Para analistas, Ciro Gomes não vai para eleição se Lula estiver na disputa

2018


Em evento do PDT realizado em Brasília, ex-governador do Ceará disse que, se partido quiser, vai abraçar "com entusiasmo de jovem a causa de servir o Brasil como presidente"
por Eduardo Maretti, da RBA publicado 17/02/2017 19h27, última modificação 17/02/2017 19h41
DIVULGAÇÃO/PDT
Ciro Gomes
Ciro foi governador do Ceará e ministro da Integração Nacional no primeiro mandato do presidente Lula
São Paulo – Se depender do que disse nesta quinta-feira (16), em evento do PDT em Brasília, o ex-governador do Ceará (1991-1994) Ciro Gomes (PDT) certamente será candidato a presidente da República em 2018. Sua candidatura está lançada por ele próprio. “Vou cumprir a missão que o partido determinar que eu cumpra. E se for a de servir o Brasil como seu presidente, é com entusiasmo de jovem que vou abraçar essa causa”, afirmou ele, ministro da Integração Nacional no primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2006).
Ciro chegou a alimentar a curiosidade de jornalistas, dando um perfil do nome que escolheria para ministro da Fazenda. Disse que será “um empresário da produção” e que não poderia falar mais nada. “Senão dou até o nome. Mas está desenhado. E o meu presidente do Banco Central será um acadêmico. Nada de executivo de banco na economia”, prometeu.

Político hábil, experiente e ao mesmo tempo explosivo, Ciro sabe que a viabilidade de sua candidatura depende de vários fatores. O principal, segundo analistas ouvidos pela RBA, chama-se Lula.
“Ciro já admitiu que só será candidato na hipótese de Lula não ser, e que não disputa com Lula. Com Lula candidato, acho que ele não concorre, que não vai fazer esse contraponto. Com o Lula fora, ele não apenas concorre como é uma candidatura muito competitiva. Porque vai assumir em certa medida as bandeiras que seriam da centro-esquerda, já que é muito difícil construir uma candidatura no campo do PT que não seja do Lula”, avalia o analista político Antônio Augusto de Queiroz, o Toninho, diretor do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap).
Em debate no Atlantic Council, instituto de pesquisas e debates internacionais, em Washington, em julho do ano passado, o próprio Ciro Gomes declarou: “Com Lula, não quero mais ser candidato”.
A também cientista política Maria do Socorro Sousa Braga, da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), considera que o tabuleiro do xadrez político ainda está se desenhando para as eleições do ano que vem, e que numa conjuntura de crescimento da direita, como se verifica hoje, “a esquerda vai ter que adotar certas estratégias para saber se é o momento de se dividir ou unir forças”.
"Se a esquerda fizer o jogo de se unir, ou o Ciro retira a candidatura, ou pode até ser vice do Lula, se Lula for candidato. Se ele entender que tem possibilidade de vencer com o Lula, acho que ele retiraria a candidatura, diante das forças à direita”, diz Maria do Socorro. “Hoje, o PT não tem outro candidato que possa assumir a tarefa de ser candidato.”

Composição

Outro fator que, para Queiroz, do Diap, deve ser levado em consideração é que Ciro é um nome forte numa composição, na disputa pelo campo progressista de centro-esquerda, desde que “amarrado a um programa”. “É um nome muito interessante, porque não pesa sobre ele denúncia de corrupção, tem experiência política e administrativa, e se tiver compromisso com agenda. Mas se ficar solto, tem mais vocação liberal do que se imagina.”
O analista lembra que Ciro começou a carreira política no PDS (que se tornou PFL e depois DEM), passou pelo PMDB e PSDB. Para Queiroz, sem estar “amarrado” a um programa progressista, Ciro pode ter uma postura mais liberal do que se espera, inclusive na gestão da Previdência.
“Mas, dentro de uma composição de centro-esquerda e compromissado com ela, ele tende a cumprir os acordos, dando uma visão mais trabalhista, amarrada com a doutrina do partido dele. Nesse caso, seria uma candidatura muito competitiva, com um discurso que, ao mesmo tempo, é considerado moderno, porque não questiona a economia de mercado, e tem compromisso com uma proteção social", diz Queiroz. "Tem a vantagem de saber dialogar com os liberais sabendo o que pensam, porque já foi do lado de lá, passou em todos os partidos tradicionais, conhece bem a linguagem do mercado." 
No discurso de ontem para os pedetistas, Ciro Gomes afirmou, ao seu estilo, que, quando for presidente, não será derrubado. “Sou novinho demais para me matar, como Getúlio, e não deixarei ninguém fazer um golpe, como fizeram com João Goulart e com a Dilma. Chegando lá o pau vai cantar, comigo ninguém me derruba", garantiu.

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