“O Judiciário virou instrumento contra todos que apoiam Lula, mas a cascavel aqui está viva”, diz Roberta Luchsinger ao DCM
Roberta Luchsinger |
Roberta Luchsinger tem 32 anos e é neta do ex-acionista do Credit Suisse, Peter Paul Arnold Luchsinger, e sobrinha de Roger Wright, alto executivo do mesmo banco no Brasil. Ela foi casada com o ex-delegado da Polícia Federal e ex-deputado pelo PCdoB Protógenes Queiroz, que encarou o caso Daniel Dantas na Operação Satiagraha. O ex-marido hoje está asilado na Suíça.
Roberta ganhou holofotes da mídia após anunciar a doação de R$ 500 mil ao ex-presidente Lula após o bloqueio de seus bens com a condenação em primeira instância do juiz Sérgio Moro.
Isso ocorreu porque o juiz Felipe Albertini Nani Viaro, da 26ª Vara Cível de São Paulo, determinou que Roberta Luchsinger pague antes uma dívida de R$ 62 mil cobrada dela judicialmente por uma loja de decoração.
O magistrado deferiu o pedido de execução imediata da dívida. Determinou ainda que ela deve “abster-se de qualquer ato de disposição graciosa dos bens” até que salde o débito. O advogado de Roberta Luchsinger, Paulo Guilherme de Mendonça Lopes, disse que a cliente encomendou móveis que ficaram “muito mal feitos” e saldou parte do serviço.
O DCM falou com ela.
DCM: O juiz Felipe Albertini Nani Viaro pediu para executar uma dívida sua de R$ 62 mil. O que você acha disso?
Roberta Luchsinger: A decisão do juiz não nos surpreende. É incrível como o Poder Judiciário, em qualquer instância, se transformou num instrumento de luta política contra Lula e todos que o apoiam.
DCM: Você acha que esse tipo de decisão mostra que o Judiciário persegue pessoas pelo que elas pensam ou fazem?
RL: Não gosto de generalizar nada, mas é incrível como ele em qualquer instância se transformou num instrumento de luta política contra nós de fato.
Lula disse que a jararaca está viva e engordou, uma alusão à sua capacidade de sobreviver a qualquer adversidade. Eu digo que também sou resiliente, que a cascavel aqui também está viva e pronta para lutar contra a intolerância da direita e de seus representantes no Poder Judiciário.
DCM: Você quer doar R$ 1 milhão ao ex-presidente Lula e tem consciência de que seu ato foi político. Sendo herdeira de um ex-acionista do Credit Suisse, você sofreu represálias da elite brasileira?
RL: Minha doação ao presidente Lula tem um poder simbólico, porque mostra à sociedade o quanto um presidente como ele faz falta aos mais desfavorecidos.
Represálias de uma elite que olha apenas para seu próprio umbigo? Não vejo como contra mim, mas sim contra eles mesmos. Estou mais preocupada em colaborar com o desenvolvimento social do país do que com críticas pejorativas.
Gosto de críticas quando são construtivas e escuto com maior prazer. Os que me criticam deveriam sair da zona de conforto e fazer algo pelo país.
DCM: Algum amigo pessoal deixou de falar contigo após a doação ao Lula?
RL: Meus amigos de verdade me conhecem e conhecem minha essência. Jamais deixarão de falar comigo por isso.
DCM: A sua atitude pode mover parte da elite que não é mais afetada pelo antipetismo?
RL: Acredito que sim. Tenho recebido com surpresa e entusiasmo muitas mensagens de pessoas que jamais imaginaria.
DCM: Qual é a sua leitura sobre a elite brasileira neste momento, com o governo Temer aumentando o rombo econômico?
RL: A elite desse país é mesquinha, provinciana, não sabe olhar além de seu umbigo. Mesmo diante do rombo, ela se nega a reconhecer que esse governo está levando o país para o buraco.
DCM: Você se envolve em programas sociais há algum tempo. Quais foram? Você pode explicar?
RL: Minha familia sempre foi envolvida em trabalhos sociais. Meu tio Roger Wright por exemplo, fez uma creche em Búzios quando minha tia Barbara morreu há 20 anos. Meu pai doou em Minas há mais de 30 anos um terreno para que fosse construída uma escola. Quando minha filha Valentina fez um ano, eu pedi que fosse feitas doações a Casa das Crianças de Mirai, em Minas Gerais. Aqui em São Paulo há muitos anos eu mantenho projetos sociais. A comunidade de Brasilândia me conhece bem, estou sempre atendendo aos pedidos que me chegam em prol da comunidade, sempre participando ativamente.
Não faço só isso lá, pois ajudo outras comunidades de São Paulo, mas não fico por aí alardeando. Quando namorei o Gustavo Reis, atual prefeito de Jaguariúna, fui atrás de amigos para me ajudarem a doar ovos de Páscoa para que ele fornecesse às crianças. Meu dia a dia é em busca de melhorar a realidade de comunidades que realmente precisam. Recebi recentemente na minha casa algumas mulheres da União Brasileira de Mulheres (UBM) para desenvolver uma ação voltada a educação.
DCM: Três gerações da sua família morreram num acidente aéreo em 2009. Eles teriam orgulho dos seus posicionamentos políticos hoje?
RL: Minha luta é pelo social, assim como sempre foi da minha família. Quem conhece a história da minha família, sabe o quanto ela sempre valorizou o trabalhador.
DCM: Você foi esposa do ex-delegado Protógenes Queiroz. Como você enxerga a Lava Jato e operações anticorrupção que só atingem o PT?
RL: Considero que a Operação Lava Jato transplanta modelos e conceitos jurídicos de outros países, provenientes do combate ao crime organizado. Ao meu ver ela fornece elementos para que instituições estrangeiras promovam ações contra os interesses nacionais.
Aniquilou empresas, exterminou postos de trabalho, dificulta a realização de acordos de leniência, entre outras ações. Ela constituiu um embrião de poder paralelo, instituindo medidas de exceção em lugar do Estado Democrático de Direito.
O protagonismo político da Lava Jato é indevido, fere o sistema de pesos e contrapesos entre os poderes da República. Ela é o partido mais agressivo do consórcio golpista. Creio que o real sentido político desta história é uma operação que tenta desabilitar o presidente Lula de se lançar candidato em 2018.
DCM: Alguns setores da esquerda criticam a ajuda que uma pessoa como você, que é rica, dá ao Lula. Como encara as críticas?
RL: Eleger Lula presidente é muito mais importante do que qualquer tipo de crítica relacionada à minha classe social. Estamos no momento que devemos vislumbrar a união máxima em prol do país. Eu quero ajudar Lula a ajudar milhões e milhões de brasileiros que precisam dele.
DCM: Como você entende o fato de Bolsonaro ter um percentual de intenção de voto vindo de gente com educação e posses?
RL: É birra de crianças mimadas. Eles sabem que Lula é o melhor para o Brasil, mas não querem aceitar isso. Então insistem no Bolsonaro, assim como insistiram no Aécio.
DCM: Você deve se lançar como deputada pelo PCdoB em 2018. Por que nesse partido?
RL: Na verdade já faço parte do PCdoB desde que fui casada com Protógenes. Tive oportunidade de conhecer de perto o partido e seus princípios.
Estou filiada no PCdoB porque o partido tem um projeto de desenvolvimento para o país que contempla o crescimento econômico com distribuição de renda que considero importante para a sustentabilidade.
Projeto que não é de hoje. Desde 2014 o partido defende isso. Me sinto absolutamente à vontade no PCdoB.
Tirar Dilma foi esfaquear a democracia. Deu no que deu … no que estamos vivendo hoje.
DCM: Você acha que o PT errou quando esteve no poder?
RL: Teve mais acertos que erros. Isso é um fato inegável. Acredito que em relação ao erros podemos apontar alguns exemplos do ciclo Lula/Dilma.
Foi um erro grave ter mantido intacta a estrutura conservadora do Estado. A democratização, a modernização do Estado e o combate ao poder exorbitante das corporações de agentes públicos foram um tema que passou ao largo e, no geral, foi tratado quase sempre com um falso republicanismo. Igualmente grave foi ter sido tratado como intocável o monopólio dos meios de comunicação. A regulamentação do setor, em alguma medida, deveria ter sido realizada.
Houve uma subestimação da luta de ideias, da necessidade de informar e politizar o povo através de meios e instrumentos diversos. O governo não se empenhou devidamente pela Reforma Política democrática. Em consequência, adentrou em um verdadeiro campo minado que, estruturalmente, o expôs a denúncias de corrupção que, manipuladas pela grande mídia, provocaram uma fratura na confiança que o povo depositava no governo e na esquerda.
Provou-se correta a concepção tática de que a esquerda nem vence e nem governa sem alianças, sem constituir maioria no Congresso Nacional e na sociedade. São indispensáveis coalizões amplas, firmadas em torno de programas e lideradas pelas forças progressistas e de esquerda.
Foi um erro a não realização, ainda que de modo parcial, das reformas estruturais. No período 2007-2012, estabeleceu-se correlação de forças mais favorável, criando espaço para se tentar implementar as reformas, mas os governos Lula e Dilma não souberam aproveitá-lo. Faltou-lhes visão, convicção e decisão política.
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