Janio: Sérgio Cabral não pagará pelo pior crime de seu currículo
Servidores do RJ fazem fila por cesta básica |
Sérgio Cabral responde a 12 inquéritos. É um patrimônio judicial que, além de honrar o seu patrimônio em ourivesaria, imóveis e outros bens, compõe um sortido rol de acusações, suspeitas e artigos do Código Penal contra ele reunidos pela Procuradoria da República e pela Polícia Federal. Apesar de tanta fartura, e ainda que todos os inquéritos comprovem crimes e cheguem a condenações, Sérgio Cabral não pagará pelo pior, de mais deploráveis consequências e comprovado crime presente nos seus currículos de governante e de pessoa. Um dano que atinge todo o país.
Sérgio Cabral traiu e destruiu o avanço feito pelo plano de ação que teve as UPPs, Unidades de Polícia Pacificadora, como bandeira e ponta-de-lança. Em dezenas de anos de discussão e tentativas, incluída até a criação oficial de um esquadrão da morte nos anos 70, o plano iniciado pelas UPPs foi o único dotado de inteligência, criatividade e viabilidade nos limites estritos da legislação. E capaz de adaptação a todos os núcleos comunitários de violência sistemática, prósperos em todos os Estados. Hoje esquecidas, as pesquisas sociológicas e estatísticas dos primeiros anos das UPPs no Rio preservaram a demonstração de sua eficácia contra o crime organizado em torno das drogas e do roubo armado.
Por irresponsabilidade pessoal e administrativa, aliada a descaso –as chamadas incúria e desídia–, Sérgio Cabral não deu andamento às medidas complementares à instalação de cada UPP. Em pouco mais, passou à lenta sufocação orçamentária do dispositivo estadual de segurança, incluído o programa de que as UPPs eram o posto avançado. O plano todo ruiu.
Os fugitivos voltaram aos territórios perdidos. As ocorrências, em crescendo constante, hoje estão em disparada. Sobretudo nos municípios da Baixada Fluminense e na periferia do Rio, onde prevalece a monstruosidade de pobres atacando pobres: assaltos a trabalhadores em filas de condução de manhãzinha, "limpeza" em passageiros de ônibus e vans, roubos em trens. As ruas da região urbana vivem, com características e escala próprias, o mesmo clima de descontrole, insegurança e impotência.
O plano iniciado pelas UPPs não faria milagres. Provou, porém, a capacidade de mudar o panorama, pela mudança por via lúcida e legítima do sistema de vida em regiões transtornadas. Sem que o plano tenha falhado, porque não foi além do passo inicial e o realizou com êxito, hoje as UPPs são alvo de críticas fora dos seus locais e alvo de fuzis onde se localizam. Volta-se ao blablablá das falsas ideias. Diz o ministro da Defesa, Raul Jungmann: "Defendo uma força-tarefa com Polícia Federal, Ministério Público e Justiça Federal que durante anos faria uma assepsia no Rio". Não percebeu nem as duas preliminares.
O problema não está no que usar, que é óbvio, mas em COMO usar com inteligência, legalidade e eficácia. É o que o plano iniciado com as UPPs resolvia. Além disso, não adianta pensar em algo para o Rio. É preciso pensar em método de ação. Em algo que, aprovado, se aplique aos outros Estados. O problema no Rio é mais gritante, também porque no Rio se grita mais com o sensacionalismo de imprensa e TV locais. O descontrole, no entanto, está no país todo.
São Paulo assusta-se agora com o roubo de 5.417 cargas de caminhão só no primeiro semestre, como revelou Rogério Pagnan na Folha. Em média, 903 por mês. Mas em outros Estados não há susto apenas porque não houve publicação semelhante. Ou se pensa em um método de aplicação ampla, ou um plano de eficácia apenas paulista só serviria para transferir o campo de ação, vitimando fora de São Paulo também os caminhoneiros e empresas paulistas.
O agravamento do descontrole sobre a criminalidade organizada em torno das drogas e do roubo armado deve-se, em parte, à crise econômica. Outros fatores não são menos importantes. Michel Temer e seus ministros da Defesa e da Justiça devem há dois meses a simples ordem de envio de mais tropas de segurança para o Rio. E Sérgio Cabral deixou, na extinção da mais promissora iniciativa de segurança interna, a sua impressão digital –como se fora um treinamento para aplicá-la muitas vezes na vida de presidiário e multiprocessado.
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