Como os muçulmanos salvaram vidas no tenebroso incêndio de Londres

A Grenfell Tower, em Londres, em chamas

Por Kiko Nogueira - no DCM - 14 de junho de 2017

Publicado no Diário de Notícias.
Os moradores muçulmanos da Grenfell Tower, em Londres, podem ter ajudado a salvar muitas vidas na madrugada desta quarta-feira.
Estavam acordados de madrugada por causa do Ramadã quando começou o incêndio no edifício residencial de 24 andares, e que fez pelo menos seis mortos e 50 feridos.
Segundo Rashida, uma das residentes na torre citada pelo The Telegraph, a maioria dos muçulmanos “não dorme antes das 2:00 ou 2:30 da manhã”, já que têm de fazer a última refeição e oração do dia durante o mês do Ramadã.

Quando o incêndio deflagrou, pela 1:15, muitos estavam acordados e foram despertar os vizinhos para que saíssem em segurança.
David Benjamin foi umas das pessoas que se apercebeu do incêndio só depois de ser alertado pelos vizinhos. Alguém bateu à porta do apartamento da namorada no quarto andar e gritou “fogo! fogo!”.
“Tenho sorte por estar vivo”, disse outro morador, que ouviu o alarme de incêndios do apartamento do vizinho e desvalorizou, mas quando começou a ouvir gritos foi o ver o que se passava. “Perdi tudo o que tenho. Estou aqui com tudo o que tenho”, continuou.
Muitas pessoas não tiveram a sorte de conseguir sair do prédio a tempo e, em desespero, tentaram salvar os mais novos. Uma mulher atirou o filho bebé pela janela de um “nono ou décimo andar” e a criança foi apanhada pelas pessoas que estavam na rua, a tentar ajudar os serviços de emergência.
“Uma mulher começou a fazer gestos para mostrar que ia atirar o filho dela para ver se alguém o apanhava”, contou uma testemunha. “Um homem correu e conseguiu apanhar o bebé”, continuou, acrescentando que o pânico é visível no rosto das pessoas que aparecem nas janelas do edifício.
Outra mulher atirou o filho, que deverá ter cinco anos, pela janela de um “quinto ou sexto andar” com um paraquedas improvisado. “Ela atirou mesmo o filho. Acho que ele está bem mas tem alguns ossos partidos e feridas”, disse uma testemunha.
Paul Munakr, morador do sétimo andar do edifício contou que estava a dormir quando começou o incêndio e só soube que algo estava errado porque ouviu gritos, já que não soou nenhum alarme de incêndio no prédio. “Foi só pelo som das pessoas a gritarem ‘não saltem, não saltem. Foi só por isso que acordei'”, contou Paul à BBC.
“Pegou fogo como um fósforo”, disse um morador do 17º andar do prédio. Acordou com o som das sirenes dos bombeiros e disse que só viu o fogo quando pôs a cabeça de fora da janela. “Não houve nenhum alarme de incêndio porque nós não temos esse sistema integrado – é cada apartamento por si”.
“Eu olhei para baixo – tive de me pendurar mesmo para conseguir olhar para baixo, a partir o 17º andar, e vi o fogo a subir muito rapidamente por causa do revestimento [do prédio]”, continuou o homem, que conseguiu escapar com a tia de 68 anos pelas escadas.
Centros comunitários e locais de culto de vários religiões abriram as portas para acolher os sobreviventes que saíram do prédio apenas com o pijama vestido e perderam tudo nas chamas. Há mais de 250 bombeiros a combaterem o fogo e várias ruas de Londres foram encerradas.


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