Kiko Nogueira: O fetiche por uniformes e a obsessão por Lula farão Doria se fantasiar de torneiro mecânico.
Postado em 14 Jan 2017
João Doria deu mais um show no sábado, dia 14. Na Avenida 23 de Maio, apagou pichações com uma maquininha que ele mal sabia utilizar, mas não precisava porque o que interessava eram os efeitos especiais.
Anunciou que vai retirar os grafites dos Arcos do Jânio, iniciativa do projeto Cidade Linda. Falou de um tal “grafitódromo”, espaço que quer reservar para painéis e murais, sem informar onde isso vai ficar. Em sua marquetolagem, a área terá lojas de itens licenciados e será inspirada “em um bairro de Miami Beach”.
Doria pediu também para os paulistanos serem alcaguetes e “filmarem, fotografarem e denunciarem pichadores”, no melhor estilo Gestapo. No meio de tanto absurdo da era do pós ridículo, esse detalhe vira uma bobagem a mais.
Desta feita, pelo menos, Doria não mentiu inventando um coordenador para um programa, como fez com o muralista Kobra, que o desmentiu de maneira vexaminosa. Sujou de tinta o tênis Osklen. Vai valer uma grana num leilão.
Mas o que vai ficando cada vez mais claro como o sol é o fetiche do prefeito por uniformes. Em seus happenings populistas, ele já se fantasiou de gari (em duas ocasiões), pedreiro, jardineiro e operador de motocompressor.
Um alfaiate costuma dar um tapa para que ele saia bonito nas fotos e nos vídeos que manda uma equipe fazer e posta nas redes sociais. Seus secretários não têm a mesma mamata.
Gilberto Natalini, do Verde e Meio Ambiente, por exemplo, estava visivelmente desconfortável numa roupa alguns números maior, transformado numa espécie de homem samambaia.
Doria tem prazer em se vestir como operário. Ele se sente numa Broadway mental. O capricho, o cuidado, o amor é evidente dos pés à cabeça.
O fetichismo de vestuário gira em torno de uma fixação com um determinado acessório ou tipo de roupa — ou com uma pessoa que use tal vestimenta.
Essa obsessão de JD só é superada pela que tem por Lula. Desde os tempos do movimento Cansei, Lula está na mira do empresário. Num Roda Viva com Eduardo Cunha, chamou-o, com ironia que deve ter considerado uma tremenda sacada, de “animal político”.
Durante a campanha, xingou Lula, entre outras coisas, de “sem vergonha”. No teatro dos Arcos do Jânio, fez um discursinho para sua claque: “Essa é uma muda de pau-brasil. Vou dedicar o plantio dessa muda ao Lula, Luís Inácio Lula da Silva, o maior cara de pau do Brasil. Presente para você, Lula”.
Uma mulher dá uma risada forçada ao fundo.
Parte é estratégia. Bater no PT e em Lula dá Ibope e ele é prova de que dá certo. Mas outra parte vem de um lugar mais profundo na psique de João Doria. Por que dar uma cotovelada assim, totalmente de graça?
Não se espante se, na próxima apresentação, João Doria estiver de torneiro mecânico, glorioso.
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