Deu no NYTimes: o nº 1 dos espiões no Brasil expõe o chefe da CIA

Mais uma lambança do Postiço: Sergio Etchegoyen, chefe do Gabinete da Segurança Institucional, se encontrou com o chefe da CIA no Brasil, Duyane Norman e revelou sua identidade secreta. A pergunta que não quer calar: o que o governo golpista foi tratar com um agente de espionagem dos EUA?

Por Nocaute em 20 de junho às 20h05

Nocaute traz pra você a tradução da reportagem do New York Times:
Com espada, mas sem capa: principal espião brasileiro expõe oficial da CIA

Por SIMON ROMERO e DOM PHILLIPS
20 de junho de 2017

Grafiti em Brasília, em 12 de junho. A identidade de um oficial do alto escalão da CIA é exposta enquanto o agente estava terminando uma missão no Brasil. Eraldo Peres/Associated Press
RIO DE JANEIRO — Oficiais de inteligência que almejam um posto no Brasil tomem nota: um simples encontro com a hierarquia de espionagem do país pode expor sua identidade.
A elite política do Brasil foi cativada na segunda-feira pela revelação aparentemente casual da identidade de um oficial da C.I.A.  (Central Intelligence Agency) na capital, Brasília, pelo gabinete do Gen. Sérgio Westphalen Etchegoyen, o oficial de mais alto nível da Inteligência do país.
Os assessores do General Etchegoyen mencionaram o oficial pelo nome e descreveram sua posição como “chefe” do posto da C.I.A. em Brasília na agenda pública de reuniões do espião-chefe no dia 9 de junho.

Identificar um oficial da C.I.A. dessa maneira é visto como algo altamente incomum, dado o nível de sigilo com o qual os espiões devem operar. Mas o gabinete do general Etchegoyen afirmou em um comunicado que os funcionários do gabinete são obrigados a divulgar as agendas de acordo com a Lei de Liberdade de Informação do Brasil, promulgada em 2011. Os nomes e os empregadores daqueles com quem se encontram são registrados para observar o “princípio da publicidade” consagrado na Constituição brasileira, afirmou o comunicado.
No mesmo comunicado, a equipe do general descreveu a reunião como uma “visita de cortesia”, uma vez que o agente da C.I.A. estava terminando uma missão no Brasil.
Em Washington, um porta-voz da C.I.A. se recusou a comentar o assunto.
“Nós vimos os relatórios”, disse uma porta-voz da Embaixada dos Estados Unidos em Brasília, explicando que a embaixada não podia confirmar ou negar [os relatórios].
A lei dos Estados Unidos entende como um crime federal revelar a identidade de agentes secretos de inteligência, e a administração Obama levou a cabo uma verdadeira repressão a tais vazamentos. Ainda assim, o episódio em Brasília ofereceu um lembrete de que as agências de inteligência em outros países podem reger-se por regras diferentes.
A Agência Brasileira de Inteligência, ou A.B.I.N., foi investigada por divulgar as identidades das pessoas que procuravam tornar-se agentes, e espiões brasileiros se queixam da facilidade com que os agentes da inteligência são chamados para comparecer em audiências do Congresso, muitas das quais são televisionadas.
“O Brasil foi feito para grandes maquinações de poder”, disse João Augusto de Castro Neves, um analista político que encontrou a informação sobre a agenda do General Etchegoyen em um boletim informativo e postou uma mensagem no Twitter sobre sua descoberta.
“Eu decidi realmente ler a coisa por completo e notei isso”, disse Castro Neves, diretor para América Latina no Eurasia Group, uma consultoria de risco político.
A divulgação ofereceu uma distração de outros problemas enfrentados pelo governo do presidente Michel Temer, que procurou reestruturar o alto escalão da inteligência do Brasil desde que subiu ao poder no ano passado após da saída de sua antecessora, Dilma Rousseff. O Sr. Temer, um líder profundamente impopular, tem resistido aos chamados para renunciar depois de ter sido secretamente gravado parecendo endossar a obstrução das investigações anticorrupção.
Curiosamente, essa pode nem ser a primeira vez que um agente da C.I.A. tem a identidade revelada no Brasil com tamanho desprendimento. A equipe do diretor da Polícia Federal, uma força de investigação semelhante ao F.B.I., divulgou os nomes de duas pessoas que diziam ser funcionários da C.I.A., em uma agenda de rotina publicada online em 11 de julho de 2016, incluindo a mesma pessoa no centro da divulgação deste mês.
Tradução: Aline Piva

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