Juízes encontram provas “esmagadoras” da contabilidade paralela no PP espanhol

O escândalo de corrupção “Gürtel”, que envolve subornos ao partido que governa Espanha, conheceu esta semana a acusação e dá como provada a "caixa B" do PP. Jornalistas da TVE abriram um inquérito sobre a ausência de destaque à notícia.

esquerda.net - 26/10/2017

Foto União Europeia @
A leitura do despacho final de acusação por parte da procuradora anticorrupção Concepción Sabadell durou três dias e põe no banco dos réus 37 pessoas, incluindo o ex-tesoureiro do PP, Luís Bárcenas - que arrisca uma pena até 39 anos de prisão - e os empresários do grupo Correa, suspeitos de terem corrompido dirigentes e autarcas do partido da direita espanhola em troca da adjudicação de contratos.
“Os factos provados são de extrema gravidade, não só pela sua natureza e o prejuízo que causaram, mas porque se realizaram como um modo corrente de contratação pública; durante um longo período de tempo e em diversas administrações governadas pelo PP, nas quais algumas das suas autoridades e cargos públicos aceitaram subornos para enriquecerem-se à custa dos fundos públicos que tinham obrigação de conservar, de proteger e salvaguardar”, diz o texto da acusação, citado pelo Publico.es.

Para além do ex-tesoureiro do PP, que geria a contabilidade paralela do partido e terá escondido dez milhões de euros em contas na Suíça, faltando ainda localizar o paradeiro de 4.1 milhões, a acusação aponta também o dedo a Ana Mato, ex-ministra do PP, por ter beneficiado dos subornos recebidos pelo seu marido, Jesus Sepúlveda, senador do PP e autarca da localidade de Pozuelo de Alarcón, na região madrilena, em troca de contratos adjudicados ao grupo Correa. Para além de dinheiro, Sepúlveda obteve automóveis de luxo, viagens de férias e até festas de aniversário pagas pelo grupo Correa.
Um dos processos extraídos deste "caso Gürtel" - "Gürtel" é a tradução alemã de "Correia" - , que diz respeito à contabilidade paralela no Partido Popular, foi agora reaberto pela justiça, depois do ex-tesoureiro ter reconhecido a existência da “caixa B”. Bárcenas foi obrigado a admiti-lo após o principal corruptor do caso Gürtel, Francisco Correa, ter confessado que pagava as comissões a Bárcenas em envelopes que levava à sede do PP. Para além dos testemunhos, também os documentos reunidos ao longo do processo levaram a procuradoria a concluir que ficou “inteira e esmagadoramente” provada a existência da contabilidade paralela no PP, um esquema de corrupção em proveito do próprio partido e não apenas do grupo municipal, sublinha a procuradora.
“Os acusados conseguiram que uns mecanismos viciados se consolidassem como algo estrutural. Atentaram contra o Estado de Direito e será muito difícil a reparação social”, reconheceu a procuradora.
TVE promete investigar “apagão” da notícia sobre existência da “caixa B” do PP
No dia em que a procuradora anticorrupção anunciou a estar provada a existência de contabilidade paralela no partido que governa Espanha, a notícia passou despercebida a boa parte da opinião pública. As capas dos principais jornais nacionais não trouxeram nenhuma referência ao assunto e o canal público de televisão remeteu a notícia para 22 minutos após o início do serviço informativo, com uma peça de apenas 45 segundos.



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Esto empieza a ser mas que preocupante: la Fiscal nos dice q estamos gobernados por una banda organizada y ni una mención en las portadas⤵️
O Conselho de Informação da TVE anunciou que vai dar início a um processo deontológico e questionar os responsáveis editoriais sobre o tratamento dado ao assunto, uma vez que “chama a atenção que o tema, sendo de enorme gravidade, não tenha estado entre os principais assuntos tratados no telejornal”.
“Esta é uma cobertura insuficiente a um assunto tão grave que, além disso, afeta o partido do governo e transmite esta imagem de submissão e falta de independência da televisão pública que tanto mal nos faz”, afirmou ao Publico.es o presidente do Conselho de Informação da TVE, Alejandro Caballero.
No dia em que foi dada como provada a existência da “caixa B” para ocultar os subornos recebidos pelo principal partido espanhol, o serviço público de informação optou por destacar as notícias acerca da subida das temperaturas ou do ritmo das vendas da lotaria do Natal. Aqui, o realce foi para o facto de terem esgotado as cautelas com a terminação 155, o número do artigo da Constituição que o PP vai aplicar para suspender a autonomia da Catalunha. 

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