Emir Sader: Quem ganha com a depressão econômica são os bancos privados e as empresas estrangeiras

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No processo de desmonte das estruturas produtivas do país e do patrimônio público, não surgiu, nem de leve, nenhum tipo de denúncia que envolva bancos privados, nem empresas estrangeiras que atuam no Brasil. É um indicativo de quem ganha com a operação de desconstrução do Brasil levada a cabo pelo governo golpista. A política econômica, o eixo desses governos, promove os interesses do capital financeiro, mediante o duro ajuste fiscal que coloca em prática.

Na era neoliberal, a centralidade das grandes corporações industriais multinacionais foi substituída pela dos grandes conglomerados financeiros. Os bancos, que inicialmente eram instâncias de apoio dos investimentos produtivos, ganharam o posto central no sistema econômico, conforme a desregulamentação e o livre comércio promoveram uma transferência gigantesca de capitais do setor produtivo para o financeiro.

Por isso vivemos um ciclo longo recessivo do capitalismo, em escala mundial, porque a acumulação financeira se faz à custa do endividamento de Estados, de empresas e de pessoas. Quanto maior a crise, a recessão, o desemprego, mais se enriquecem os bancos privados.

A centralidade do sistema bancário privado faz com que os grandes conglomerados econômicos ganhem mais com a especulação financeira do que com a produção. Enormes recursos, que poderiam ser investidos na produção de bens e de empregos, não o fazem. E, ao contrário, intensificam a especulação financeira.

A política econômica do governo de MT promove uma brutal reconcentração de renda no país, transferindo dos trabalhadores para os grandes empresários e, em particular, para os bancos privados. São profundamente afetados vários setores produtivos da economia brasileira e os bancos públicos, às expensas do fortalecimento dos bancos privados e das empresas estrangeiras.

Estas se valem dos acelerados processos de privatização, concentrados por agora na Petrobras, para adquirir ativos nacionais por preços irrisórios, enquanto o país aliena bens preciosos para seu desenvolvimento, desestruturando as cadeias produtivas que alimentavam o crescimento da economia.

A economia do país vai se tornando esquálida, voltada para a especulação financeira, em um processo em que as empresas que se fortalecem intensificam o endividamento e não financiam a produção. Os bancos se especializam, cada vez mais, em promover o endividamento e a renegociação das dívidas de governos, empresas e indivíduos, à custa dos créditos para a produção, o consumo e a pesquisa.

Os ataques aos bancos públicos são concentrados em enfraquecer o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal, o Banco do Nordeste, o Banco da Amazônia e o BNDES. Fechamento de centenas de agências, diminuição drástica do pessoal dos bancos, desqualificação da sua função – até a pouco essencial – de promover a expansão econômica e as políticas sociais, fortalecem os bancos privados e a acumulação financeira.

O 1% mais rico são os privilegiados pela política que intensifica a depressão econômica, pela aplicação de um duro ajuste fiscal em uma economia que já vinha em recessão há alguns anos. Enquanto os Brics incentivam a retomada do crescimento econômico através do seu Banco de Desenvolvimento, o mesmo que faz a China, o Brasil se aproxima de voltar ao FMI.

As alegações do ministro da Fazenda da profundidade da crise das finanças públicas e da necessidade de novos impostos preparam o clima para a retomada de empréstimos do FMI e da ciranda das cartas de intenção que intensificam o corte de recursos para políticas sociais e para o pagamento dos servidores públicos. Esse é o resultado da funesta política econômica do governo surgido do golpe, que precisa ser brecado o mais breve possível, antes que o desmonte da economia nacional se torne irreversível.

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