POVO INTIMIDADO PELA CRISE NÃO SE ANIMA SEQUER A PROTESTAR
por José Carlos de Assis - 21/02/2017
Não é de se esperar que, por conta da crise econômica e do alto desemprego, o povo deixe de pular o carnaval nas ruas de nossas metrópoles com milhões de foliões, mais de uma semana antes do feriado oficial. O que poderíamos esperar, mas não esperamos, é que depois do carnaval milhões voltem às ruas para protestar contra a crise e exigir uma solução. É que o povo brasileiro está anestesiado pela grande mídia. Intimidado. Desesperançado. Acovardado. É um povo que critica a política no abstrato mas nada procura saber dela no concreto.
O que temos é uma gigantesca indiferença da opinião pública em relação à causa de uma tragédia econômica sem precedentes empurrando o desemprego para 13 milhões, hoje, e provavelmente 20 milhões até o fim do ano. Ensinam ao povo que a crise se deve aos governos do PT, ou aos roubos na Petrobrás (o que também se deveria ao PT), ou a corrupção dos políticos, enquanto se assiste a uma extrema complacência em relação ao Governo atual, que conta a história de que estaria salvando o Brasil dos vícios acumulados nos anos anteriores.
Qual é a razão profunda para essa indiferença? Temos o Governo mais corrupto da história da República se medirmos corrupção pela profundidade e velocidade com que promove a privatização do patrimônio público sem nenhum cuidado em resguardar o interesse nacional. Esse Governo nada fez de construtivo e ousa fatiar a Petrobrás, a maior empresa da América Latina, feita com o suor de todos os brasileiros que a financiaram com sobretaxas na gasolina e no diesel, com o objetivo de facilitar sua privatização aos pedaços.
A Vale, a maior mineradora do mundo, está tendo seu controle transferido de graça à Mitsui e ao Bradesco, uma empresa estrangeira e um banco internacionalizado. Planeja-se a venda ilimitada de terras brasileiras ao capital estrangeiro em favor do agronegócio. No Rio, o Governo federal estrangula financeiramente o Estado a fim de arrancar dele o compromisso de privatizar a Cedae, o que acaba de ser autorizado. Em São Paulo, o prefeito segue o roteiro federal anunciando privatizações de praças, estádios e até de cemitério.
Tudo isso são medidas adotadas ou inspiradas pelo Governo, depois do impeachment, e nada tem a ver com decisões corretivas dos governos de Dilma ou do PT. Ao contrário, são iniciativas de agora decorrentes do infame Ponte para o Futuro. Seu objetivo torna-se cada vez mais claro. Visa a destruir o espaço do setor público ou mesmo da empresa nacional para criar oportunidades para o setor privado. E o importante nem é ceder patrimônio ao capital privado, principalmente estrangeiro. O importante é o negócio em si, que gera propinas.
O turbilhão de iniciativas desnacionalizantes do Governo, que conta com maioria folgada na Câmara e no Senado para aprovar até reformas constitucionais, e dentre elas roubos descarados como foi a iniciativa de doar mais de R$ 100 bilhões às empresas de telecomunicações, tem o propósito deliberado de impedir qualquer movimento ordenado de oposição. O máximo que tem sido feito é o protesto ineficaz por parte de parlamentares inconformados nos plenários da Câmara e do Senado ou pelas TVs do Congresso.
Se o avaliarmos por seu perfil ideológico, o atual Governo recua até Joaquim Levy, no início de 2015. Paralisada pelas investidas políticas no âmbito do impeachment, Dilma não teve força parlamentar para tomar qualquer iniciativa até o impeachment. Depois do impeachment, contando com total força parlamentar, o Governo Temer podia e pode fazer praticamente tudo o que quiser. Contudo, suas iniciativas não são contra a crise. São contra o povo. Como exemplo, a infame PEC-55, que congela os gastos públicos em serviços essenciais.
Se a contração de quase 4% em 2015 foi em parte culpa da paralisia do Governo Dilma, a contração de cerca de 5% no ano passado se deve exclusivamente ao regime Temer. Logo se seguirá mais contração, talvez de 3%, neste ano, pois todas, absolutamente todas as medidas adotadas pelo Governo atual são no sentido depressivo. Em algum momento, espera-se, os milhões de brasileiros atingidos pela crise se mobilizarão. Se ainda restar suficiente indignação da parte deles, veremos, como cantou Chico, que amanhã há de ser novo dia.
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