Réus se contradizem e desmentem tese do MPF sobre suposto terreno para o Instituto Lula

"Seria a forma mais estúpida para se pagar uma propina", disse ex-diretor da empreiteira em São Paulo, Paulo Melo
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Foto: Ricardo Stuckert / Instituto Lula
 Se não trazem provas concretas ou indícios materiais, são pelo menos contraditórios os interrogatórios realizados no processo contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-ministro Antonio Palocci, Marcelo Odebrecht e outros quatro réus sobre suposto benefício de Lula em contratos de cerca de R$ 75 milhões da Odebrecht junto à Petrobras, que teriam sido investidos em compra de terreno para a sede do Instituto Lula. 
Na manhã desta quarta-feira (06), além do próprio ex-presidente da construtora, também foram ouvidos outros réus da investigação. Entre eles, Demerval Gusmão, dono da DAG Construtora, que ao contrário do divulgaram diversos jornais, não confirmou que o terreno era destinado ao Instituto, mas que ouviu de Marcelo que teria essa finalidade.
Gusmão, além de ser réu junto com os demais, era amigo de Marcelo Odebrecht. Ele narrou que foi procurado por Paulo Melo, diretor da empreiteira em São Paulo e outro réu, para tratar do terreno. Melo contou que não queria aparecer como a compradora da propriedade sob o risco de inflacionarem o valor real e pedia à DAG que realizasse o trâmite. 
Nesta conversa, Paulo Melo explicou que o dono da DAG Construtora sairia favorecido porque se tornaria sócio do empreendimento que a Odebrecht queria construir no local, segundo o executivo. Ou seja, até então, não se falou do Instituto Lula e tampouco arrolou tal conexão.
Posteriormente, Gusmão se encontrou com Marcelo Odebrecht. O então presidente da companhia é que teria narrado que pretendia construir no espaço a entidade: "No meio da conversa, Marcelo me pergunta se Paulo Melo havia comentado comigo sobre a compra do terreno para construção do Instituto Lula. Eu disse que ele havia me falado da compra do terreno, não do Instituto Lula".
A partir de então teriam seguido as tratativas, segundo as informações do dono da DAG Construtora, para a compra do terreno, que teria como parte beneficiária o próprio empresário Demerval Gusmão, e que teria como destino final o ex-presidente Lula com a suposta construção de uma nova sede da entidade. Neste cenário, o Instituto decidiria se iria comprar ou alugar o edifício que supostamente seria construído pela Odebrecht.  
Em resposta, o advogado do ex-presidente, Cristiano Zanin Martins, enfatizou que o réu "afasta o uso de qualquer valor proveniente da Petrobras ou de contabilidade paralela da Odebrecht do cenário da compra do terreno, desmentindo as afirmações de Marcelo Odebrecht e a versão do Ministério Público".
Além disso, completa a defesa, Gusmão "levanta a possibilidade de que valores desta contabilidade paralela tenham sido desviados por executivos da empresa e atribuídos a terceiros".
Apesar do detalhamento das informações, o depoimento de Demervel Gusmão se contradiz ao de outro réu que também foi inquirido pelo juiz Sérgio Moro, nesta segunda-feira (04). O ex-diretor da empreiteira em São Paulo, Paulo Melo negou e desmentiu toda a versão criada por Gusmão e também endossada pelo ex-presidente da Odebrecht.
Afirmou que Marcelo Odebrecht nunca lhe disse que a compra serviria ao Instituto Lula e que seria fruto de pagamento de vantagem indevida. E foi além: "Seria a forma mais estúpida para se pagar uma propina", ironizou, confrontando a versão do MPF. Disse que soube depois que seria construída a sede da instituição, mas que tinha como objetivo para a Odebrecht ter o prestígio: "um portfólio intangível de ter construído a sede do Instituto Lula". 
Anteriormente, Marcelo teria narrado que Paulo Melo era "quem sabia da ilicitude" e que tampouco ele próprio tinha conhecimento "à época": "Eu acho que Paulo Melo e Paul Altit [ex-presidente da Odebrecht Realizações Imobiliárias] vão ter que esclarecer esses assuntos que eu trouxe agora. Eu fui obrigado agora a trazer informações que eu não sabia à época."
Paulo Melo desconfiou da narrativa de Marcelo Odebrecht e negou que soubesse de irregularidade e que não faria "o menor sentido alguém pagar propina" por meio de um terreno. Afirmou, ainda, que o terreno adiantaria um empréstimo à instituição que ficou acordado que, depois, pagaria por meio de doações obtidas pelo Instituto Lula.

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