Kiko Nogueira: A ausência gritante do Judiciário na lista de Fachin.

Postado em 12 Apr 2017
Presidente da Argentina, Mauricio Macri, no chegando no Supremo Tribunal Federal (STF) para encontro com a ministra Carmem Lúcia e ministros. Brasilia, 07-02-2017. Foto: Sérgio Lima/Poder 360.Janot e Facin
Numa zapeada na noite de terça, dia 12, flagrei o pessoal da GloboNews espancando Sérgio Cabral.
Cabral, segundo a turma de Merval Pereira, Renata Lo Prete e Gerson Camarotti, criou, ao longo dos anos, um esquema de corrupção que não deixou de fora nenhum pedaço do governo.
Cada secretaria, cada naco do poder público, foi dominado.
Sérgio Cabral foi senador pelo Rio, depois duas vezes governador, entre 2007 e 2014. Fez o sucessor Pezão. Está, como se sabe, em cana.
A Globo se orgulha de ser carioca e de cuidar como mãe de sua cidade e de seu estado. É um bairrismo de bater no peito e gritar feito o Tarzã.
Ninguém ali notou nada de errado no Cabral nesses anos?

Com um arsenal gigantesco de comunicações, equipes numerosas, fontes, lobistas, redações equipadas, jornalistas bem pagos — ninguém viu o Cabral roubando no quintal de casa?
Ou bastaram as fotos dele com Luciano Huck?
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A ausência do Judiciário na lista de Fachin é gritante demais para ser ignorada.
Toda a República está lá, entregue por 78 delatores. A Câmara, o Senado, o presidente, ex-presidentes, mortos, vivos, parentes, amigos, filhos, mulheres, maridos — e nem um nome de juiz ou desembargador?
Nove ministros, três governadores, 24 senadores e 37 deputados federais. Tem até o Vado da Farmácia.
E ninguém dos tribunais superiores. A Odebrecht operou esse tempo todo sem desembolsar um tostão por, digamos, uma sentença favorável?
Difícil.
No final do ano passado, Eliana Calmon, ex-ministra do Superior Tribunal de Justiça, deu uma entrevista a Ricardo Boechat. “Delação da Odebrecht sem pegar o Judiciário não é delação”, lembrou.
“É impossível levar a sério essa delação caso não mencione um magistrado sequer”.
A bem vinda guerra contra a corrupção fica manca dessa maneira. Por que nada foi perguntado aos executivos sobre isso?
Ao jornal Tribuna da Bahia, Calmon foi além. “Nessa república louca que é o Brasil, temos aí o Executivo e o Legislativo altamente envolvidos nas questões da Odebrecht, de acordo com as delações no âmbito da Operação Lava Jato. Tem-se aí pelo menos uns 30 anos em que a Odebrecht ganha praticamente todas as ações na Justiça”, afirmou.
“O Judiciário nunca toma uma posição contrária à empresa? Será que o Judiciário é o mais correto dos poderes? Em todas essas inúmeras licitações que a Odebrecht já ganhou no Brasil nunca a Justiça encontrou nada suspeito sem que precisasse alguém denunciar”.
A classe política está na lata do lixo. Um salvador da pátria tem tudo para emergir. 
Se não Bolsonaro, que é uma besta, eventualmente o “gestor” João Doria. Vai depender do que decidirem os donos togados do Brasil.
Sobre o Autor
Diretor-adjunto do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.

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