Helena Chagas: Uma licença permanente para Eliseu Padilha
Acabou! |
Não faz muito sentido a versão de amigos do ministro licenciado Eliseu Padilha de que as revelações do advogado José Yunes sobre o envelope que recebeu na campanha de 2014, segundo ele próprio na condição de “mula”, possam ser atribuídas a um fogo amigo destinado a incinerar o chefe da Casa Civil e tirá-lo do governo para preservar o presidente Michel Temer. Se assim foi, tratou-se da mais Tabajara das articulações, jogando os últimos capítulos da Lava Jato na cozinha do Palacio do Planalto.
Com seu relato, Yunes, na verdade, dá credibilidade à delação do ex-executivo da Odebrecht Claudio Mello Filho, em princípio negada por Temer e Padilha em dezembro, quando vazou na íntegra. Mello Filho dissera ter mandado dinheiro em espécie, destinado a Padilha e combinado com Temer, ao escritório de Yunes, que agora confirma ter recebido telefonema do hoje ministro pedindo-lhe o favor de receber a encomenda.
José Yunes é um dos melhores amigos de Michel Temer e dificilmente terá tido intenção de complicar a vida do presidente. Foi, certamente, movido pelo instinto de autodefesa. Afinal, em sinal de lealdade para preservar o amigo, pedira demissão ao ver seu nome citado no episódio no fim do ano passado. Talvez tenha se irritado, porém, ao ver que outros citados, como Padilha, não fizeram o mesmo. E que corria o risco de acabar respondendo por uma situação que não criou e sobre a qual não tem maior responsabilidade.
As apostas aqui em Brasília são de que Padilha, licenciado para uma cirurgia que de fato vai fazer, não voltará ao cargo. O que não quer dizer que será demitido e irá parar nas mãos de Sergio Moro. É bem possível que o chefe da Casa Civil venha a ser o primeiro espécime ministerial naquela situação de licença permanente para investigados de primeiro escalão na Lava Jato, hipótese levantada pelo próprio Temer para auxiliares que forem objeto de denúncia.
Mas não há dúvidas de que, em ritmo quase semanal, as baixas ministeriais da Lava Jato devem continuar. E a pergunta que fica é: como Michel vai governar assim?
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