Os crimes sem apuração da Lava Jato, por Marcelo Auler

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Luis Nassif - no GGN - 25/08/2017

O que acontece quando uma operação, como a Lava Jato, recebe licença para matar de um Ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) – Luís Roberto Barroso, admitindo o estado de exceção?
O Jornal GGN foi ouvir o repórter Marcelo Auler sobre o que significa pessoas dotadas de poder de Estado, procuradores e delegados, terem autorização para andar à margem da lei.

Auler escancara o grande escândalo da Lava Jato. No começo da operação, a Polícia Federal do Paraná colocou uma escuta ilegal na cela dos detidos. Descoberta, há três anos ocorreu um jogo de ilegalidades, visando esconder os dados. Dois membros da PF que ousaram investigar foram perseguidos, a ponto de serem obrigados a solicitar aposentadoria, em cenas de expurgo que lembra os períodos da ditadura.
As investigações de Auler começaram em julho de 2015. Auler descobriu que a cúpula da PF do Paraná, com o delegado Igor Romário à frente, mandou instalar grampo para saber o que os presos conversavam.
As primeiras prisões ocorreram de 16 a 18 de março de 2014. No diaq 31 de março o grampo foi descoberto pelo doleiro Alberto Yousseff e apreendido pela polícia em 10 de abril. Nesse dia, um delegado da Polícia Civil recebeu a informação de que haviam encontrado o grampo. Avisou a PF e, aí, teria batido o desespero. O delegado Márcio Anselmo teria ido à sala de outro delegado e desabado que “estamos ferrado”. Anselmo desmente a frase.
Com a informação vazando, foi aberta uma sindicância conduzida pelo delegado Maurício Moscardo Grilo. Foi sindicância dirigida, que procurou explicar que o grampo havia sido colocado na cela por ocasião da prisão de Fernandinho Beira Mar.
Um ano depois entrou em cena o delegado Mário Renato Fanton, incumbido de investigar a denúncia dos delegados de Curitiba, a respeito do vazamento de manifestações suas, no Facebook, enaltecendo Aécio Neves e criticando Dilma Rousseff. Julgaram que o culpado fosse o delegado Paulo Renato de Souza Herrera, crítico dos métodos adotados pelos colegas na Lava Jato. Seguiu-se a denúncia, a abertura do inquérito 727, e uma enorme pressão sobre o delegado, que acabou se afastando da PF por problemas psicológicos. Foi acusado de receber dinheiro pelo dossiê.
Encarregado de apurar o caso, o delegado Mário Renato Fanton se dá conta de que o inquérito 727 estava sendo dirigido erradamente. Não existia o tal dossiê. No decorrer das investigações, Fanton se deu conta de outros fatos estranhos, especialmente nas investigações sobre o grampo.
No seu relatório, Moscardi havia se baseado no parecer de Dalmey Werlang, agente que trabalhava no núcleo de inteligência policial, especialista em grampos ambientais, que sustentava que o equipamento era antigo e estaria lá desde a prisão de Beira Mar.
De algum modo, Fanton percebeu os erros do relatório. Pressionado, Dalmey admitiu ter colocado a escuta na cela a mando do delegado Igor Romário. Depois, repetiu a denúncia na CPI aberta para investigar a escuta. A corregedoria abriu nova sindicância, entregue ao delegado Alfredo Junqueira. Uma perícia no equipamento de Dalmey revelou 260 horas de gravações. Dalmey sugeriu que a mesma perícia fosse realizada no servidor do departamento, mas não o ouviram.
Seguiu-se um jogo de esconde-esconde, com procuradores e delegados atropelando a lei, inventando álibis e perseguindo implacavelmente quem ousasse entrar mais fundo na história.
Surgiu a versão inverossímil de que havia 9 celulares nas celas, através dos quais poderia ter ocorrido as gravações. Ora, quando alguém é preso, a primeira providência é tirar seu celular.
No final do ano passado, outra irregularidade graúda foi apontada por Meire Posa, ex-contadora de Yousseff. Ela acusou diretamente o delegado Márcio Adriano Anselmo de uma série de irregularidades, entre as quais a de forjar uma busca e apreensão de documentos para esquentar documentos que ela já havia entregue a ele, e não foram registrados. O juiz Sérgiuo Moro trancou as investigações a pedido dos procuradores Regionais da República  da 4a Região Antônio Carlos Welter e Januário Paludo
Todos os que ousaram apurar os ilícitos da Lava Jato foram implacavelmente perseguidos pela Polícia Federal e por procuradores, denunciando-os sem provas.
Dalmey e Fanton precisaram se afastar da PF por problemas psicológicos, tal a perseguição. Dalmey está tentando se aposentar, mas está impedido. Fanton foi proibido por seu médico de sequer abordar o tema.
A maneira da PF varrer a sujeira para baixo do tapete foi afastar um a um os integrantes iniciais da Lava Jato. Acusado de um sem-número de irregularidades, Márcio Anselmo tornou-se corregedor da PF do Espírito Santo. Ou seja, o delegado incumbido de apurar irregularidades dos colegas. A delegada Erika Marena foi transferida para Santa Catarina.
Nem a corregedoria do MPF, nem a Procuradoria Geral da República ousaram investigar o caso. Os crimes foram varridos do mapa, os que ousaram apurar foram punidos.
24/08/2017 - 18h30

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