Helena Sthephanowitz: Áudios de Aécio e Andrea Neves revelam bastidores da relação do poder com a mídia

CENSURA
Grampos trazem à tona como senador afastado age para calar seus críticos, prática já denunciada diversas vezes pela imprensa de Minas Gerais
por Helena Sthephanowitz publicado 02/06/2017
EBC
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Aécio Neves, conhecido por censurar a mídia mineira, também atacou jornalistas no Paraná e em Brasília
Os áudios dos grampos autorizados pela quebra de sigilo telefônico do senador Aécio Neves (PSDB) e de sua irmã Andrea pelo Supremo Tribunal Federal (STF), nas investigações sobre as delações de Joesley Batista, dono da JBS (Friboi), e que foram divulgados nesta quarta-feira (31), revelam mais que o "mal-estar" entre os tucanos, como enfatiza a relação entre Aécio Neves e imprensa. Uma relação já conhecida, porém, até então, sem provas.

Em meio à troca de "fogo amigo" ou no calor de uma operação "salve-se quem puder", com direito a ameaças veladas – "nós estamos do mesmo lado nessa história"; "porque te envolve"; "sabe o que vai acontecer? joga você no meio" – as conversas, carregadas de palavrões por parte de Aécio, trazem à tona também o modus operandi de uma turma que é profissional em pressionar e calar qualquer crítica ou dissonância na imprensa em relação aos seus interesses.
Nos áudios, o presidente nacional do PSDB, o senador afastado, dá ordens expressas ao governador do Paraná, o também tucano Beto Richa, para acionar sua assessoria de imprensa ("pessoal mais qualificado"), a fim de intervir para tirar rapidamente do ar a matéria "Aliado do Paraná já considera Aécio na cadeia", postada (e retirada) pelo UOL do Paraná.
Na matéria,  que causou celeuma no ninho tucano poucos minutos depois de ir ao ar no UOL Paraná, repercutia um comentário de Valdir Rossoni, secretário-chefe da Casa Civil do governo Beto Richa dizendo que visitaria Aécio Neves na cadeia, quando ele fosse preso por causa das contas mantidas na Suíça com as propinas recebidas do esquema de corrupção. O link para a matéria está inacessível, mas seu depoimento é reforçado por um vídeo, também contundente, contra Aécio.
Nesse meio tempo, a própria assessoria de Aécio Neves já teria partido para a ofensiva sobre os correspondentes do portal UOL em Brasília, com receio da viralização do vídeo e do impacto nacional das declarações de Rossoni, que Aécio orienta tachar de "má interpretação dos fatos".
Em outro momento, Aécio conversa com outra pessoa subordinada a ele, provavelmente um assessor, chamado "Flávio", e ordena a retirada do ar também do vídeo de Rossoni e manda que o subordinado volte a ligar no celular de Richa para conseguir isso. Ele orienta o que dizer ao governador: "O senador tá muito chateado (...) Tudo bem que o UOL tirou, mas o cara (Rossoni) tem de tirar a postagem, porque eles estão agora explorando a postagem do cara", diz Aécio. 
Como os grampos estão apenas ligados às investigações sobre as delações dos empresários da JBS, disponíveis na quebra de sigilo do STF, as conversas divulgadas só revelam as comunicações entre Aécio e sua irmã. Os diálogos entre os tucanos Richa e Rossoni ou das assessorias intimidando os veículos de comunicação não estão no foco dessa investigação.
A suposta "teimosia" do chefe da Casa Civil de Beto Richa, ambos (governador e secretário) com interesses eleitorais bem definidos, soa como uma tentativa de blindagem de mais um escândalo envolvendo Richa e Rossoni, bem como de se distanciar das denúncias e do avanço de investigações que cada vez mais batem às portas palacianas no Paraná.
Existem mais arquivos de gravações disponibilizados pelas quebras de sigilo do STF, bem como ocorre seletividade por parte dos veículos da imprensa grande na escolha dos trechos, enfoques e versões. Uma escolha a dedo sobre o quê e quem beneficiar ou colocar em maus lençóis.
Curioso que, todas as vezes em que o senador afastado sugeriu ao governador do Paraná estarem todos no mesmo barco ou do mesmo lado dessa história, recebeu a concordância de Richa: "Eu sei (...) É, estamos todos!".

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