Globo é alvo de segundo depoimento da Fifagate em Nova York
por Patricia Faermann - no GGN - 30/11/2017
Foto: Spencer Platt/Getty Images
A Rede Globo voltou a entrar na mira das investigações do escândalo de corrupção da FIFA. Desta vez, na voz do argentino Jose Eladio Rodriguez, apontado como um dos intermediários dos pagamentos de propinas da Torneos y Competencias (TyC) a cartolas e acusados.
Depoente afirma que a emissora brasileira teve papel fundamental no repasse de propinas a dirigentes da CBF pela Torneos y Competencias. Em resposta, Globo inverte papel, e se apresenta vítima do esquema, afirma que compra de direitos de transmissão foi de "boa fé"
Foto: Spencer Platt/Getty Images
A Rede Globo voltou a entrar na mira das investigações do escândalo de corrupção da FIFA. Desta vez, na voz do argentino Jose Eladio Rodriguez, apontado como um dos intermediários dos pagamentos de propinas da Torneos y Competencias (TyC) a cartolas e acusados.
Na continuação do julgamento do escândalo pela Suprema Corte do Brooklyn, em Nova York, nos Estados Unidos, Eladio confirmou que o ex-presidente da CBF, José Maria Marín recebeu US$ 600 mil, o equivalente a quase R$ 2 milhões, e outros US$ 900 mil, quase R$ 3 milhões, foram para seu sucessor, Marco Polo Del Nero, pelos direitos de transmissão da Copa América e Copa Libertadores da América.
O argentino responsável pela administração e finanças da T&T (offshore da TyC na Holanda) em Buenos Aires explicou que parte desses repasses foi possível graças à Rede Globo. Relatou que a offshore holandesa foi criada exclusivamente para negociar os direitos de transmissão de competições com a Globo, que comprava do que os adquiridos pela TyC.
Para isso, a T&T nas Ilhas Cayman vendia seus direitos à offshore holandesa a um baixo preço, que por sua vez revendia os direitos da Copa Libertadores à emissora brasileira por um valor mais caro. A T&T na Holanda, contou Eladio, existia apenas para revender os direitos à Globo e, imediatamente depois, fazer os pagamentos secretos com parte desse lucro.
Nessa diferença de quantias milionárias, era possível pagar aos dirigentes da CBF. Jose Eladio Rodriguez não especificou quanto a Rede Globo supervalorou para que o esquema de pagamentos de propinas fosse possível, mas detalhou quanto os cartolas receberam.
Em 2013, por exemplo, a Torneos y Competencias pagou 1 milhão e meio de dólares em subornos a Marín e mais 1 milhão e meio a Marco Polo Del Nero para a transmissão da Copa América. Rodríguez descrevia ambos os cartolas como "brasileiro", no singular, porque os dois sempre estavam juntos.
Em 2015, quando o esquema de corrupção da FIFA foi desmontado pelas autoridades norte-americanas com as primeiras prisões, Jose Eladio Rodriguez determinou que funcionários do suporte técnico dos escritórios da Torneos em Buenos Aires e no Uruguai destruíssem os servidores com as informações secretas do esquema.
A relação de Rodríguez com Alejandro Burzaco, o primeiro argentino a emparedar a emissora de televisão brasileira, é que o mais novo depoente era o principal funcionário de Burzaco. Ele prestou depoimento na Corte do Brooklyn, em Nova York, por aproximadamente duas horas nesta quarta-feira (29).
Em resposta, a defesa de Marco Polo Del Nero disse que "nega, com indignação, que tivesse conhecimento de qualquer esquema de corrupção supostamente existente no âmbito das entidades do futebol mencionadas".
"As investigações levadas a efeito naquele país [EUA] não apontaram qualquer prova de recebimento de vantagens de qualquer natureza por parte do atual presidente da CBF. Igualmente, o que fica claro é que os contratos sob suspeita não foram por ele assinados nem correspondem ao período de sua gestão na presidência da CBF", completou.
Ao mencionar que ele e Marín eram quase que tratados como uma única pessoa por Eladio Rodríguez, Del Nero aproveitou para afirmar que o depoimento é "contraditório, confuso e inverossível".
Já o Grupo Globo divulgou, em comunicado, que "comprou em boa fé os direitos da Copa Libertadores da empresa T&T Holanda, então detentora dos direitos". Dessa forma, inverte o papel importante que supostamente desempenhou no escândalo do futebol, como se tivesse sido enganada.
"O Grupo Globo está surpreso com as alegações feitas no julgamento de que aquela empresa era usada para o pagamento de propinas a terceiros e reafirma que não tolera nem paga propinas", concluiu.
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