“Chefe de família” e “carreira elogiável”: ninguém entendeu a piada de Marco Aurélio Mello sobre Aécio. Por Kiko Nogueira

 Por Kiko Nogueira - no DCM - 1 de julho de 2017

O Brasil é o país onde a expressão “o melhor detergente é a luz do sol” não tem validade.


Chegamos a um ponto em que o descaramento virou regra e é tão banal quanto um picolé de limão.
Veja Michel e seus ladrões.
Veja Aécio Neves à vontade para pedir a Edson Fachin, relator da Lava Jato no STF, que um dos inquéritos abertos para investigá-lo a partir das delações da Odebrecht seja remetido para relatoria do amigo Gilmar Mendes.

Dos cinco que o tucano responde, três já foram redistribuídos a outros ministros – Gilmar, Ricardo Lewandowski e Alexandre de Moraes.
No requerimento, os advogados argumentam que a apuração trata de suspeitas de fraudes no setor elétrico, mesmo tema do processo que já está com Gilmar.
Segundo a defesa, há “íntima relação entre os fatos”. Não só entre os fatos.
A semana de Aécio foi plena de realizações: irmã Andrea e primo Fred soltos da cana, salvação no Conselho de Ética — e o mandato de volta.
A sentença de Marco Aurélio Mello devolvendo-lhe a cadeira no Senado deve ser entendida como um deboche na era da pós-normalidade, uma homenagem ao vício e à hipocrisia.
“Mandato parlamentar é coisa séria e não se mexe, impunemente, em suas prerrogativas”, escreveu o juiz, com o cadáver do impeachment ainda quente.
Não cabe àquela corte “muito menos, por ordem monocrática, afastar um parlamentar”. O mineiro foi “o segundo colocado nas eleições à Presidência da República de 2014 – ditas fraudadas”. Ditas fraudadas, repito.
Aécio jamais fugiria (por que faria isso, se ele pode tudo por aqui?): “No tocante ao recolhimento do passaporte, surgem ausentes elementos concretos acerca do risco de abandono do país, no que saltam aos olhos fortes elos com o Brasil”.
A chave de ouro: trata-se de um “chefe de família, com carreira política elogiável”.
Provavelmente Marco Aurélio terminou essa frase rindo com seus estafetas. Conseguiram compor uma peça irônica, cheia de indiretas maldosas aos familiares chave de cadeia e à fama festeira de Aécio.
Marco Aurélio Mello precisava justificar sua mãozinha a um sujeito flagrado acertando propina e dizendo que seu emissário teria que ser “um que a gente mata ele antes de fazer delação”. Não é fácil.
Conseguiu cumprir sua missão com um texto de humor. Aécio, pelo menos, está rindo — de você.

Comentários