Rogério Maestri: Qual é a verdadeira posição política de Jair Bolsonaro? Alguém sabe?

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por Rogério Maestri - no GGN - 01/01/2017

Muito se tem falado nos últimos anos nesta figura política que se chama Jair Bolsonaro que milita como deputado federal há décadas (1991-até a presente data=25 anos), bem menos tempo que serviu ao exército (11 anos) de forma, que já tentando localizá-lo no espectro político, podemos dizer que ele representa mais as forças conservadoras do que o próprio exército, pois sua “memória de militar” já faz parte de seu passado longínquo.
Pois bem, muito se tem falado, mas na realidade poucos falam sobre qual a verdadeira posição política deste político bem votado no Rio de Janeiro. Geralmente as críticas a este político vêm principalmente de dois deputados federais, a deputada Maria do Rosário do PT e mais recentemente do deputado Jean Wyllys do PSOL.

Diria que as críticas destes dois deputados não são credíveis em questão de posicionar Jair Bolsonaro no verdadeiro espectro político e classificação de seu verdadeiro posicionamento. Tanto a deputada do PT como o do PSOL classificam erroneamente este deputado como fascista, e esta classificação é corroborada por uma falsa ligação entre o que se passou a convencionar chamar de Comportamento Fascista com Ideologia Fascista, confusão esta que é levada a excelência pela filósofa, musa de uma parte da esquerda brasileira, Márcia Tiburi, no seu livro “Como Conversar com um fascista – Reflexões sobre o Cotidiano Autoritário Brasileiro”, um verdadeiro desserviço a política brasileira.
Chamo a atenção que o Comportamento Fascista pode ser identificado em qualquer época da história do mundo, por exemplo, em sociedades rurais escravocratas e que a Ideologia Fascista necessita ao mínimo da presença de um estado industrializado ou semi industrializado que passou por um período capitalista liberal anterior e a Ideologia Fascista vem ao seu socorro quando o proletariado começa a se manifestar de forma mais intensa. A Ideologia Fascista é claramente uma forma de a burguesia conseguir a resistir à organização da esquerda marxista, isto fica evidente em todos os países em que o Fascismo triunfou ou pelo menos tentou se instalar.
O mais preocupante de tudo é que esta confusão entre Comportamento e Ideologia começa até atingir pessoas que jamais poderiam fazer este erro como o conhecido presidente do PCO, Rui Pimenta, que não tem a autorização de cometer estes erros. Esta insistência em separar o Comportamento da Ideologia pode parecer um ranço teórico, entretanto classificação errada de nuances do Fascismo pode levar a propostas de luta contra estas duas excrescências erradas e com consequentes resultados ineficazes.
Voltando ao objeto central deste artigo, tanto a deputada do PT como o do PSOL, lutam contra ao claro Comportamento Fascista de Jair Bolsonaro, classificando este comportamento como algo autoritário, truculento, racista e homofóbico, porém todas estas características são usuais, mas não necessárias para regimes claramente fascistas. Cito exemplos, Ernst Röhm, o segundo homem mais poderoso do partido nazista, que chegou a comandar 3.000.000 de Sturmabteilung nazi ("Tropa" ou Divisão de Assalto do Partido Nazista), os famigerados SA ou camisas marrons do partido Nazista era um homossexual declarado e ao mesmo tempo a única pessoa que se dirigia a Hitler pelo seu prenome Adolf e chamava este por “du” (uma forma extremamente familiar em alemão de chamar uma pessoa na segunda pessoa do singular). Algumas pessoas simplificam a homofobia declarada do partido Nazi como efetiva, pois Röhm foi executado pelas ordens de Hitler em 1º de julho de 1934, porém poucos lembram que esta execução se deveu a seríssimas divergências programáticas entre Hitler e Röhm, pois este último queria promover o que se chamava a Segunda Revolução, em que ele pretendia a nacionalizar as grandes empresas industriais, expandir os controles dos trabalhadores sobre a sociedade, confiscar e redistribuir as propriedades da velha aristocracia, e promover uma maior igualdade social, coisas que os capitalistas, nesta época já aliados a Hitler não permitiriam de forma nenhuma.
Da mesma forma, o fascismo italiano não era racista no mesmo nível do que o fascismo alemão, assim como o fascismo espanhol, restando a estes o autoritarismo e a truculência que eram necessárias para dominar as massas já que as mesmas tinham sido traídas pelos próprios desvios que a Ideologia Fascista.
Poderíamos dizer que a Prática dos Fascistas tinham duas fases completamente distintas, uma primeira que procurava se apoiar em massas trabalhadoras e uma segunda, que traindo estas massas trabalhadoras e a sua própria ideologia inicial, se aliavam as classes dominantes e oligarcas para se manter no poder através do autoritarismo e truculência. Esta característica, que ultrapassa uma questão de nuance ultrapassa a compreensão de imensa parte da esquerda.
Pois bem, além destas características do Fascismo, tanto Ideológicas como comportamentais vem junto com um aspecto FUNDAMENTAL do FASCISMO, O NACIONALISMO real desta ideologia, ponto que será importante para definir politicamente o objeto de nosso texto. Fascismo sem nacionalismo é um fato que não pode e não existe tanto na teoria como na prática. De novo, voltando aos países em que esta ideologia se impôs a sua existência, começa antes da tomada do poder e se perpetua com este. Este aspecto é primordial para definir a Ideologia do Deputado Jair Bolsonaro.
Como o Deputado em questão é praticamente virgem em colocar suas posições políticas em livros, livretos ou até brochuras, ou seja, ele não escreve nada. Tivemos que procurar no seu método principal de divulgação o YouTube. Como em 99% dos vídeos do Deputado ele fica simplesmente repetindo suas posições mais “morais” do que políticas, somente numa entrevista mais longa realizada por um “Youtuber” conservador, Nando Moura, que é possível descobrir a verdadeira face IDEOLÓGICA do deputado. Em dois vídeos que perfazem mais de hora e meia fica claro a posição do Deputado deixam mais claras as posições do deputado. Como estes vídeos são longos, tão longos que os próprios cultivadores da personagem Bolsonaro não assistiram, pois o segundo vídeo tem menos de 27% conseguem aguentar a assistir a segunda parte mais longa. Provavelmente ninguém de esquerda conseguiu passar dos minutos iniciais do primeiro vídeo.
Pois não esperem grande coisa sobre as posições políticas do Deputado Bolsonaro, pois quando este começa a falar em assuntos de economia e de posição do Estado na participação na sociedade, que vem o mais revelador. O Deputado Bolsonaro nem sabe como se posicionar politicamente em assuntos que escapam aos seus discursos “éticos” e “morais”. Ou seja, Bolsonaro ideologicamente falando é um amontoado de contradições que demonstram a sua total, completa e absoluta ignorância sobre o que foge ao seu script que ele esgrime na câmara baixa do congresso.
Este Deputado se declara com posições conflitantes dentro de seu próprio discurso, ele se diz conservador e nacionalista e no frigir dos ovos ele é moralmente conservador e politicamente liberal, se diz nacionalista, mas propõe ações claramente antinacionalistas, ou seja, um mar de contradições. Para de novo não ficar no discurso retórico e vazio, vamos a alguma pérolas do Deputado.
Autodeclarando-se conservador e nacionalista e protetor da indústria nacional, é de se esperar que ele proponha na prática ações que sigam esta auto declaração, entretanto por total e completa incapacidade de saber o que significam as suas palavras iniciais ele começa com um rosário de propostas que o definiram exatamente ao contrário.
Ele fica indignado do Brasil não ter aderido ao falecido TPP (Trans-Pacific Partnership), nem entrando no mérito do tratado ser reservado a países banhados pelo Oceano Pacífico e dando um voto de confiança ao deputado que pode transferir a culpa ao seu professor de geografia, porém a indigência mental do deputado é tamanha que o mesmo nem se dá conta que alguém que se diz nacionalista como a direita europeia e norte-americana, JAMAIS e não são adeptos a tratados tipo TTP, pois nestes tratados além de trazer malefícios a indústria nacional de países com industrialização atrasada, como o Brasil, os Estados abrem mão por completo da soberania de suas instituições jurídicas passando as desavenças comerciais entre Estados ou Estados versus Empresas a serem tratadas não mais pela OMC ou o judiciário de cada país, mas sim por arbitragem internacional. Na realidade tratados como o TTP, não pode derrubar as leis locais que violam acordos comerciais, entretanto podem conceder ganhos monetários aos investidores privados prejudicados por qualquer lei nacional que seja criada. Um exemplo disto é a Austrália que participa de outro tratado de mesma formatação, que a fazer uma lei de combate ao tabagismo, teve que indenizar as perdas futuras de empresas de produção de cigarros que se sentiram prejudicadas pela lei.
Em resumo, alguém que se diz conservador e nacionalista, como toda a extrema direita mundial faz, deve se opor a qualquer tratado com semelhança ao TTP. Ou seja, o Deputado não tem a mínima noção sobre comércio internacional e suas implicações nas políticas internas. Uma confirmação objetiva disto é que o atual presidente eleito norte-americano Donald Trump disse claro e em bom tom que não assinará o TTP, colocando um verdadeiro último prego no caixão deste tratado.
Seguindo no problema de política comercial internacional, Bolsonaro diz que priorizaria o comércio com os países desenvolvidos em detrimento ao comércio com o terceiro mundo. Isto é uma inversão de uma política que o Brasil vem aderindo com sucesso desde os governos MILITARES (principalmente o governo Geisel). Esta mudança de eixo é um verdadeiro descalabro, pois o comércio do Brasil com países mais desenvolvidos dá uma relação de troca COMPLETAMENTE DESEQUILIBRADA PARA PAÍSES MENOS DESENVOLVIDOS, pois exportaríamos somente produtos primários com baixo valor agregado e importaríamos produtos industrializados com altos valores agregados, sem criar empregos e muito menos tecnologia básica no nosso país.
Agora falando em termos de política econômica interna, o Deputado se coloca como um defensor do pequeno produtor industrial, mas ao mesmo tempo ele fala a liberalização dos mercados da forma mais radical possível que provoca a destruição das pequenas empresas à medida que o mesmo propõe cláusulas de liberdade econômica que impedem a interferência direta do Estado no apoio da média e pequena empresa.
Poderia seguir adiante nas contradições claras, inequívocas e escandalosas dentro do próprio discurso do Deputado Jair Bolsonaro, porém devido a um discurso pueril de deputados que deveriam ser de esquerda contra este pseudo representante da direita “nacionalista” enuviam completamente o debate, que em poucas frases diretas, absolutas e claras poderiam desmascarar alguém que nem sabe o que é.
Deixando clara a resposta à pergunta do título do texto o Deputado Jair Bolsonaro, não é nacionalista, não é fascista e na realidade nem ele sabe o que ele é. Este representante da bancada da bala é ESPERTO, porém BURRO, pois em 25 anos de atuação parlamentar achou de forma ESPERTA um nicho de discurso simplório e provocativo que qualquer imbecil poderia fazer e que poderá ser seguido por um mar de idiotas políticos. Entretanto ele é BURRO a tal ponto que no mesmo período de mandato não conseguiu nem se auto definir segundo o seu próprio discurso.
Se não houvesse Marias do Rosário ou Jeans Wyllys para dar palco a uma atuação mambembe e tacanha deste elemento da política brasileira, ele como centenas de outros que foram eleitos através de discursos pseudo moralistas já havia sumido por completo da política parlamentar, que permite no máximo uma reeleição a discursos vazio sem a mínima coerência.

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