Ion de Andrade: As ruas aguardam uma estratégia clara
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É frequente a pergunta de por que o povo não se levanta diante de tanto descalabro.
E não faltariam razões: a agressão ao salário mínimo, à CLT, aos orçamentos sociais, o perdão fiscal ao ITAU, aos ruralistas, à OI, tentativa de dar legitimidade à escravidão, a reforma do ensino médio, agressões ao SUS, tentativa de entregar a Amazônia, a redução da cobertura do Bolsa Família, a perda do Pré-Sal e dos royalties para a Educação e a Saúde, o colapso da indústria de defesa, a regressão dos direitos, etc., etc., etc. numa lista interminável e nauseabunda.
Por outro lado no campo que deveria apontar saídas, pois as maiorias precisam saber o que pensam as forças políticas para que possam agir em conseqüência, não há consenso algum sobre como conduzir o término desse inverno político. O que se sabe é que não há ninguém que chancele a tal da insurreição que se espera que o povo, de alguma maneira, faça sozinho por indignação.
De fato, a saída se dará através de uma geografia política. Que não conhecemos. É como um rio represado cuja água sobe rumo a um sangradouro que ninguém sabe em que nível está. A partir do sangradouro o rio volta a fluir. Essa idéia implica na percepção de um acúmulo; da necessidade para a solução da crise democrática de uma “maré montante”. Devemos entender que esse acúmulo de indignações não decorrerá espontaneamente das ações do Estado de exceção, mas sobretudo da nossa capacidade de traduzi-las para a compreensão das maiorias e dos grupos diretamente prejudicados, tais como os profissionais de saúde, os petroleiros, os engenheiros, os camponeses, as mães que recebem o Bolsa Família etc.
Mesmo sem nenhum entendimento interno ao campo democrático, vai sendo delineada a percepção de que a saída dessa crise passa pelas eleições de 2018. Há um último parêntese a ser equacionado que é o da anulação ou não do impeachment e a admissibilidade ou não do processo contra o presidente ilegítimo. Mesmo que haja o inesperado, que o STF anule o impeachment ou que Temer seja afastado, (pausa para risos), o fluxo do rio parece apontar para 2018. As caravanas de Lula pelo Brasil, aliás, apontam para a necessidade de que a nação se pronuncie sobre toda essa agenda de atrasos que está sendo imposta contra a vontade soberana do povo expressa nas últimas eleições.
Ora, se tivermos clareza da saída, isso nos permitirá identificar as prioridades da agenda para que essa saída possa efetivamente ser materializada.
E quais são essas prioridades de agenda que poderiam compor uma base comum para que, em qualquer circunstância política fossem asseguradas?
Sem querer ser exaustivo, aqui estão alguns itens prioritários:
- A realização de um referendum popular sobre as Reformas realizadas durante o Estado de exceção
- A recuperação dos orçamentos sociais
- O reposicionamento do Estado como indutor do desenvolvimento
- A recuperação dos royalties do Pré Sal para a Saúde e Educação
- A prioridade para com a Ciência Nacional
- A retomada de Engenharia pesada Nacional
- A retomada dos mega-projetos de defesa
- A recuperação do Salário Mínimo e da Renda como forma de produzir o bem estar social
- E um novo ciclo de desenvolvimento de aplicação imediata e de longo prazo em que faremos chegar as nossas camadas mais pobres à contemporaneidade plena e à vida digna.
É mais difícil saber quem vai propor esse conjunto de obviedades do que listá-las, mas a Frente parlamentar nacionalista liderada pelo Senador Requião poderia resolver isso.
Identificada portanto a saída e estabelecida a agenda comum, as mobilizações poderão novamente ganhar as ruas, superando o atual momento de exaustão e recobrando fôlego.
O encontro de Lula com Boulos é um bom augúrio. Em nome dessa agenda, outros nomes poderão ser incorporados como é o caso de Ciro Gomes.
Essa frente naturalmente deve ser fortalecida pela Sociedade Civil e pelas representações dos segmentos diretamente prejudicados pelo arbítrio.
As ruas então poderão voltar a funcionar como o pistão que põe a máquina em movimento, mesmo que mais de uma candidatura possa surgir dessa frente, como tudo indica que será o caso.
Se as ruas entenderem que há uma estratégia clara é provável que milhões de brasileiros ávidos por exprimir a sua indignação desçam às ruas.
Imaginemos o Vale do Anhagabaú com Lula, Boulos, Stedile, Ciro Gomes, Requião, Katia Abreu, Aldo Rebelo e outros pelo fim do Estado de exceção e pela agenda comum.
Não é tão complicado e está ao nosso alcance!
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