The Saker: Neoconservadores - Pânico e Agonia

17/12/2016, The Saker, Unz Review The Vineyard of the Saker


Há claros sinais de que os neoconservadores que regem o Império Anglo-sionista e seu 'estado profundo' estão em estado bem próximo do pânico; suas ações indicam que estão, sim, realmente em pânico.
 
No front doméstico
 
No front doméstico, os neoconservadores recorreram a todos os truques sujos que conseguiram lembrar ou imaginar ou recolheram do manual, para tentar impedir que Donald Trump jamais sequer se aproximasse da Casa Branca: 
  • organizaram agitação de rua e manifestações (algumas pagas com dinheiro de Soros); 
  • estimularam os apoiadores de Hillary a não aceitar o resultado das eleições ("não é meu presidente" / "não me representa"); 
  • tentaram ameaçar os eleitores para conseguir que ou votassem em Hillary ou não votassem;
  •  tentaram convencer o Congresso a rejeitar a decisão do Colégio Eleitoral; e
  •  agora estão tentando que as eleições sejam anuladas, por causa de uma suspeita de que hackers russos (aparentemente super-super poderosos) teriam distorcido o resultado da eleição (ao que parece também nos estados em que a eleição é feita com cédulas de papel depositadas em urna) e roubaram a favor de Trump.

 É desenvolvimento realmente engraçado, sobretudo se se considera o quanto Hillary atacou Trump por não ter prometido respeitar o resultado da eleição! Hillary disse especificamente que o fato de Trump não aceitar jurar reconhecer o resultado ameaçaria a estabilidade do principal pilar da estabilidade do sistema político nos EUA! Agora é ela, aí, a empurrar todo o processo eleitoral na direção de grave crise para a qual não se vê saída possível. Há quem diga que os Democratas expõem os EUA a uma guerra civil. Considerando que vários congressistas Republicanos chaves declararam apoio à proposta de instalar-se uma investigação no Congresso sobre as circunstâncias em que se teria dado o fenomenal conto de fadas dos "hackers russos", minha posição hoje é que os Republicanos estão fazendo exatamente o mesmo; e que nesse caso não se trata de discussão entre Democratas e Republicanos; que a questão hoje é "estado profundo" contra "Nós, o Povo dos EUA".
 
Muitos especialistas já se manifestaram convencidos de que nenhuma dessas táticas funcionará. Assim sendo, é preciso perguntar se todos os neoconservadores são idiotas consumados, se acreditam que possam ser bem-sucedidos, ou se têm outro objetivo, e qual é ele.
 
Meu palpite é que, antes de qualquer outra coisa e sobretudo o que está em curso nesse momento é o que sempre acontece quando os neoconservadores metem-se em dificuldades graves: eles double down, enfiam o pé ainda mais fundo no buraco. E mais fundo. E mais fundo.
 
Aí está uma das características chaves do perfil psicológico dos neoconservadores: são incapazes de aceitar uma derrota; são ainda mais incapazes de reconhecer um erro. Por isso, quando a realidade põe abaixo qualquer das fantasias de se alimentam, eles imediatamente se põem a pular e pular de fúria, e lá se vão, metendo o pé cada vez mais fundo no mesmo (ou em outro) buraco. Mas conseguem às vezes aplicar um verniz de racionalidade nesse comportamento, graças a um misto de esperanças de que talvez, com sorte, algum daqueles truques 'cole', combinadas ao empenho mais alucinado em provocar o máximo dano possível ao presidente eleito Trump, antes que ele realmente assuma o cargo. Eu jamais subestimaria o vingancismo pervertido dessa gente.
 
Realmente encorajadora é a reação de Trump a todo esse ensandecimento: depois de demoradas, parece, negociações, decidiu nomear Rex Tillerson para o cargo de seu Secretário de Estado. De um ponto de vista neoconservador, se o general Michael Flynn é ruim, então Tillerson é completa abominação apocalíptica: o homem recebeu a medalha da Ordem do "Amigo da Rússia" diretamente das mãos de Vladimir Putin!
 
Será que Trump não percebeu a extensão da provocação que há nessa nomeação e a fúria que desencadearia entre os neoconservadores? Claro que percebeu! A decisão foi milimetricamente deliberada e sopesada. Se aconteceu bem assim, aí está um muito muito bom sinal.
 
Posso estar errado, mas algo me diz que Trump está provocando a reação dos neoconservadores, porque quer lutar contra eles. Por exemplo: a reação dele às acusações contra os hackers russos foi muito eloquente. Trump retrucou imediatamente: "É a mesma gente que dizia queSaddam Hussein tinha armas de destruição em massa". Para mim, não perderá dinheiro quem apostar que tão logo Trump assuma o governo cabeças rolarão na CIA...
 
[Barra lateral: não é interessante que a CIA se ponha a dar opiniões sobre supostos hackers russos durante eleições nos EUA? E desde quanto a CIA tem competência para atuar dentro dos EUA?! Pelo que sei, a CIA sempre foi agência de inteligência com ação exclusivamente externa. Desde quando a CIA envolve-se na política interna dos EUA? Sim, sim, claro, observadores argutos dos EUA sempre souberam que a CIA sempre foi ator chave na política dos EUA. Novidade é que, agora, a Agência parece não se incomodar de modo algum com confirmar tudo, internamente e abertamente.
 
Não sei, sinceramente, se Trump teria os colhões e os meios indispensáveis para tanto, mas, francamente, ele poderia trabalhar muito mais confortavelmente se dissolvesse a CIA. Claro: mexer com a CIA e/ou com o Fed são crimes imperdoáveis nos EUA; Trump poderia ser assassinado. Mas na verdade Trump já está exposto a risco enorme, também hoje e sem tocar na Agência. Atacar primeiro pode ser sua melhor opção].
 
No front externo
 
No front externo, o grande desenvolvimento é a libertação de Aleppo Leste pelas forças sírias. Nesse caso, os neoconservadores bem que tentaram re-re-enfiar o pé no buraco: distribuíram número incontável de denúncias sem qualquer fundamento sobre execuções e atrocidades, enquanto a BBC, sempre no esforço para descobrir a abordagem mais correta, publicava artigo sobre a semelhança entre a situação em Aleppo e o que aconteceu em Srebrenica. Claro, só há uma semelhança entre Aleppo e Srebrenica: nos dois casos, takfiris apoiados pelos EUA foram derrotados por forças do governo nacional; e nos dois casos o Ocidente desencadeou a mais doentia guerra de propaganda para tentar converter a derrota militar de seus procuradores locais, em vitória política de todo o ocidente. Seja como for, o esforço de propaganda e último recurso falhou e não conseguiu impedir o inevitável: Aleppo foi completamente libertada.
 
O império obteve uma vitória: aproveitando-se de que a maior parte das forças não sírias aliadas aos sírios (o Hezbollah, os Pasdaraniranianos, os Spetsnaz russos, etc.) estavam concentradas em torno de Aleppo, os takfiris apoiados pelos EUA conseguiram assustar civis sírios, muitos dos quais aparentemente fugiram em pânico, e primeiro cercaram, depois chegaram a reocupar Palmyra. A ocupação terá vida curta, e concordo completamente com meu amigo Alexander Mercouris, que diz que Putin em breve libertará Palmyra mais uma vez; mas, até que isso aconteça, a reocupação de Palmyra é bastante embaraçosa para os sírios, iranianos e russos.
 
Parece-me absolutamente improvável que o movimento do Daech na direção de Palmyra não tenha sido detectado pelas várias agências sírias, iranianas e russas de inteligência (pelo menos uma vez uma fonte relata que satélites russos detectaram, sim, o movimento). Assim sendo, concluo que houve uma deliberada decisão de sacrificar temporariamente Palmyra, para poder libertar finalmente Aleppo leste. Terá sido a decisão correta?
 
Absolutamente sim. Diferente do que reza a propaganda ocidental, Aleppo, não Raqqa, sempre foi a "capital" real dos terroristas apoiados pelos EUA. Raqqa é cidade relativamente pequena (pouco mais de 220 mil habitantes, versus os mais de 2 milhões de habitantes de Aleppo; Aleppo é cerca de dez vezes maior que Raqqa. Quanto à pequena Palmyra, tem no máximo 30 mil habitantes). A escolha entre abrir buracos na defesa em torno de Palmyra, para libertar Aleppo foi conclusão/decisão pode-se dizer autoevidente.
 
Agora que já está libertada, Aleppo tem de receber atenção da segurança e grandes esforços de engenharia e reconstrução, para que a cidade ganhe recursos permanentes para proteger-se de futuros contra-ataques sempre possíveis dos takfiri. Mas uma coisa é retomar uma pequena cidade no deserto, e outra, muito diferente, é retomar um grande centro urbano. Pessoalmente, duvido muito que Daech & Co. consigam algum dia retomar o controle de Aleppo. Alguns neoconservadores parecem tão furiosos por terem perdido mais essa, que já começaram a acusar Trump de "apoiar o Irã" (queria que apoiasse!).
A pequena Palmyra recebeu uma dupla função no esforço de propaganda dos neoconservadores: eclipsar a vitória "russa" (não foi exclusivamente russa, mas deixem p'rá lá) em Aleppo e esconder a derrota "dos EUA" (não foi só dos EUA, mas deixem p'rá lá) em Mosul. Tarefa difícil para uma minúscula cidade de deserto, sem dúvida, e não surpreende que essa ideia desesperada não tenha funcionado: a coalizão dos EUA em Mosul continua a parecer tão fraca quanto a coalizão dos russos parece forte em Aleppo.
 
Qualquer comparação entre essas duas batalhas é simplesmente vergonhosa para os EUA: não apenas as forças comandadas pelos EUA não conseguiram arrancar de Mosul os terroristas de Daech & Co. como tampouco conseguiram cercar completamente a cidade e, na verdade, nem conseguiram avançar além dos subúrbios mais periféricos. Sai pouquíssima informação de Mosul, mas depois de três meses de combates, toda a operação para libertar Mosul parece naufragada num fracasso abjeto – pelo menos por hora.
 
Espero sinceramente que logo que Trump assuma a presidência, aceitará afinal trabalhar não só com a Rússia, mas também com o Irã, para finalmente tirar o Daech de Mosul. Mas se acontecer de Trump cumprir a promessa que fez aos sionistas do AIPAC e ao resto da gangue do lobby israelense, de que continuará a ameaçar e antagonizar o Irã... os EUA podem esquecer basicamente qualquer esperança de algum dia derrotarem o Daech no Iraque.
 
Por desespero e despeito, a propaganda dos EUA culpou a Rússia pela matança de civis em Aleppo, ao mesmo tempo em que ocultava atentamente a menção às vítimas civis em Mosul. Foi quando a mesma máquina de propaganda que fez graça com a cor da fumaça que saía dos motos do porta aviões russo Almirante Kuznetsov (sugerindo que o porta-aviões estaria perto de entrar em pane) teve de engolir a verdade amarga de o destroier mais novo e mais caro da Marinha dos EUA, o USS Zumwalt, quebrar em pleno Canal do Panamá, onde ficou, imobilizado, enquanto o Kuznetsov continuou a prestar excelente serviço no apoio às operações russas na Síria.
 
Repetidas e repetidas vezes, a máquina de propaganda anglo-sionista fracassou no esforço de encobrir, ocultar e confundir eventos em campo, e hoje já se vê claramente que toda a política dos EUA para o Oriente Médio está em frangalhos, com os neoconservadores tão desesperados quanto sem saber o que fazer.
 
Contagem regressiva até 20 de janeiro de 2016
 
Já é perfeitamente óbvio que o reino dos neoconservadores está nos estertores final, num clima de incompetência, denúncias histéricas de uns contra os outros, tentativas vãs de impedir que aconteça o inevitável e um frenesi desesperado para esconder a magnitude escandalosa do fracasso ao qual levaram as políticas inspiradas em aspirações dos neoconservadores. Obama entra para os livros como o pior e mais incompetente presidente da história dos EUA.
 
Quanto à Hillary, será lembrada como, ao mesmo tempo, a pior secretária de Estado que o país jamais viu e a mais espantosamente inepta candidata à presidência, de todos os tempos.
 
À luz do fato de que os neoconservadores sempre fracassaram em todos os golpes que tentaram, inclino-me a crer que provavelmente falharão no golpe para impedir que Donald Trump tome posse. Mas até 20 de janeiro de 2017 me manterei sem respirar, de medo do que esse pessoal realmente alucinado é capaz de inventar.
 
Quanto a Trump, ainda não o compreendo completamente. De um lado, nomeia Rex Tillerson em mensagem que parece ser desafio escancarado aos neoconservadores; de outro lado continua a fazer mesuras na direção da gangue do lobby de Israel e escolhe um sionista fanático da pior espécie, David M. Friedman, como próximo embaixador dos EUA em Israel. Ainda pior, Donald Trump continua sem dar sinais de reconhecer o fato inegável de que os EUA jamais derrotarão o Daech enquanto não abandonarem a posição anti-Irã dos neoconservadores e abraçarem com real empenho o processo de aproximação, até aceitarem o Irã como parceiro e aliado.
 
Nesse momento, a retórica de Trump simplesmente não faz sentido: quer se amigo da Rússia, mas antagoniza a China; e quer derrotar o Daech ao mesmo tempo em que continua a ameaçar o Irã. Sandice. Mesmo assim, lhe dou o benefício da dúvida, mas alguém terá de cuidar de instruí-lo sobre as realidades geopolíticas do mundo lá fora, antes que o homem faça desastre ainda maior da política externa dos EUA.
 
Mas ainda assim, cultivo ainda um fiapo de esperança.
 
Minha esperança é que as mais recentes palhaçadas dos neoconservadores ofendam suficientemente e enfureçam Trump a ponto de ele desistir completamente das vãs tentativas para tranquilizá-los. Só se abraçar política sistemática de "des-neoconização" [orig. "de-neoconization"] do establishment político dos EUA, Trump terá alguma chance para "fazer a América novamente grande".
 
Se o plano de Trump é acalmar os neoconservadores só até que seja diplomado e tome posse, contando com que o Congresso aprove seus indicados, tudo bem. Nesse caso tem ainda alguma chance de salvar os EUA de um colapso catastrófico, mas só se se mantiver determinado a dizimar os neoconservadores, sem dó ou piedade, tão logo assuma o timão.
 
Mas se Trump supõe que manterá os neoconservadores distraídos com limitadas concessões e só em questões secundárias, nesse caso todos os seus esforços darão em nada e lá se irá ele também pelo mesmo beco estreito e sem saída que consumiu Obama. Pelo menos superficialmente, Obama, de início parecia não ser candidato neoconservador. E acaba como completo fantoche dos neoconservadores (em 2008, os neoconservadores apostavam suas fichas em McCain e só se infiltraram no governo de Obama depois de McCain estar derrotado).
De um modo ou de outro, caminhamos para uma crise, a única questão ainda aberta é se os EUA sairão dessa crise libertos ou detonados.

[assina] The Saker
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