FELIZ A NAÇÃO CUJO DEUS É O SENHOR. POR SERGIO SARAIVA

Quem é ateu e viu milagres como eu, sabe que deuses sem Deus não cessam de brotar.


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Por Sergio Saraiva - no blog Consertos Gerais - 02/12/2016

Em um determinado momento de seu artigo na Folha de 27 de novembro de 2016, Renan Calheiros usa a seguinte expressão: “… é imperioso esclarecer que não se pretende embaçar a Lava Jato, que é sagrada”. 
Chamou-me a atenção.
Sagrado – adjetivo 1. relativo ou inerente a Deus, a uma divindade, à religião, ao culto ou aos ritos; sacro, santo. 2. que recebeu a consagração, que se sagrou.

Realmente, não me parece exagerado dizer que a Operação Lava Jato assumiu em muito e de há muito a condição de um culto religioso.
De uma operação da Polícia Federal iniciada em março de 2014 em Curitiba que visava investigar um doleiro reincidente, estendeu sua jurisdição sobre todo o território nacional e assumiu a missão salvacionista de combater a corrupção.
Ex-presidentes da República, executivos de empreiteiras, governadores, oficiais generais das forças armadas. E não só poderosos, da cunhada do tesoureiro ao capoteiro, ninguém está a salvo de sua vigilância. De refinarias de petróleo em Pernambuco, a um pequeno sítio em Atibaia–SP, passando pelo Programa Nuclear Brasileiro, por estádio da Copa do Mundo, por usinas hidroelétricas e estaleiros, não há negócio ou pessoa que não sejam investigados. Ela onipresente.
Do Brasil, dos EEUU e da Europa chegam informações por canais desimpedidos aos seus investigadores. Não há cofre ou disco rígido de computador que possa guarda informação que lhe seja oculta. Os arrependidos com suas delações buscam a confissão e a remissão dos pecados. Ela é onisciente.
Nada lhe faz frente, tropas em trajes de combate, conduções coercitivas e prisões preventivas. Os pecadores caem fulminados. Ela é onipotente.
Os casos da Mossak-Fonseca e de Aécio Neves devem ser entendidos como indulgências – elas cabem em todas as religiões. Tal qual o do “careca”. O do “santo” por motivo óbvio.
Como toda religião estruturada, a Lava Jato tem seus sacerdotes. Há uma papisa enérgica e vigilante a qualquer ataque à sacra instituição. Há cardeais, bispos, curas e obreiros. Há missionários e pregadores.
E fiéis com suas celebrações. Vestem-se de amarelo, batem panelas saem em procissão carregando seus estandartes de fé.
Há mesmo um decálogo. “As 10 medidas contra a corrupção”. Seus 10 mandamentos. Não poderiam se nove e tampouco onze. Ai de quem atentar contra eles, de quem os deturpa-los. Opróbrio, penitência e purgação.
Há bodes expiatórios e mesmo um cordeiro a ser sacrificado no altar para salvar-nos de todo o mal.
Sacrílego o que comete alguma crítica. Herege aquele que questiona ou duvida.
E eu que, por ateu, me pergunto: mas, afinal, a que deus servem?

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