Pochmann: Venda de aeroportos não está vinculada a uma estratégia de crescimento
Para economista, governo conseguiu realizar algo que se imaginava difícil, tendo em vista que a responsabilidade pelo plano de concessão é de um ministro ligado a denúncias de corrupção
por Redação RBA publicado 17/03/2017 19h26, última modificação 17/03/2017 19h36
JOSÉ CRUZ/ABR
Moreira Franco, ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, está envolvido em denúncias
São Paulo – O governo Michel Temer tem motivos particulares para comemorar o resultado do leilão de privatização dos aeroportos de Fortaleza, Salvador, Florianópolis e Porto Alegre, realizado nesta quinta (16), mas o negócio não aponta para uma retomada do crescimento do país. “É um ato de forma isolada, mas que o governo tem condições de comemorar porque, dada a sua debilidade, imaginava que nem isso conseguiria vir a fazer”, diz o economista Marcio Pochmann. “Mas não vejo isso vinculado a uma estratégia de crescimento, de sustentação do investimento público e privado.”
Segundo o economista, com a realização da concessão no setor aeroportuário, nesse momento, o governo “conseguiu realizar algo que se imaginava difícil, tendo em vista que a responsabilidade por esse plano de concessão é de um ministro (Moreira Franco, da Secretaria-Geral da Presidência da República) que está fortemente indicado nos problemas vinculados às denúncias de corrupção”.
Para Pochmann, a questão da soberania brasileira não chega a ser particularmente modificada ou afetada pelas novas concessões, que envolvem o espaço aéreo. “É que o Brasil é quase um protetorado dos Estados Unidos, do ponto de vista de seu sistema de defesa. Não temos satélites e dependemos deles. Esse despojamento da infraestrutura (com a venda dos quatro aeroportos) é mais um elemento que, de certa maneira, demonstra que o país não tem uma estratégia de médio e longo prazo e está desfazendo-se de seus ativos com preocupações de curtíssimo prazo”, diz.
Seja como for, as empresas que arremataram os aeroportos fizeram um negócio promissor. Como lembra Pochmann, é uma atividade vantajosa, dadas a enorme população brasileira, de mais de 200 milhões de pessoas, e as dimensões do país, onde o deslocamento de longa distância depende muito do sistema aéreo. “É um recurso que no médio e longo prazo tem retorno garantido.”
Moreira Franco disse que o resultado do leilão — realizado pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) por intermédio da BM&FBovespa — foi “extraordinário”. Os sistemas de Fortaleza, Salvador, Florianópolis e Porto Alegre foram vendidos por R$ 3,72 bilhões.
O leilão do Aeroporto Internacional de Salvador foi vencido pela Vinci Airports, da França, por R$ 1,59 bilhão. A Fraport AG Frankfurt Airport Services, da Alemanha, arrematou o Aeroporto Internacional de Porto Alegre, por R$ 382 milhões, vencendo também o leilão pelo Aeroporto Internacional de Fortaleza, por 1,505 bilhão. Já a suíça Zurich International Airport AG arrematou o Aeroporto Internacional de Florianópolis, por R$ 241 milhões.
“A concessão desses quatro aeroportos resultará na gestão privada de terminais que representam 12% do total de passageiros processados nos aeroportos do país”, disse o diretor-presidente da Anac, José Ricardo Botelho, após o leilão.
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