Marcelo Auler: Vazamentos e perseguições continuam na República de Curitiba
Foto: André Richter/Agência Brasil |
Do blog de Marcelo Auler
por Marcelo Auler
O Inquérito Policial nº 50236241620154047000, tramita em segredo na 14ª Vara Federal de Curitiba. Ainda assim, uma hora depois de o Ministério Público Federal protocolar uma denúncia contra o delegado federal Mario Renato Castanheira Fanton, e antes de o documento chegar às mãos do juiz Marcos Josegrei, a acusação virou notícia no G1 do Paraná e no Antagonista. Horas depois estava em outro Blog considerado “porta-voz” da República de Curitiba, no Estadão.
Foi mais um vazamento de uma – ou será das duas? – das instituições que formam a Força Tarefa da Lava Jato: a Superintendência Regional do DPF no Paraná e a Procuradoria da República em Curitiba. Isto, apesar de os policiais federais se dizerem ameaçados de boicote pelo governo de Michel Temer e o Ministério Público Federal e juízes protestarem contra a possível aprovação da Lei do Abuso de Autoridade.
Não foi a primeira vez que um vazamento atingiu o delegado Fanton, na expectativa de queimar sua imagem e reputação. Típica retaliação e perseguição a quem, em 2015, denunciou à Corregedoria do DPF irregularidades que estavam sendo cometidas pela Polícia Federal do Paraná. Denúncias amplamente confirmadas, como mostraram as duas sindicâncias que confirmaram o uso de escutas clandestinas e ilegais naquela superintendência.
Na Justiça Federal o caso está sob sigilo, mas ainda assim a notícia da denúncia vazou para os “porta-vozes” informais da República da Lava Jato. Continuam perseguindo Fanton.
A diferença entre o vazamento ocorrido em agosto de 2015 e o desta quarta-feira (31/05) é apenas no tempo em que eles ocorreram. Em agosto de 2015, poucos dias depois de ser ajuizada denúncia contra ele e o agente federal Dalmey Fernando Werlang, por suposta calúnia contra os delegados da cúpula da superintendência, o caso foi parar no mesmo blog do Estadão e virou chamada de primeira página de um domingo, como relatamos em Calúnia na PF-PR: juiz rejeita denúncia e critica MPF. Desta vez, o intervalo entre a denúncia e o vazamento foi de uma hora.
No blog do Estadão, porta-voz informal da Operação Lava Jato, a meia verdade: falam da denúncia de 2015, mas não revelam que ela foi rejeitada em juízo que, inclusive, criticou o MPF. O Recurso ao TRF-4 também foi rejeitado, por unanimidade da turma.
O mais grave é que o Estadão conta meias verdades. A reportagem lembra uma acusação contra Fanton e Werlang em 2015, afirmando que esta é a segunda vez que o delegado é denunciado. Mas não diz aos leitores que o juiz da 12ªVara Federal de Curitiba, Danilo Pereira Júnior, não apenas rejeitou a denúncia, como em uma crítica velada ao MPF, apontou erro na capitulação do tipo penal. Também mite a informação que o recurso do MPF ao Tribunal Regional Federal da 4ª Região (Sul do país), que em quase tudo apoiou as iniciativas da Força Tarefa da Lava Jato, por unanimidade manteve a decisão de primeira instância. Ou seja, a primeira denúncia, foi um tiro n’água.
Da mesma forma, o noticiário tendencioso não revela que todas as acusações que Fanton encaminhou à Corregedoria do DPF acabaram confirmadas pela nova sindicância realizada (02/2015), o que gerou, inclusive, a proposta de processo disciplinar contra dois delegados da cúpula da Superintendência: Daniele Gossenheimer Rodrigues e Maurício Moscardi Grillo.
A nova acusação contra o delegado que é lotado em Bauru (SP), segundo explicou seu advogado, Michel Asckar, em carta enviada ao Portal G-1 do Paraná que se recusou a publicá-la (veja íntegra abaixo). O Portal também retirou o comentário postado em defesa do delegado, em uma demonstração clara que a imparcialidade anda distante do jornalismo brasileiro.
Pelas explicações do advogado Asckar, tal como ocorreu em 2015, a nova denúncia contra Fanton deverá ser rejeitada em juízo. Ela é claramente uma retaliação ao delegado pelas denúncias levadas à Corregedoria. Segundo as notícias publicadas na quarta-feira pelos três blogs, a acusação é de ele ter, no dia em que prendeu o ex-deputado André Vargas, no bojo da Operação Lava Jato, supostamente vazar investigações da Operação Carne Fraca ao ex-deputado federal André Vargas. Na denúncia, o MPF afirma que o ex-parlamentar era próximo do fiscal do Ministério da Agricultura Juarez José Santana, envolvido em escândalos de corrupção na pasta.
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