Greve geral contra reformas marca jornada de lutas do MST

ABRIL VERMELHO
Em ato de desocupação do Ministério da Fazenda e do Incra em Porto Alegre, MST, CUT-RS e movimentos sociais selam união para a greve geral do dia 28 contra reformas de Temer
por Cida de Oliveira, da RBA publicado 19/04/2017 19h05, última modificação 19/04/2017 19h24
MST
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Militantes do MST no RS desocuparam o pátio das sedes do Incra e do Ministério da Fazenda na capital gaúcha e seguem na organização da greve geral
Porto Alegre – A unidade entre trabalhadores do campo e da cidade e dos movimentos sociais na construção da greve geral do próximo dia 28, contra o projeto de reforma da Previdência de Michel Temer, contra a reforma trabalhista e a lei da terceirização, marcou o ato de desocupação do pátio da sede do Ministério da Fazenda e do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em Porto Alegre, no início da tarde de hoje (19).
Parte da jornada nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) pela reforma agrária, a ocupação teve início na segunda-feira (17), quando o assassinato de 21 trabalhadores rurais em Eldorado dos Carajás, no Pará, completou 21 anos.
A desocupação ocorreu após audiências com representantes dos governos gaúcho e federal. Em outros estados, porém, seguem as ocupações nas quais são reivindicados mais assentamentos e investimentos em infraestrutura para as famílias assentadas. É o caso de abertura e melhoria de estradas para escoar a produção de alimentos, além de assistência técnica e financiamento.
Integrante da coordenação do MST, Silvia Reis Marques destacou a unidade entre os camponeses e trabalhadores da cidade na resistência aos ataques aos direitos de toda a classe trabalhadora. "Fizemos a  grande jornada nacional pela reforma agrária e colocamos o debate que vai para além da denúncia do massacre contra os trabalhadores e a luta pela terra. É a produção de alimentos saudáveis para todos, é uma outra relação com o ser humano e a natureza.  Mas também contra essa retirada de direitos que afeta a toda a população, urbana e rural, em direitos que conquistamos com muita luta e muito sacrifício", conta, destacando o auxílio-maternidade e o auxilio-doença, entre outros.
"Um ataque que atinge os camponeses, as mulheres especialmente, que se dedicam a um trabalho que ao mesmo tempo é prazeroso e pesado, a economia do campo. Tem municípios pequenos que vão à falência, sem recursos das aposentadorias rurais. É um massacre, uma violência sem tamanho."
A liderança do MST destacou ainda o avanço de projetos que beneficiam estrangeiros, empresas transnacionais, como a Medida Provisória 759/2016, mais conhecida como MP da regularização fundiária. "Na sua essência, vai beneficiar o agronegócio feroz, a compra de assentamentos, e regularizar áreas griladas, favorecendo o latifúndio e tirando terra daqueles que produzem alimentos." Ela destacou que, no Rio Grande do Sul, os militantes voltam para suas bases para centrar força na organização da greve geral.
Na avaliação do presidente da CUT-RS, Claudir Nespolo, o "abril vermelho" do MST de 2017 acontece em meio ao pior período da história para a classe trabalhadora brasileira, do campo e da cidade.
"Para além das pautas justas da Via Campesina e do MST quanto à produção de alimento saudável, temos em curso uma reforma que afeta todos os trabalhadores do campo e da cidade. Por isso a CUT não poderia estar em outro lugar num dia como hoje, quando estão encerrando uma das fases do abril vermelho, prestando toda solidariedade a uma luta que é específica e agradecendo apoio que nos tem dado ao caminhar junto com a gente na resistência e lutas contra o desmonte da CLT e da Previdência", afirmou.
Essa solidariedade campo-cidade, Via Campesina, MST e outras organizações do campo que compõem a Frente Brasil Popular, conforme destacou, está permitindo a organização da greve geral. "Apesar de descentralizada e com o envolvimento de todas as organizações do campo e da cidade, o comando é único: para tudo", disse. De acordo com Nespolo, as estradas federais deverão ser travadas no RS pela ação dos trabalhadores camponeses.
Para o dirigente, a unidade campo cidade vai fazer diferença no dia 28. "Uma demonstração de grande resistência que terá essa atual correlação de forças dentro do Congresso Nacional,que tenta tirar os direitos no Brasil. No dia 28 começará um período de grande resistência, com o povo na rua. Esse é o primeiro passo."
Ele considera que o governo Temer teme a dimensão e os efeitos da greve geral, tanto que vem tentando manobras para "antecipar o golpe à CLT". Nespolo acredita que o governo e seus aliados "estão se borrando de medo da greve geral e das eleições, em 2018. Para ele, "o jacaré está abrindo a boca". A expressão, segundo ele, significa que parcelas significativas da população estão se conscientizando da gravidade do momento. "Por isso estão vindo para nossas trincheiras. Isso organiza melhor a luta e a resistência", diz.
"Os parlamentares da base de Temer estão começando a se mexer. Aqui no Rio Grande do Sul acertamos a tática, junto com a Via Campesina. Nós estamos pegando os deputados em sua base eleitoral. A gente mapeou bases, colocando nos postes fotos desses parlamentares, distribuímos panfletos, botamos carro de som para circular. A base do Temer tem medo de que sua base saiba que ele apoia Temer."  Segundo ele, os trabalhadores no metrô de Porto Alegre já decidiram, em assembleia, paralisar as atividades no dia 28.
O dirigente não descarta a organização de movimentos com paralisações de maior duração. "Em último recurso, a greve geral por tempo indeterminado. Porque se a gente não conseguir com 24 horas de greve geral, com 48 horas de greve geral, aí vamos ter de ir para o enfrentamento geral. Mas isso, num curto prazo, ainda não está no cenário." 

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