O realismo de corpo e alma de Dostoiévski
Em 11 de novembro de 1821 nasceu o escritor russo Fyodor Dostoievsky, um realista fascinado pelas contradições da vida concreta, cujo enfrentamento o transformou em uma das mais importantes referências literárias na história.
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Passados 185 anos de seu nascimento, Dostoiévski ainda é considerado um dos maiores romancistas de todos os tempos
Ele renovou a literatura ao narrar a realidade em que vivia (é sabido que foi um dos primeiros a usar notícias de jornal como fonte e material para sua literatura). Mas não se tratava de um realismo “duro” - era um realismo temperado, profundamente, com seu reflexo, quase sempre doloroso, na alma de seus personagens. Era um realismo de corpo e alma.Ao personagens de sua literatura são frequentemente vítimas e algozes ao mesmo tempo, incapazes de se livrar de suas misérias, e nunca encontram saída para seus conflitos.
Conflitos que, de certa forma, refletiam a vida do escritor russo que, desde seu nascimento, faz 195 anos, em 11 de Novembro de 1821, enfrentou realidades que dotariam os seus futuros personagens de comportamentos irreversíveis e imutáveis.
Como por exemplo Raskolnikov (de Crime e Castigo) que poderia provavelmente ter parado o crime e impedir o castigo. Ou o destino dos irmãos Karamazov, que poderia ter sido menos infortunado; Mishkin talvez poderia diferenciar entre a compaixão por Nastasia Filippovna e Aglaia Ivanovna, movido por um amor verdadeiro. Mas havia mais para eles do que o destino; Dostoiévski viveu, ele próprio, eventos trágicos, e fez deles material de sua literatura.
Na narrativa de Dostoiévski prevalece a interpretação psicológica dos personagens (neste particular diz-se que próprio Freud evitava sua leitura devido às inquietações que provocava!).
Cena do filme Partner de Bernardo Bertolucci, uma adaptação livre da obra O Duplo de Dostoiévski
Dostoiévski era um investigador de essências da alma: nas descrições de seus personagens, cada recurso mostra um observador cuidadoso e um profundo conhecimento, não só do exterior, mas, acima de comportamentos, sentimentos, emoções e medos.
São profundidades que não se limitaram à vida russa do século 19, são um reflexo das inquietações humanas; são também estereótipos da época. Cada personagem surgiu a partir de acertos de conta do autor com a mudança e a realidade complexa, em uma sociedade que se deteriorava pela ganância, cobiça por poder e inveja. E estava prestes a uma mudança profunda - o fim da servidão, em 1865, e a grande crise subseqüente, que levou, algumas décadas depois, à revolução de 1917.
Desde seus primeiros escritos a atenção é concentrada nas condições dos necessitados, na humilhação das vítimas e como eles reagem às adversidades. Isso pode ser visto já em seu primeiro romance, Pobre Gente (1846), e no seguinte, que lhe permitiram, com apenas 25 anos ser um escritor de renome.
A escrita do romance Netochka Nezvanova foi interrompida devido a sua prisão, em 23 de Abril de 1849. O motivo foram as ligações com o círculo de Petrashevski, um grupo de discussão literária cujos debates teóricos evoluíram para a discussão dos problemas da Rússia e para a oposição ao czarismo. Dostoiévski foi acusado de conspiração e condenado à morte, sentença depois comutada para cinco anos de trabalhos forçados na Sibéria.
Ele cumpriu sua sentença entre 1850 e 1854 e as experiências de então foram registradas em Memórias da Casa dos Mortos (1862). A proximidade com a morte, antes da sentença ser revista, e o efeito que isso causou nele, aparecem no romance O idiota (1869).
Foi com este material, e com a perspectiva de abrir os olhos dos leitores para um mundo no qual o seu destino já estava escrito, como o de seus personagens, que ele se transformou em um dos escritores que deixariam uma profunda marca na literatura. E na história.
Do Portal Vermelho, José Carlos Ruy, com informações da Telesur
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