Xico Sá: O golpe nos feios, sujos e malvados

Você ai, amigo, não se faça de frio ou desentendido, sem esse papo de reforma sem mexer com os podres de rico... Assim é fácil



Michel Temer, nesta quinta-feira.
Michel Temer, nesta quinta-feira.  EFE
Tento voltar a ser um cronista do amor lírico e louco, mas sempre vem uma notícia ruim e me faz seguir no relato da poeira das ruas, por supuesto. É preciso falar dos feios, sujos e malvados que morrem de morte morrida muito antes de qualquer previdência pública ou privada, muito antes da média das estatísticas, antes dos cálculos dos burocratas, no país onde os meninos cortam cana-de-açúcar antes dos dez e os adultos morrem de morte matada na véspera dos trinta.

Você ai, amigo, não se faça de frio ou desentendido, sem esse papo de reforma sem mexer com os podres de rico, assim é fácil, assim vira manchete limpinha, assim não mexe com os banqueiros, muito menos com os barões da velha casa-grande, assim os comentaristas dos telejornais aplaudem, que lindos infográficos!, vamos cortar na carne, no osso, passa a motosserra, você aí, compadre, cai na metáfora do âncora bonitinho – uma família não pode gastar mais do que arrecada –, só que não sabe que essa economia nada familiar é apenas para pagar juros de uma dívida pública que não tem nada a ver com a sua vida, o seu sal, o seu açúcar, morô?

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