Lula retorna a Brasília Teimosa, em Recife, onde teimosia é o jeito para sobreviver
CARAVANA
Ex-presidente dedicou manhã deste sábado (26) para revisitar bairro de pescadores que já foi de casas de palafitas e que a partir de 2004 passou por um processo de revitalização que se tornou referência
por Cláudia Motta, especial para a RBA publicado 26/08/2017
Ex-presidente dedicou manhã deste sábado (26) para revisitar bairro de pescadores que já foi de casas de palafitas e que a partir de 2004 passou por um processo de revitalização que se tornou referência
por Cláudia Motta, especial para a RBA publicado 26/08/2017
MÍDIA NINJA
Lula e Dilma são recebidos em comunidade de pescadores de Brasília Teimosa, na orla de recife
Recife – Em seus discursos pelo Brasil afora, o ex-presidente Lula sempre lembra que aos 71 anos poderia estar em casa, descansando, cuidando da vida, dos netos. Mas teima em estar na estrada. “Decidi retomar a caravana, porque quero conversar com o povo para saber porque esse país estava tão bom e porque piorou tanto”, costuma dizer sobre a caravana Lula pelo Brasil, que neste sábado “meiou”, como costuma dizer o povo nordestino. Há dez dias percorrendo a região brasileira mais prejudicada pelos cortes de verbas dos programas sociais, da saúde, educação, a comitiva já passou pelos estados da Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco e segue hoje (26) para João Pessoa, na Paraíba.
A teimosia de Lula é a mesma que se vê por aqui, principalmente nos lugarejos mais humildes, nos assentamentos dos sem terra, no povo que já perdeu quase tudo que havia conquistado, mas teima em manter o sorriso nos lábios, a doçura nos gestos.
Assim também é o bairro que a caravana visitou no último ato em Recife. Brasília Teimosa começou como uma ocupação. O nome vem do fato de ter surgido na mesma época da construção de Brasília, na década de 1960. E porque "teimosamente", as pessoas voltavam a ocupar o local toda vez que o poder público, à época, retirava os moradores da região próxima ao centro histórico da capital pernambucana.
Durante décadas, os moradores viveram em palafitas de madeira, em condições insalubres.
Após uma visita, em 2003, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e o prefeito petista João Paulo, deram início a um projeto que marcou a história da cidade: a retirada das palafitas e a requalificação da orla de Brasília Teimosa. Foram removidas 1.864 palafitas e entregues 4.552 unidades habitacionais.
Além disso, a região ganhou uma orla toda urbanizada e uma nova via, a Avenida Brasília Formosa.
Reencontro
Na visita deste sábado (26), Lula se reencontrou com milhares de teimosos como ele. Uma delas é a 'pescadeira' (como se diz por aqui), Alda Maria Mendes da Silva, 74 anos.
Aposentada, ela conta que vem passando dificuldades. Nos governos petistas, a gente recebia feira (cesta básica) todo mês e acabou há quase dois anos. Vinha pela colônia (a associação de pescadores onde Lula foi recebido aqui) e ajudava muito porque a aposentadoria não dá. "Cheguei aqui com nove anos. Pescava desde essa idade", disse a senhora, natural de Olinda, que viu o marido e o filho serem assassinados pela violência na região. "Quero ele de volta e que o Bolsa Família e tudo que ele fez de bom volte também."
Aposentada, ela conta que vem passando dificuldades. Nos governos petistas, a gente recebia feira (cesta básica) todo mês e acabou há quase dois anos. Vinha pela colônia (a associação de pescadores onde Lula foi recebido aqui) e ajudava muito porque a aposentadoria não dá. "Cheguei aqui com nove anos. Pescava desde essa idade", disse a senhora, natural de Olinda, que viu o marido e o filho serem assassinados pela violência na região. "Quero ele de volta e que o Bolsa Família e tudo que ele fez de bom volte também."
Outra coisa que Lula deu aos teimosos, foi oportunidade. E Felipe Mendonça agarrou, “com unhas e dentes”. “A visita de Lula ao nosso bairro representa muito. Aqui onde a gente está era palafita e o pessoal não tinha condição humana nenhuma de viver. Ele transformou nisso aqui que a gente está hoje. Deu oportunidade a quem precisava”, disse o rapaz de 30 anos, nascido e criado no bairro. “Estudei em escola pública, me formei em Direito, passei na OAB, fui pra uma missão de paz na ONU graças ao fato de ele [Lula] tanto ter brigado para o Brasil ter acento no Conselho de Segurança”, relata o advogado que trabalha com direito previdenciário para auxiliar os pescadores a conseguir aposentadoria especial em Brasília Teimosa.
“O que a gente mais precisava era oportunidade. Quem conseguiu, agarrou com unhas e dentes e eu sou prova: eles fizeram algo por quem mais precisava, que é gente que é pobre. Quem está lá em cima não sabe o que é não.”
Quem está lá em cima, como diz Felipe, sabe mesmo muito pouco sobre o que acontece nesse Brasil que não passa nas telas da TV. Como costuma dizer o ex-presidente, o Nordeste só era notícia quando tinha seca, quando tinha saque. “E agora isso está voltando.”
Oportunidade é também o que sonha para os filhos Carolina Patricia dos Santos, 40 anos, que levou a filha de 2 anos e meio, Maria Cecilia, para ver Lula. As duas nasceram em Brasília Teimosa. Carolina trabalha com as crianças que foram se apresentar um maracatu para homenagear Lula. É da Flau, uma ONG que tirou as crianças das ruas. “Antes elas vendiam picolé, gelinho e graças ao bolsa-família puderam estudar e ficam com a gente na instituição enquanto as mães trabalham.”
Alexandra Maria de Oliveira, 37 anos, três filhos, queria falar com Lula para ver se ele a ajudava a conseguir uma casa. "Minha esperança é só ele e Deus", disse. Moradora de Brasília Teimosa nos tempos das palafitas, foi enganada pelo dono do barraco onde morava e ficou sem casa. Ele ficou com o apartamento do programa promovido pelo governo à época. Hoje vive com a sogra nas proximidades. "Recebo bolsa família graças a Lula." E diz querer "tirar o Temer antes que ele tire meu bolsa família. Eu quero Lula. Temer é ladrão e quero que ele saia. E não gosto que falem mal de Dilma." A ex-presidenta se incorporou à caravana em Recife e vem recebendo muito carinho do povo por onde a comitiva passa.
As mulheres são, em Brasília Teimosa, guerreiras. Não à toa, assim é conhecida Edileuza Silva Nascimento: mulher guerreira. A marisqueira, de 61 anos, vive a mais de 40 no bairro. Faz parte da associação de pescadores e atua na luta contra a violência às mulheres. Ela mostrou as mãos, já sem digitais em função do mercúrio nas águas e da retirada dos mariscos. “Quando Lula estava no poder, era tudo uma maravilha. Agora parou tudo. A gente tinha todo apoio, mas agora está tudo indo de água abaixo”, disse a trabalhadora que todos os dias sai às 4h30 da manhã para pescar e não tem hora pra chegar. “A gente luta demais. Tem pescador que sai pra maré e não toma nem café, porque não tem nada pra comer. Por isso ele tem de continuar no poder que é pra poder a gente crescer, tá entendendo?”
Crescer e realizar sonhos, como diz Celeste Valença. “Tudo isso era um sonho de muitos anos. Lula disse que ia fazer e fez”, lembra a professora de educação física, de 71 anos, aposentada que durante 14 anos atendeu os alunos da pré-escola da região. “Não só a obra grandiosa para o povo de Brasília Teimosa, mas também uma fábrica de gelo, que abastece de norte a sul da região, carregando barcos com gelo, que é fundamental para a conservação dos pescado.” Essa é a profissão da maioria dos moradores da região.
Há mais de 40 anos vivendo em Brasília Teimosa, Celeste diz que só tem a agradecer a Lula. “Não só pelo que ele fez por Brasília Teimosa, mas pelas mudanças que ele fez em todo o Brasil. O Nordeste era considerado um apêndice do país e Lula viu que Norte e Nordeste eram estados produtivos, era só ter uma oportunidade e Lula deu essa chance ao povo. A gente só tem de agradecer por tudo que ele tem feito, e a gente espere que ele volte, sim, para fazer muito mais por esse país e pelo povo brasileiro. Porque quando tivéssemos um presidente que amasse o povo, as mudanças começariam a acontecer e foi assim quando Lula assumiu a presidência desse país.”
Lula na Paraíba
Por volta de 16h30 tarde do sábado a caravana chegou a João Pessoa. A viagem, de cerca de uma hora e meia foi feita em quase o dobro do tempo. Lula foi recebido em Goiana, cidade divisa entre Pernambuco e Paraíba, na já tradicional transmissão de bandeiras entre os estados por onde a caravana passa. Os sem-terra que querem a desapropriação da Usina Maravilha, que faliu, ofereceram um lanche. Mais alguns quilômetros e nova parada, em Mata Redonda, onde Lula desceu para falar com o povo que mais uma vez tomava a estrada na esperança de ver de perto o ex-presidente.
À noie, durante ato público na Praça Ponto de Cem Réis, o ex-presidente recebe título de Cidadão Honorário da capital paraibana. Na manhã deste domingo, às 11h, terá encontro com movimentos sociais no Parque Ecológico Bodocongó, em Campina Grande.
Com informações da Agência PT de Notícias
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