Síria – Erdogan apostou errado – Trump provavelmente adotará uma estratégia cautelosa

01.03.2017, Moon of Alabama

tradução de btpsilveira

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As últimas tendências na Síria enunciavam:

O exército sírio está se movendo na direção do Rio Eufrates, ao Sul de Al-Bab. O movimento poderá cortar o caminho das forças turcas para Raqqa e Manbij.

O movimento foi concluído. Agora, as forças de invasão da Turquia estão bloqueadas e não poderão se mover mais para o Sul. Terão que lutar contra o exército sírio e seus aliados russos se quiserem tomar a direção de Raqqa. Caso se movimentem para leste, terão que lutar contra o YPG sírio/curdo e seus aliados (norte)americanos.

Pela primeira vez desde o início da guerra as linhas de suprimento entre a Turquia e o Estado Islâmico estão cortadas!


Erdogan ainda tem esperanças de que os Estados Unidos apoiem seus planos para Raqqa, mas duvido que os Estados Unidos abdicarão de seus procuradores curdos muito bem avaliados em troca de um exército turco indisciplinado, em completa desordem e com baixo espírito de luta. Erdogan removeu todo e qualquer oficial e NCO (suboficial não comissionado) que ele desconfiasse não estar 100% comprometido com seu projeto de poder. Agora, isso voltou para assombrá-lo. Ele simplesmente perdeu os meios militares de alcançar suas políticas beligerantes.

Depois de uma tentativa fracassada de golpe (apoiada pelos EUA?) no último ano, Erdogan se aliou com a Rússia e o Irã. Ele se sentiu deixado ao léu pelos EUA e sua relutância em apoiar seus planos na Síria. Depois da eleição vitoriosa de Trump Erdogan  sentiu que haveria uma mudança nas políticas dos Estados Unidos. Travestiu-se em um grande traidor vira casacas e retornou para a aliança liderada pelos EUA. Ele acredita em uma mudança de direção nas políticas dos Estados Unidos, por causa de seus últimos movimentos e declarações.

Elijah Magnier informa que suas fontes em Damasco tem a mesma impressão que Erdogan tem de Trump. Acreditam que Trump deve promover uma escalada muito forte na Síria e que deverá apoiar os movimentos turcos contra o Estado Sírio.

Acontece que quem comanda a estratégia no gabinete de Trump é o exército dos Estados Unidos. O Pentágono não tem vontade nenhuma de fazer uma grande operação no solo na Síria. O plano apresentado a Trump ainda é o mesmo plano que foi oferecido a Obama. Deve ser trabalhado em conjunto com as forças curdas para a derrota do Estado Islâmico em Raqqa. Também é digno de nota que o diretor do Think Tank financiado pelo Pentágono, RAND Corp defende publicamente uma cooperação melhor com a Rússia na Síria. O velho plano RAND de uma Síria descentralizada com zonas sob “administração internacional” (que dizer, ocupadas pelos EUA) provavelmente não é mais factível.

Recentemente Erdogan anunciou que seu próximo movimento na Síria deve ser em direção a Manbij, hoje em mãos do YPK. Imediatamente, fotos das tropas dos Estados Unidos em Manbij desfraldando bandeiras dos EUA surgiram aos montes na mídia social. A mensagem não poderia ser mais clara: fique na sua ou enfrentará problemas graves.

No domingo, aviões da Força Aérea do Iraque atacaram posições do Estado Islâmico ao leste da Síria. O ataque foi desferido na sequência de cooperação de inteligência entre Síria e Iraque. É mais fácil para o Iraque atacar essa área que os aviões da Síria, estacionados perto do Mediterrâneo. Esta cooperação deve continuar. No lado ocidental do Iraque, as milícias, integradas com o exército iraquiano estão prontas para atacar Tal Afar, que é, depois da já sitiada Mosul, a maior posição do Estado Islâmico na área. Os Estados Unidos tinham planejado deixar os militantes do Estado Islâmico fugirem de Mosul e Tal Afar para a Síria, onde os deixariam conquistar posições do governo sírio. A cooperação entre Iraque e Síria bloqueou essa manobra. A tentativa dos Estados Unidos de separar a guerra contra o Estado Islâmico no Iraque e na Síria fracassou. Qualquer tentativa de usar novamente o Estado Islâmico como um meio de destruir a Síria deverá encontrar resistência do Iraque, que é onde os EUA estão cada vez mais envolvidos. Comandantes dos Estados Unidos no Iraque estão bem conscientes dessa ameaça.

É minha opinião que as declarações mais beligerantes de Trump sobre a Síria, escalação ou instalação de zonas de exclusão não passam de retórica. Devem servir apenas para marcar posição em suas negociações com Irã e Rússia. Não são as suas políticas. Estas deverão ser conduzidas em acordo com posições mais realistas. Obama se equilibrou entre posições ainda mais duras sustentadas pela CIA, Hillary Clinton e os neoconservadores em contraste com a relutância do exército de se engajar em outra grande guerra. Trump deverá, ainda mais que Obama, seguir a visão do Pentágono. Essa visão não parece ter mudado. Por conseguinte, não acredito que Trump siga o caminho de uma escalação assim agressiva. No entanto, mais algumas tropas (norte)americanas devem ser acrescentadas àquelas já na companhia dos curdos para o ataque contra Raqqa. Mas não será tolerada qualquer grande movimentação de tropas turcas ou israelenses. A “grande invasão da Síria” por tropas (norte)americanas para auxiliar planos da Turquia ou Israel não acontecerá.

Enquanto isso, o exército sírio está se movendo para Palmira, e em breve deve retomá-la do Estado Islâmico. Uma nova unidade do exército, treinada pela Rússia, o 5º Corpo do Exército, está na liderança e até agora tem causado ótima impressão. Com Palmira retomada, o exército sírio estará livre para se mover mais a leste na direção de Raqqa e Deir Azzor.

Erdogan provavelmente conseguirá algum tipo de “zona de segurança” na parte do norte da Síria atualmente ocupada por suas forças. Mas Damasco com certeza apoiará os curdos e a guerrilha árabe contra a ocupação turca. As forças da Turquia na Síria continuarão mergulhadas em problemas sérios.  Erdogan não conseguirá apoio direto dos Estados Unidos em seus movimentos para capturar ainda mais terras sírias. Sua mudança de lado, duas vezes, foi inútil e enfraqueceu gravemente suas posições.

O lobby israelense e Netanyahu também querem uma “zona de segurança”, mas no sul da Síria e sob comando jordaniano. Isso permitiria que Israel ocupasse mais terras sírias ao longo das colinas de Golã. Só que as áreas próximas a Golã e na direção de Deera estão ocupadas pela Al Qaeda e grupos alinhados ao Estado Islâmico. EWstes grupos são uma enorme ameaça para o instável estado jordaniano. A Jordânia nnão tem nada a ganhar com a instalação de qualquer “zona de segurança”. Da mesma forma que o exército dos Estados Unidos, não tem interesse em cutucar mais um ninho de vespas no Sul da Síria. Netanyahu, igualzinho a Erdogan, será deixado sozinho à beira da estrada, com seus sonhos e tudo.

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