Não basta prender Lula
por Mauricio Dias — na Carta Capital - publicado 11/03/2017
A angústia reacionária decorre da impossibilidade ontológica de raptar seu gigantesco simbolismo de grande eleitor
Lições do professor Wanderlei Guilherme |
Tão ruim quanto a situação econômica é o cenário político no País. Talvez fique pior, caso o professor Wanderley Guilherme dos Santos esteja certo. Ele tem muito mais acertos do que erros em um currículo marcado, por exemplo, pela pergunta dada ao título de um livro dele, lançado antes do tenebroso março de 1964: Quem dará o golpe no Brasil?
Tremei, crédulos e incrédulos. Não se trata de pessimismo banal e nem da intervenção das Forças Armadas. Wanderley Guilherme sustenta a análise dele neste texto curto, mas substancioso, escrito para atender pedido deste colunista. Segue abaixo.
“A cláusula pétrea do acordo entre as instituições e pessoas, promotores da apropriação indébita do governo, é clara: nenhum grupo, ainda que só levemente comprometido com aspirações populares, pode retornar ao condomínio de poder. É a mais radical ruptura da história política brasileira, significando que nem mesmo branda participação, como a do PTB durante o período 1945-1964, será tolerada.
Castrar a potencial candidatura de Lula é café pequeno. A angústia reacionária decorre da impossibilidade ontológica de raptar seu gigantesco simbolismo de grande eleitor. Lula detém fabuloso e invulnerável estoque de votos plurais e o dedo que lhe falta é o da delação, não o da vitória.
Para onde apontar, lá terão milhões de votos. Por isso, a tarefa do conluio reacionário se afunila: as eleições de 2018 não se processarão com as regras previstas. A provisão legal vetando mudanças intempestivas será outro café pequeno para o consórcio que fez o que fez em 2016. A rima é de marcha fúnebre.
Não é menos fácil a situação dos grupos oposicionistas. Atropelados pela cavalgada reacionária no Congresso, não há como impedir, derrotar ou emendar a virulenta, até mesmo vingativa, legislação antissocial em trânsito. Depois do histórico espetáculo da Câmara dos Deputados, em 17 de abril de 2016, a população nem sequer vaia seja lá o que aconteça naquele recinto.
A esperança das ruas trará frustração: todas as manifestações aquém de um furacão ininterrupto terminarão em desânimo. O governo só tem ouvidos para trovões paranaenses. Mas há suspeitas de que, chegando a Brasília, os raios anunciem não mais do que reconfortantes chuviscos de verão sobre o Palácio da Alvorada. Assim, o pelotão oposicionista arrisca terminar em companhia dos ‘paneleiros’, exigindo mais sangue aos fascistoides curitibanos.
Insucessos como o impedimento ilegal de uma presidenta legítima, que não foram evitados pelas ruas, não são por elas revertidos antes que os invasores sejam abandonados por algum dos sócios da empreitada. Resta promover a sabotagem política, a intriga entre larápios, a turbulência localizada.”
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