No regabofe de Temer sobrou comida: adeus reforma. Por Tereza Cruvinel

Marcos Corrêa/PR
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Desde sempre, o afluxo aos banquetes foi medida de prestígio dos governantes. Sobrou comida no jantar que Temer ofereceu ontem a deputados, tentando juntar os cacos de seu governo para aprovar uma reforma da Previdência mitigada, nem por isso menos danosa aos trabalhadores. Mais de 300 deputados foram convidados, só uns 150 apareceram no Alvorada. Ademais, ao entregar a pasta de Cidades ao Centrão, Temer está pagando dívidas da rejeição da segunda denúncia como se fossem agrados novos aos aliados, que de bobos não têm nada. Claro está que ele não terá votos para aprovar esta reforma em dezembro. Nesta área, o jogo acabou. 

Temer fingiu também que entregava a Rodrigo Maia a pasta de Cidades em troca de seu empenho na mobilização do Centrão para aprovar a reforma “enxuta”. Rodrigo, de fato, endossou o nome de Baldy mas quem o indicou mesmo foi o marqueteiro de Temer, Elsinho Mouco, que é primo dele. Rodrigo fez o jogo, colheu elogios de Temer na posse do novo ministro mas continua dizendo que o governo está longe de ter os 308 votos para aprovar a reforma. No plenário da Câmara ontem os governistas diziam para quem quisesse ouvir:  esta matéria já perdeu o timing e Temer já torrou seu capital político defendendo-se das denúncias. Não será aprovada nem agora e muito menos no ano que vem.

Agora Temer quer fazer outro leilão, alargando ainda mais o rombo fiscal. Para conseguir votos, está disposto a ampliar as vantagens aos jornalistas que devem ao INSS/Funrural e a antecipar aos governadores compensações pela Lei Kandir (desoneração das exportações pelos estados). Não vai funcionar também.

Temer não aprovará a reforma previdenciária nem qualquer outra medida prometida ao mercado por ocasião do golpe e da posse por uma razão elementar: a chamada sua base nunca passou de ajuntamento de interesses para viabilizar o golpe e o assalto ao butim do poder. Boa parte dele já foi distribuído para garantir a rejeição das denúncias. As disputas cindiram o próprio Centrão e o PSDB perdeu o rumo. A escolha de Carlos Marum, o homem da dancinha da impunidade, para a pasta encarregada da articulação política (Secretaria de Governo) foi uma tentativa de reunificar a manada. Mas em sinal de que sua habilidade como articulador político é pífia, Marum colocou tudo a perder anunciando o convite antes que Temer dispensasse o tucano Imbassahy do cargo. Aécio Neves tomou-lhe as dores e juntamente com Rodrigo Maia, forçou Temer a recuar. Marum ainda pode virar ministro, depois do dia 9, quando Imbassahy sairia como se fosse por vontade própria, em obediência à ordem de desembarque que os tucanos devem aprovar. Mas nesta altura Marum já tomará posse desmoralizado e já se esgotado o tempo para a Câmara aprovar a reforma previdenciária.

E com isso, acabou o jogo. Um presidente eleito poderá propor a reforma, no futuro, se tiver defendido a proposta no curso da campanha. Não Temer, que carece de legitimidade para impor mudanças tão drásticas no sistema previdenciário, com aval de um Congresso que não soube honrar o próprio pacto democrático.

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