No alvo: a reação sintomática de Moreira Franco e Noblat diante da entrevista de Dilma. Por Kiko Nogueira

Postado em 17 Mar 2017

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A entrevista de Dilma ao Valor é a mais contundentes que deu desde o início do processo do impeachment. Sem papas na língua, bem humorada, descascou a corriola no Planalto num raio X implacável.
Por que resolveu chutar o balde agora, nesse grau de intensidade, de seu ex-vice decorativo Michel Temer & quadrilha?
Destaco um trecho:
Foi na tessitura das relações com as quais tentou permanecer no poder que a presidente reconhece seu segundo erro: levar Michel Temer para o coração da articulação política. O então vice-presidente percebeu a fragilidade do governo junto a uma base que não parava de se queixar. Ao lado de Eliseu Padilha, atual ministro-chefe da Casa Civil, à época na Aviação Civil, mapeou o cerco. Arrepende-se de tê-lo colocado dentro do governo? “Olha, minha filha, não sabíamos que o nível de cumplicidade dele com o Eduardo Cunha era tão grande. Nenhum de nós sabia, nem o Lula. Depois é que descobrimos. Ele sempre negou essa cumplicidade que agora todo mundo já sabe.”

Quando começa a falar de Temer, Dilma, pela primeira vez ao longo de quase quatro horas de conversa, franze o cenho, encrespa a fisionomia e libera o calão. “Saber quem eles são, nós sabemos. Não tenho a menor dúvida de quem é Padilha e Geddel [Vieira Lima, ex-ministro da Secretaria de Governo]. Convivi sabendo quem eram. Não tenho esse ‘caiadismo’ [de Ronaldo Caiado] de falar que eu não sabia quem eram. Sabia direitinho. Inclusive uma parte do que sou e da minha intolerância é porque eu sabia demais quem eles eram.”
Nesse momento, Dilma relativiza a frase categórica sobre a extensão da faxina de seu governo: “Saber demais não significa que você é capaz de impedir algumas coisas. Por exemplo, o gato angorá [Moreira Franco] tem uma bronca danada de mim porque eu não o deixei roubar, querida. É literal isso: eu não deixei o gato angorá roubar na Secretaria de Aviação Civil. Chamei o Temer e disse: ‘Ele não fica. Não fica!’. Porque algumas coisas são absurdas, outras não consegui impedir. Porque para isso eu tinha de ter um nível de ruptura mais aberto, e eu não tinha prova, não tinha certeza, entendeu? Não acho que é relevante fazer fofoca, conversinha. Posso contar mil coisas do Padilha e do Temer, então? Porque o Temer é isso que está aí, querida. Não adianta toda a mídia falar que ele é habilidoso. Temer é um cara frágil. Extremamente frágil. Fraco. Medroso. Completamente medroso. Padilha não é. A hora em que ele [Temer] começa assim [em pé, mostra as mãos em sentido contrário, com os dedos apertados em forma de gancho]. É um cara que não enfrenta nada!”.
Os brownies intactos na mesinha ao lado são indício de que a ex-presidente gerencia bem as ansiedades da memória. Na novela da Lava-Jato, o capítulo preferido é o das perguntas de Eduardo Cunha a Temer, parte das quais foram vetadas pelo juiz Sergio Moro. “Quando li a primeira vez, lá sabia quem era José Yunes [ex-assessor da Presidência]? Mas lá está Eduardo Cunha dizendo que quem roubava na Caixa Econômica Federal, no FGTS, é o Temer. Leia, minha filha. Não tenho acesso às delações, mas sei o que é um roteiro. E lá está explícito roteiro da delação de Eduardo Cunha. Explícito. Alguém não sabe que o Cunha está dizendo que não foi o Yunes, mas o Temer?”
Uma fonte próxima dela diz que a diatribe nesse momento se deve ao fato de que “ela percebeu que os gângsteres estão desenhando o golpe no golpe. Reparou na ação sem freios do Gilmar, Temer et caterva. Eles estão despudorados. E estão querendo arrebentar com ela no TSE”.
Um amigo bem informado acredita que Dilma, autocentrada, está revoltada porque “nunca achou que seria sacaneada pelo Janot” (ela está na lista do procurador geral da República). “Acreditou no Cardozo e no Mercadante”.
Antes tarde que mais tarde. O estrago agora, para um governo em adiantado estado de putrefação, é enorme. E a reação da turma é sintomática de que o tiro foi no alvo. Machucou.
Moreira Franco tentou se defender no Twitter, sendo imediatamente ridicularizado: “Em 6 anos, Dilma não conseguiu entregar as obras de transposição do rio São Francisco. Nós entregamos em seis meses”.
Ricardo Noblat, uma espécie de porta voz informal de Michel, o qual compareceu todo pimpão a seu jantar de 50 anos de carreira, algo de que o blogueiro do Globo se orgulhou imensamente, está inconformado.
“Pobre Dilma. Entrou para a História pela porta dos fundos”, escreveu, entre outras “sacadas” visivelmente incomodadas.
E Michel? De um cidadão com medo de fantasmas não virá nada.
Frágil. Fraco. Medroso.
Diretor-adjunto do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.

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