Cunha insinua que Fachin foi nomeado por interesses da JBS
Em carta em tom de vítima, ex-parlamentar extende críticas contra Sérgio Moro ao também relator no Supremo: "ditadura da República de Curitiba, do estado do ministro [Fachin]"
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Jornal GGN - 28/08/2017 - O ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) acusou o ministro relator da Operação Lava Jato, Edson Fachin, de obstruir pedidos de liberdade e de beneficiar delatores da JBS. Em ofensiva arriscada, o ex-presidente da Câmara dos Deputados acusou o dono do grupo, Joesley Batista, e o executivo Ricardo Saud de manter "relação de amizade" com Fachin e de influenciar a aprovação do nome do ministro para a Suprema Corte, em 2015.
Em carta escrita diretamente do complexo penal em Curitiba, Cunha afirmou: "Quando os senhores Joesley Batista e Ricardo Saud me procuraram para ajudar na aprovação do então candidato ao STF Edson Fachin, além da relação de amizade que declararam ter com ele, me passaram a convicção de que o país iria ganhar com a atuação de um ministro que daria a assistência jurisdicional de que a sociedade necessitava."
A carta não insinua diretamente que Eduardo Cunha busca acusar o ministro relator da Operação Lava Jato, mas o faz quase em cena de acidente. Propositalmente, o documento foi escrito como uma espécie de desabafo do ex-parlamentar peemedebista, incomodado com a suposta falta de julgamento de seus recursos no âmbito da Operação Lava Jato. Sem ameaça explícita, indica que tem o que entregar, inclusive contra o ministro.
Iniciou mencionando o habeas corpus dos ex-ministros de governos petistas José Dirceu e Antônio Palocci. "No meu caso, houve retardamento da instrução necessária onde até o pedido de informações ao juiz de Curitiba foi feito pelo correio, ao invés do pedido eletrônico. Após essa demora, o relator ainda demorou um mês para enviar ao Ministério Público, apesar de reiteradas petições de cobrança", tentou comparar.
Cunha reclamou que "mesmo após tudo isso", o seu recurso está pronto para ser julgado desde junho deste ano, sem avanços. Nos desabafos, fez menção até mesmo ao atual presidente da República, Michel Temer, de forma indireta: "Só como exemplo da falta de prova, alguém ligado a mim saiu carregando alguma mala monitorada? Se até quem carregou a mala foi solto, por que continuo preso?", questionou, em referência a Rocha Loures, ex-assessor do mandatário.
Em seguida, traz a acusação contra Fachin como uma tentativa de mostrar que acreditava no seu papel de "assistência jurisdicional de que a sociedade necessitava". Mas que: "hoje estamos vendo que a assistência célere e eficiente foi a obtida pela JBS e seus donos, onde em apenas três dias conseguiram homologar um acordo vergonhoso, onde ficaram livres, impunes e ricos", continuou.
Em tom de sacrificado, concluindo a carta da mesma forma como a começou, em uma analogia de que ele não teria mais a quem recorrer senão ao Papa, o peemedebista diz que quer "ter o direito ao julgamento e não ser vítima de uma obstrução da Justiça a que todos os brasileiros têm direito".
O fim do documento explicita que Eduardo Cunha dirigirá as críticas que vêm tomando contra o juiz da Vara Federal de Curitiba, Sérgio Moro, ao relator no Supremo, Edson Fachin. Iguala ambos, ao afirmar que os résu da Lava Jato não podem "ficar reféns de uma ditadura da República de Curitiba", expressão usada para as investigações sob o comando exclusivo de Moro, acrescentando: "estado do ministro [Fachin]".
Leia a carta completa:
Recurso ao papa
Apesar de ser evangélico e não acreditar que o papa é o representante de Deus na Terra, tenho de me render ao ditado popular e, quando não se tem mais a quem recorrer, recorra ao bispo ou ao papa. Como o papa é mais graduado, ficarei com ele.
No último dia 2 de maio, foi julgado o habeas corpus de Jose Dirceu na segunda turma do STF e contra a vontade e o voto do relator, ministro Edson Fachin, foi libertado Dirceu.
A partir desse momento, como uma criança que perde e leva a sua bola para casa acabando com o jogo, o ministro não pautou mais nenhum HC [habeas corpus] na turma. Ainda levou o HC de Palocci para o pleno do STF, sem pautá-lo, levando inclusive Palocci a impetrar um HC contra o próprio ministro Fachin pedindo julgamento.
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