazar, no Bangladesh, foram realizadas em novembro e divulgadas esta terça-feira(link is external), revelando o genocídio em curso do povo rohingya e apontando responsabilidades ao governo de Mianmar.
De acordo com as estimativas agora divulgadas pelos MSF, em apenas um mês, pelo menos 6700 pessoas da minoria muçulmana rohingya foram mortas devido à repressão violenta perpetrada no estado de Rakhine, na Birmânia, de acordo com as estimativas divulgadas pelos MSF. Destas vítimas, pelo menos 730 eram crianças com menos de cinco anos que foram mortas a tiro, queimadas ou agredidas até à morte, detalhou a organização humanitária, num documento que aponta o dedo ao Exército da Birmânia.

No total, e somando a estas mortes as que resultaram de desnutrição e da exposição a doenças, só entre 25 de agosto e 24 de setembro terão morrido, na Birmânia, mais de nove mil rohingya.
Segundo os MSF, os resultados dos estudos mostram que os rohingyas foram alvo de violência generalizada e que “a violência generalizada começou a 25 de agosto, quando os militares da Birmânia, a polícia e milícias locais lançaram ‘operações de varredura’ em Rakhine, em resposta aos ataques do Exército de Salvação Arakan Rohingya”.
O que descobrimos foi assombroso
Desde então, mais de 647 mil rohingyas fugiram da Birmânia para o Bangladesh. “Nós encontrámo-nos e falámos com sobreviventes da violência em Mianmar, que agora estão abrigados em acampamentos superlotados e insalubres no Bangladesh”, disse o médico Sidney Wong, diretor médico dos MSF, citado pela Lusa.
“O que descobrimos foi assombroso, tanto pelo número de pessoas que relataram que um membro da família morreu devido à violência, como por causa das formas terríveis pelas quais elas disseram que os parentes foram mortos ou gravemente feridos. O pico das mortes coincide com o lançamento das mais recentes ‘operações de varredura’ das forças de segurança de Mianmar, na última semana de agosto", disse Wong.
A população total das áreas abrangidas pelas investigações foi de 608.108 pessoas, 503.698 haviam fugido da Birmânia após o dia 25 de agosto e 100.464 eram crianças menores de 5 anos.
A taxa geral de mortalidade de pessoas nas famílias investigadas, no período entre 25 de agosto e 24 de setembro, foi de oito em cada 10 mil pessoas, por dia. Isso equivale à morte de 2,26 por cento (entre 1,87 e 2,73 por cento) da população estudada. Se essa proporção for aplicada à população total que chegou desde 25 de agosto aos campos cobertos pelas investigações, isso sugere que entre 9.425 e 13.759 rohingyas morreram nos primeiros 31 dias, após o início da violência, incluindo pelo menos mil crianças menores de cinco anos.
Porém, os números que revelam a crueldade e o genocídio poderão ser ainda mais avassaladores. "O número de mortes provavelmente está subestimado, já que não estudamos em todos os acampamentos de refugiados em Bangladesh, e porque as investigações não contabilizam as famílias que nunca chegaram a sair de Mianmar", afirmou Sidney Wong.
Para os MSF, a assinatura de um acordo entre os Governos de Mianmar e o Bangladesh, para o retorno dos refugiados, é prematura: “Os rohingyas não devem ser forçados a retornarem e a sua segurança e direitos precisam de ser garantidos, antes que tais planos possam ser seriamente considerados”.
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