Kiko Nogueira: Como a Globo está domesticando e pressionando os juízes do TRF-4 para terminar o serviço de Moro.

Carlos Eduardo Thompson, presidente do TRF-4, estreia no Jornal Nacional
Por Kiko Nogueira - no DCM - 13 de julho de 2017

Da mesma maneira que fez com Sergio Moro, seu torquemada de estimação, a Globo está cuidando agora de domesticar e pressionar o Tribunal Regional da 4ª Região (Sul) no sentido de terminar o serviço contra Lula.

O Jornal Nacional dedicou boa parte de sua edição de quinta, dia 13 de julho, para explicar como opera o tribunal que pode tornar Lula inelegível.

A matéria era parte didatismo, parte wishful thinking. Só faltou o repórter falar “Se Deus quiser, o destino do vagabundo será selado por estes guerreiros”.

Imagens do interior daquela corte e closes dos desembargadores João Pedro Gebran, Leonardo Paulsen e Victor Luiz Laus ilustravam a trama.

Num determinado momento, entrou ele, Carlos Eduardo Thompson, presidente do TRF-4, asseado, um retrato em aquarela ao fundo de algum medalhão no quadro, o cabelo emplastrado de brilhantina, declarando o que a emissora queria ouvir: até agosto de 2018, antes da eleição, o processo em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi condenado a nove anos e seis meses de cadeia estará julgado em segunda instância.

A pedidos, Thompson foi além: deu sua opinião sobre a sentença do Homem de Maringá. “Olha! Muito bem trabalhada!”, cravou, a mão direita reforçando o ponto. Ironizou em seguida o fato de Lula ter criticado a ação.

Ou seja, tudo no script.

Daqui em diante, Thompson e seus amigos serão presença constante em todos os veículos do grupo. Será convidado dos programas de entrevistas (o de Roberto D’ávila é batata) e, eventualmente, ganhará algum prêmio do tipo “Faz Diferença” ou uma patacoada dessas.

Como a Globo pauta o resto da mídia preguiçosa, serão abertas as portas da fama para Thompson e companheiros. Conheceremos sua casa, seus familiares, seus animais de estimação — e seu rigor no trabalho.

A ofensiva sobre eles teve seus preâmbulos. Em junho, Merval Pereira escreveu no Globo que “se a impugnação na segunda instância acontecer depois que sua candidatura [a de Lula] à presidência da República estiver homologada pela convenção do PT, teremos uma crise institucional instalada no país.”

Míriam Leitão, por sua vez, atacou a estratégia lulista baseada “na tese delirante de que ele é um perseguido político”.

“Uma grande parcela do seu eleitorado ele perdeu para sempre. Ele sabe disso, mas o importante para Lula é ser candidato para que quanto mais perto fique do pleito, mais difícil seja para o tribunal de segunda instância condená-lo. É uma corrida contra o tempo, que será atravessada em um período de aumento da tensão política no país”, escreveu.

O recibo da parceria com o Judiciário está no texto de Moro condenando Lula. Na síntese das “provas documentais” de que Lula é dono do triplex do Guarujá está uma reportagem publicada pelo Globo em 2010.

Segundo Sergio Moro, nenhuma das testemunhas, nem o material apresentado pelos advogados ou muito menos o depoimento de Lula jamais conseguiram desmentir aquela reportagem, publicada antes da Lava Jato apurar o caso. 

Sim um recorte velho contém a verdade.

Alguns dos maiores juristas do Brasil criticaram pesadamente as mais de 200 páginas perpetradas por Moro. O cientista político Leonardo Avritzer chamou-as, simplesmente, de “lixo”.

Para Afranio Silva Jardim, professor associado de Direito Processual Penal da Uerj, processualista consagrado e ex-mestre de Moro, “Lula foi condenado por receber o que não recebeu e por lavagem de dinheiro que não lhe foi dado”.

“Olha! Muito bem trabalhada!”, garante Carlos Eduardo Thompson do seu lado. Uma bandeira inesquecível.

Das 48 sentenças de Moro revisadas pelo TRF-4, dez foram mantidas e 16 aumentadas.

Para que o roteiro dê certo, teremos de nos acostumar a ver os antes anônimos meritíssimos transformados em popstars. Depois eles somem novamente.

Prepare-se para ter saudade do Japonês da Federal.

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