Doleiro das obras tucanas diz que repassou R$ 100 milhões a Paulo Preto no governo Serra

VIOMUNDO - 05 de março de 2017 às 00h08
Paulo Preto
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Paulo Vieira de Souza, mais conhecido como Paulo Preto, José Serra, Geraldo Alckmin e Adir Assad
Ex-chefe da Dersa recebeu R$ 100 milhões, afirma operador
Adir Assad, acusado de lavar dinheiro de empreiteiras, negocia delação com força-tarefa em Curitiba; ele promete revelar esquema em obras de estatal paulista
O operador financeiro Adir Assad propôs um acordo de delação premiada à Lava Jato no qual afirma ter repassado cerca de R$ 100 milhões para Paulo Vieira de Souza [mais conhecido como Paulo Preto], ex-diretor da Desenvolvimento Rodoviário S/A (Dersa), entre 2007 e 2010, na gestão José Serra (PSDB) no governo de São Paulo.

Preso na carceragem da Polícia Federal em Curitiba desde agosto do ano passado, Assad é apontado como o maior emissor de notas frias para lavagem de dinheiro de empreiteiras suspeitas de envolvimento no escândalo de corrupção na Petrobrás.
Na tratativa com a força-tarefa na capital paranaense, Assad admitiu ter usado suas empresas de fachada para lavar recursos de empreiteiras em obras viárias na capital e região metropolitana de São Paulo, entre elas a Nova Marginal Tietê, o Rodoanel e o Complexo Jacu-Pêssego.
Assad disse também como funcionava o esquema de fornecimento de dinheiro em espécie para o caixa 2 de construtoras.
Segundo ele, nos contratos com Dersa, as empreiteiras subcontratavam suas empresas, o valor das notas frias era transformado em dinheiro e as companhias indicavam os beneficiários dos recursos. Entre 2007 e 2012, o “noteiro” movimentou cerca de R$ 1,3 bilhão em contratos fictícios assinados com grandes construtoras.
Ele prometeu revelar detalhes de um esquema na estatal paulista do qual Souza fazia parte, como, por exemplo, as características de um suposto imóvel onde o dinheiro em espécie era armazenado. O Estado apurou que Assad chegou a afirmar ter conhecimento de que políticos foram contemplados com os repasses oriundos de empreiteiras.
Ele, porém, não deverá citar nomes de autoridades em seu acordo porque disse não ter provas para corroborar sua versão, pois apenas lavava o dinheiro e entregava os montantes aos operadores indicados.
Ainda sobre Souza, Assad disse que o conheceu há mais de 15 anos, quando os dois eram triatletas. Afirmou que o ex-diretor da Dersa centralizava todos os repasses das empreiteiras responsáveis por obras na estatal do governo de São Paulo. Segundo Assad, Souza o apresentou a representantes das maiores construtoras do País.
O Estado apurou que Assad também propôs aos procuradores mapear o funcionamento do sistema financeiro paralelo das construtoras responsável por abastecer as contas de suas empresas.
Outro tema abordado pelo operador foi sobre como firmas sem prestar serviços e sem ter funcionários conseguiram movimentar uma quantia bilionária nos bancos brasileiros.
assadSigilo. Os indícios da relação das empresas de Assad com obras em São Paulo já apareciam nas quebras de sigilo promovidas pela Lava Jato.
Os documentos sobre essas contas mostram um pagamento de R$ 37 milhões do Consórcio Nova Tietê, liderado pela Delta Engenharia e vencedor da licitação de um dos lotes da Nova Marginal, para uma de suas empresas.
Das empresas que executaram lotes no Rodoanel, o Consórcio Rodoanel Sul 5 Engenharia, formado por OAS, Carioca Engenharia e Mendes Júnior, depositou R$ 4,6 milhões na conta da Legend Engenheiros, de Assad.
O SVM, do qual a Andrade Gutierrez faz parte, pagou R$ 7,4 milhões para a Legend, entre 2009 e 2010. O consórcio atuou no Complexo Jacu-Pêssego.
Em quase três anos de Operação Lava Jato, os investigadores esmiuçaram as transações financeiras entre empresas de fachada de Assad, como a Legend, Rock Star Marketing, Power to Ten e SM Terraplenagem, e as maiores construtoras do País.
A força-tarefa descobriu que as notas fiscais de prestação de serviços de terraplenagem e aluguel de máquinas serviram para produzir dinheiro em espécie que, supostamente, deveria ser distribuído para agentes públicos e políticos. As empresas subcontratadas, no entanto, não possuíam nem máquinas nem funcionários para operá-las.
Assad teve prisão preventiva decretada quatro vezes desde 2015. Chegou a ser solto duas vezes, mas foi novamente levado à prisão por ordem do juiz Sérgio Moro. Ele foi condenado na Lava Jato a 9 anos e 10 meses de prisão por lavagem de dinheiro e associação criminosa.
Delações premiadas, como a de executivos e ex-executivos da Odebrecht, e a negociação do empresário Fernando Cavendish, da Delta, citam o nome do operador.
A tentativa de acordo é vista como a chance de Assad obter algum benefício no cumprimento da pena. Como a força-tarefa já detém uma série de informações sobre suas operações, Assad está atrás na corrida das negociações e enfrenta a resistência do Ministério Público Federal.
serra na dersa
O então governador José Serra num evento da Dersa com trabalhadores do Rodoanel Trecho Sul. Na foto à direita, além de Serra e Paulo Preto, que estão nas duas imagens, o hoje senador José Anibal (PSDB-SP)
Dersa diz que não fez negócios com Adir Assad
Estatal afirma que firmou contratos apenas com consórcios; ex-diretor não comenta
O criminalista Miguel Pereira Neto, que defende Adir Assad, disse que “não é de conhecimento da defesa técnica a existência da colaboração premiada” e negou que tenha sido firmado qualquer acordo de colaboração.
O senador José Serra (PSDB-SP) disse que não comentaria o caso. Paulo Vieira Souza, ex-diretor da Desenvolvimento Rodoviário S/A (Dersa), não respondeu aos questionamentos enviados pelo Estado.
Por meio de nota, a Dersa afirmou que, “em todos os empreendimentos mencionados pela reportagem, firmou contratos de obras apenas com os consórcios executores que venceram as respectivas licitações” e não com as empresas de Assad.
Ainda segundo a estatal, em 2011, foi criado um departamento de Auditoria Interna e implantado um Código de Conduta Ética, “aprimorando a análise e a fiscalização dos contratos dos empreendimentos de modo permanente e organizado”.
Conforme a estatal, depois de tomar conhecimento de denúncias envolvendo os empreendimentos Rodoanel Sul, Nova Marginal do Tietê e Complexo Viário Jacu-Pêssego, em 2016, a Dersa “instalou e conduz procedimento apuratório para averiguar possíveis irregularidades.”
“A Companhia não compactua com irregularidades e se mantém pronta para colaborar com as autoridades no avanço das investigações”, concluiu a nota da estatal paulista.
Consórcios. Por meio de sua assessoria, a Andrade Gutierrez, em nome do consórcio SVM, disse que não iria se manifestar sobre o tema. A Andrade já assinou um acordo de delação e agora negocia um recall para abordar outros pagamentos irregulares em obras ainda não citadas em sua colaboração.
Questionada em nome do Consórcio Rodoanel Sul 5 Engenharia, a OAS não respondeu aos contatos da reportagem.
A defesa da Delta Engenharia não foi encontrada para comentar os pagamentos para as empresas de Assad.
Como revelou o Estado, Fernando Cavendish, proprietário da Delta, também negocia um acordo de colaboração com a Lava Jato no Rio, no qual promete entregar detalhes sobre irregularidades em obras conquistadas pela empresa, entre elas, a Nova Marginal Tietê citada na reportagem.

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