A cracolândia da Paulista
Sergio Saraiva - outubro 5, 2017 - Cidadania
Como qualquer outra droga, a intolerância política e social é um produto com um nicho de mercado já suficientemente descrito. Com perfis de usuários e traficantes conhecidos. Porém, como o álcool, tolerado por nossas autoridades.
O perfil do dependente
A coluna de Mônica Bergamo na Folha de 05 de outubro de 2017 traça o perfil dos que se manifestaram nas redes sociais em protesto e ataques ao MAM em função do homem nu em uma exposição de arte.
As informações foram coletadas pela empresa SocialQI que cuida da comunicação pessoal de João Doria nas redes sociais.
O perfil médio é composto por:
homens (62%), evangélicos (40%) e de direita (82%). Eles têm entre 35 e 44 anos, são brancos, casados, de classe média e com ensino superior. Cerca de 60% são de SP.
São velhos conhecidos. Basta recordar o perfil dos que se manifestavam pedindo o impeachment do governo Dilma.
61% eram homens e com idade superior a 36 anos, 77% disseram que possuem curso superior e 12% afirmaram que são empresários. Em relação à renda familiar, metade estava entre cinco e 20 salários mínimos. 77% dos manifestantes declararam que são da cor branca. 80% dos manifestantes moravam em São Paulo.
É comum estarem carregando uma bandeira do Brasil. Para quem quiser entender o fetichismo desse povo com a bandeira, vai aqui uma pequena contribuição.
O mercado do bagulho da intolerância
Assim descritos, formam o que em marketing se chama de “segmento de mercado”.
Não é à toa o interesse de Doria. E não só Doria – homem de mercado – percebeu isso. São o público alvo do MBL e de toda uma série de “empreendedores” do “e-commerce” da intolerância.
A internet, nas suas várias modalidades, de Facebook a Youtube está coalhada de furibundos vociferantes buscando vender-lhes, inicialmente, anti-petismo e, agora, com o PT fora do poder, anti-esquerdismo e qualquer outra forma de escandalização que os mantenha permanentemente excitados.
Atraem também a atenção de políticos, por obvio.
E durante o período anti-petista foram instigados pela imprensa como pelotões de linchamento.
Um seguimento disputado por vários interesses, sem dúvida.
Ocorre que, por suas características, ainda que possua bom poder aquisitivo e seja comprador, é um mercado limitado.
Aparentemente, a escandalização é um produto de nicho.
Nicho barulhento e agressivo como o mercado direcionado às torcidas organizadas de futebol, mas com o poder aquisitivo e o bom gosto dos frequentadores dos rodeios e festas de peão. Nicho assim mesmo.
A cracolândia da Paulista
Mas há outra maneira de enxergar as pessoas que formam os consumidores, a parte mais frágil, desse mercado.
Como dependentes. Como compulsivos. Aparentemente são consumidores de intolerância política e social.
Por que razão? O que os atrai?
Como a qualquer dependente, a dependência está, antes de tudo, dentro dele mesmo. Sua incapacidade de lidar com suas próprias frustações e contradições – suas fraquezas.
A droga e a falsa solução e o eterno retorno ao fundo do poço. Acabam intoxicados e necessitando desesperadamente de outra dose que sempre haverá alguém para fornecer.
Esse bagulho tem venda livre e fácil. Basta um celular. E se não oficialmente permitida, tolerada pelas nossas autoridades. Existem inclusive legisladores tentando legalizá-la.
Há pelo menos dois anos convivemos com esse drama.
Não há solução fácil. Como o álcool e a cocaína e seus derivados, mais uma droga com a qual precisaremos conviver para poder tratar.
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