"Ruralistas têm respaldo para fazer o que quiserem" diz Comissão Pastoral da Terra

O conservadorismo do Congresso e do governo golpista de Michel Temer são elementos decisivos para o aumento do número de homicídios em conflitos do campo. É o que analisa Antônio Canuto, secretário da Coordenação Nacional da Comissão Pastoral da Terra, a CPT, que comentou com a Radioagência Brasil de Fato, 24-04-2017. o recente homicídio do militante do MST Silvino Nunes Gouveia e o massacre de Colniza.

O secretário da Coordenação Nacional da CPT, Antônio CanutoFoto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil.
Até o momento foi confirmado o assassinato de oito moradores do assentamento Taquaruçu do Norte, localizado em Colniza, no Mato Grosso. A matança ocorreu após pessoas encapuzadas invadirem o terreno e torturarem o grupo de sem-terra na última sexta-feira, dia 21. Já o caso de Silvino Gouveia ocorreu no domingo, dia 23, quando o militante foi assassinado com 10 tiros no Assentamento Liberdade, em PeriquitoMinas Gerais.

Os casos ocorreram na mesma semana do aniversário de 21 anos do histórico massacre de Eldorado dos Carajás, e se somaram ao alto número de homicídios de militantes em conflitos por terras no país. De acordo com o relatório anual divulgado pela CPT no dia 17 de abril, os assassinatos no campo cresceram 22% entre 2015 e 2016. Canuto destaca que em 2017 o número de assassinatos de pessoas no campo já é alarmante:
"O número de 61 assassinatos que a CPT registrou em 2016 é o maior número de assassinato de pessoas do campo desde 2003. Então, houve um avanço considerável. E agora com este assassinato do militante do MST em Minas Gerais, neste ano já são 20 pessoas assassinadas".

Eis a entrevista.

Você considera que há um simbolismo no fato de essa chacina ter acontecido bem na semana do aniversário do massacre de Eldorado dos Carajás?
Significa que de fato a impunidade no campo é tanta que o assassinato pode acontecer porque se sabe que as pessoas envolvidas nisso não serão punidas, isto é um elemento histórico desde sempre. São pouquíssimos casos que vão a julgamento e quando vão, são poucos os que são condenados. Possivelmente isso vai se repetir, o pessoal vai dizer que não foi possível identificar, prender, apesar de a polícia já ter identificado um. Acho que vai ser muito complicado primeiro identificar, encontrar e punir. O caso de Colniza é uma situação que se arrasta desde 2004. Em 2007, houve ataques dos fazendeiros com sequestro e torturas e neste ano pelo menos três lavradores foram assassinados. Então a chacina está dentro desse quadro de violência que se arrasta.
Podemos notar algum tipo de relação entre o Congresso conservador e do governo Temer e esse aumento nos assassinatos em conflitos do campo?
A gente tem visto nestes últimos meses, desde o momento que começou a discussão de impeachment, a bancada ruralista e todo o mundo ruralista adquiriu uma força impressionante e se sentem os donos do pedaço. Se o governo não resolver eles resolvem por conta própria porque tem todo o respaldo dessa crise política e desse momento que a gente vive. Eles se sentem seguros para praticar tudo o que quiserem, porque tem o poder executivo, o legislativo e muitas vezes o próprio judiciário ao seu lado.

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