Patrick Mariano: A “esquerda” fashion punitiva.
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O Congresso Nacional produz curiosos e tristes personagens quando em jogo o direito e o populismo penal. Não vai muito longe, o punitivismo era patrocinado por políticos do campo da direita que ganhavam notoriedade por defender posições radicais e intolerantes quanto a pena e o desmedido uso do direito penal. Destacavam-se nomes como o dos senadores Demóstenes Torres e Pedro Taques, ambos do ministério público e, na Câmara, Ônix Lorenzoni.
Os três, invariavelmente, defendiam penas mais duras no suposto “combate à corrupção” e para a criminalidade em geral. Portadores da ideologia da chamada doutrina da tolerância zero, quimera norte-americana completamente desmontada pelos estudos críticos da criminologia e que por aqui continua a iludir incautos, eram porta vozes desse pensamento ideológico e, claro, ganhavam projeção e serviam de embaixadores políticos de setores do Ministério Público, Polícias e Judiciário que possuem consonância com essa estupidez punitiva.
Cada um no seu papel ideológico. Mais recentemente, outros personagens políticos passaram a incorporar o papel antes ocupado por Demóstenes Torres e que tais. O preocupante é que esses personagens estão ou deveriam estar em outro campo político, porquanto ligados, de certa forma, à democracia e os direitos fundamentais. O senador Randolfe Rodrigues e o deputado Alessandro Molon, ambos da REDE, têm se apresentado no Congresso Nacional como a principal defesa da pauta do Ministério Público, sob pretexto do “combate à corrupção”. Embora comprometidos com os direitos sociais e outras pautas importantes para a sociedade brasileira, por inocência ou em busca de dividendos eleitorais (quero quer na primeira alternativa), têm cumprido papel semelhante àquele que antes ocupado pela direita.
Quanto à ideologia, a esquerda “fashion” punitivista acaba sendo mais daninha ao avanço das liberdades democráticas do que os deletérios personagens da direita, justamente porque confundem a população e, com isso, contribuem para consolidar personagens que extrapolam suas funções institucionais, em clara afronta ao papel constitucional que deveriam exercer. A contradição que não percebem é que ao incentivar a exaltação política de autoridades do MP e do Judiciário, contribuem para a completa ausência de controle do poder punitivo.
Ou seja, ao tirar fotos com Dalagnol e cumprir o papel de defesa da pauta desse e de outros deletérios personagens, terminam por personificar instituições e fazer eco à fasticização do sistema de justiça criminal. Como consequência, contribuem para o aumento do punitivismo e, claro, para elevar ainda mais as trágicas estatísticas do sistema prisional brasileiro, destino dos de sempre: jovens pobres e negros.
Tirar foto com o juiz Marcelo Bretas é a mesma coisa que fazer selfie com o juiz que encarcera ativistas sociais e aprisiona ilegalmente Rafael Braga. O desrespeito aos direitos fundamentais são os mesmos e a racionalidade punitiva idem.
É ilusão compreender o poder punitivo parcialmente, como se possível fosse permitir o seu avanço somente contra setores da política e estanca-lo contra os mais pobres. O triste papel desempenhado por esses atores de centro esquerda ignora completamente a função do Estado no capitalismo. Maria Lucia Karan cunhou, em 1996, o termo “esquerda punitiva” para designar esse erro tremendo de partidos ligados às causas populares em flertar com o punitivismo. Em tempos de racionalidade neoliberal e da sociedade do espetáculo, me permiti acrescentar o termo “fashion” porque esses personagens talvez achem descolado defender essas posições.
O triste é que não há espaço para aventuras com o direito penal, pois a sua essência é produzir dor, sofrimento e aprofundar a miséria humana dos nossos tempos.
Patrick Mariano é escritor. Junto a Marcelo Semer, Rubens Casara, Márcio Sotelo Felippe e Giane Ambrósio Álvares, assina a coluna ContraCorrentes, publicada todo sábado no Justificando.
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