Jeferson Miola: É no debate democrático que o PT fica maior e mais forte

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por Jeferson Miola - 07/04/2017

A pressão para que o senador Lindbergh desista da candidatura à presidência do PT contrasta com a tradição da democracia interna do Partido. E tem como efeito, além disso, a interdição do debate sobre as mudanças que o Partido deve promover. Soam extravagantes argumentos como do amigo Emir Sader, que diz que “Lindbergh comete grave erro político, que pode comprometer todo o seu futuro político, ao se opor à candidata do Lula à presidência do PT” [no twitter].

Em todos os PEDs [processos de eleições diretas] do PT, os candidatos do Lula – Zé Dirceu, Berzoini, José Eduardo Dutra, Rui Falcão – enfrentaram as disputas com nunca menos de quatro outros competidores de tendências internas minoritárias.
Por que justamente agora, na conjuntura em que o PT enfrenta as principais dificuldades e os mais dramáticos desafios dos seus 37 anos de existência, deveria ser bloqueada a discussão sobre os novos caminhos e as novas escolhas partidárias?

O debate fraterno e plural e a confrontação das distintas perspectivas sobre as tarefas e os desafios do PT em cada momento histórico, são características que distinguiram o PT como experiência original de esquerda democrática, não-doutrinária, não-estalinista.
O PT não é feito como um monolito homogêneo e indiferenciado; tampouco é um clube chefiado por um soberano iluminado e incontestável, ainda que tenha como sua maior liderança um gênio político e um mito popular inigualável como o ex-presidente Lula.

A candidatura do Lindbergh não é uma escolha pessoal; porque é, antes disso, a tradução do sentimento majoritário do tecido partidário que deseja um PT à altura do momento histórico; um PT enraizado e na liderança das lutas fundamentais das mulheres, das juventudes, dos intelectuais e dos trabalhadores; um PT dirigente da luta contra o golpe e o regime de exceção e capaz de levar Lula à presidência do Brasil para dar início à reconstrução econômico-social e à restauração democrática do país.

A candidatura do Lindbergh nasceu vitoriosa, em março passado, porque conseguiu trazer esperança e alento para centenas de milhares de filiados, militantes, amigos e simpatizantes do PT quanto à possibilidade real de mudar o PT. A pressão para retirá-lo da disputa despreza tais expectativas e castra o sentimento vibrante desta militância rebelde e radicalizada. Com Lindbergh na disputa, a CNB se obrigou a lançar a senadora Gleisi Hoffman, o que representa, em si, um trunfo da candidatura representada por ele.

Gleisi, combativa e indomável no enfrentamento ao golpe e à cleptocracia que assaltou o poder, é garantia de que o patamar do debate do Congresso do PT será superior àquele defendido por outra liderança da CNB, o senador Humberto Costa, para quem o PT deveria “virar a página do golpe” e abandonar o “enfrentamento permanente” ao regime de exceção.

O PT tem nuances e diferenças internas que o acompanham desde sua fundação. A virtude democrática e a unidade partidária se afirmam precisamente no respeito à pluralidade e à diversidade de opiniões.

É no calor das disputas que o PT constrói os consensos e as sínteses que o revigoram como alternativa histórica para a emancipação dos subalternos e como ferramenta para a transformação do Brasil numa nação digna, justa e soberana.

É na disputa e no debate democrático – fraterno, leal e camarada como Gleisi e Lindbergh saberão travar – que o PT cresce, se fortalece e renova sua representatividade na esquerda brasileira e mundial.

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