O que ainda falta para pôr Hillary Clinton no xadrez?! Por Pepe Escobar

03/10/2016, Pepe Escobar, RT


Virtualmente todo o planeta prende a respiração coletiva, ante a possibilidade de Hillary Clinton vir a ser a próxima presidenta dos EUA [ing. POTUS]. 


Como é humanamente possível, com a diária, incansável Fogueira dos Escândalos – alimentada sem parar pelas revelações de WikiLeaks, agora já convergindo com as investigações feitas pelo FBI – já visível hoje até do espaço sideral?   

É possível, porque Hillary Clinton, amparada num paroxismo de histeria manufaturada, é apoiada por virtualmente todo o establishment dos EUA: um eixo de consenso que reúne o Partido da Guerra/Wall Street e a mídia-empresa neoconservadores/neoliberais conservadores. 

Mas a história tem a tendência de nos ensinar que sempre há uma gota que faz transbordar o copo.

Bem pode ser – como se as leem em WikiLeaks, e-mail de 2/3/2015 –, as palavras escritas por John Podesta: "Vamos ter de nos livrar de todos esses e-mails." 




A data é relevante, porque no exato mesmo dia o mundo ficou sabendo que Hillary Clinton usara um servidor pessoal de e-mail, no exercício do cargo de secretária de Estado. 

Mas até aí é só metade do quebra-cabeças. Tem de haver alguma resposta ao e-mail de Podesta – que WikiLeaks talvez revele, talvez não, nos próximos dias antes da eleição. Se a troca de mensagens claramente mostra intenção (de burlar), nesse caso aí estará a arma do crime, ainda fumegando: toda a narrativa da máquina Clinton (de dinheiro) – segundo a qual Hillary só apagou e-mails pessoais – desaba como Castelo de Cartas [ing. House of Cards].    

Além do mais, o mesmo movimento exporá também a estratégia privilegiada pela máquina Clinton: dificultar o mais possível as investigações subsequentes, interna do Departamento de Estado, e a do FBI

No que tenha a ver com a máquina Clinton, a 'regra' é a influência cruzada. John Podesta é também fundador do Centro para o Progresso Norte-americano [ing. Center for American Progress] – operação de George Soros e território preferencial de recrutamento de funcionários do governo Obama, inclusive diretores do Tesouro dos EUA que decidem quem, na elite financeira dos gigantes Grande Demais Para Quebrar (GDPQ), seria salvo depois da crise de 2008. DCLeaks.com, por sua vez, já conectou fundações da Open Society [Sociedade Aberta] de Soros a gangues globais de distribuição de dinheiro a ser usado diretamente para derrubar governos e derrubar regimes eleitos (sempre poupando, é claro, os que doem dinheiro à Fundação Clinton.) 




Excepcionalistão... e pirado?! 

O cronograma para a divulgação gota a gota, dos documentos em mãos de WikiLeaks, é como uma sofisticada modalidade de tortura chinesa, para a máquina Clinton. Para aliviar a dor, a mídia-empresa comercial cuida, dia e noite, de mudar de assunto, culpar o mensageiro e atribuir todos os vícios e erros à hackeação 'do mal', feita pelos russos. Mas os vazamentos parecem ter saído, isso sim, diretamente de dentro da barriga da besta (de Washington).   

Em discurso no Clube Valdai, semana passada, o presidente Putin precisou só de umas poucas frases para esvaziar toda a narrativa da máquina Clinton, reduzi-la a farelo:

"Outro problema mítico e imaginário, e que só posso chamar de a histeria norte-americana, é o que dizem sobre um suposto envolvimento dos russos na eleição presidencial nos EUA. Os EUA têm tantos problemas e problemas tão urgentes, da colossal dívida pública ao aumento da violência por armas de fogo e casos de ação arbitrária das forças policiais... Seria de supor que os debates eleitorais se concentrariam nesses e noutros problemas antigos ainda sem solução. Mas o que parece é que a elite não tem o que oferecer que realmente tranquilize a sociedade. Daí as tentativas para desviar a atenção dos eleitores, apontando para os russos, hackers, espiões, agentes de influência, a lista é longa.




Pergunto a mim mesmo e pergunto a vocês: alguém imagina seriamente que a Rússia pode realmente influenciar a escolha eleitoral do povo norte-americano? Afinal, os EUA não são algum tipo de 'república de bananas', são uma grande potência. E se eu estiver errado, me corrijam."


A realidade porém continua a insistir em oferecer múltiplos casos, casos superpostos típicos de república de bananas, que mostra gigantesco buraco negro na transparência. 


A antropóloga Janine Wedel foi das poucas na mídia-empresa mainstream conectada aos Clintons a reconhecer como e o quanto Bill Clinton, durante o tempo em que Hillary foi secretária de Estado, aperfeiçoou sua versão de "filantropo-capitalismo" [ing. "philantro-capitalism", mas adequadamente "pilantro-capitalismo" (port. NTs)] (da verdade uma rede para lavar dinheiro do tipo "pague e jogue"), prática que "de modo algum ficou limitada aos Clintons".    

E a fraude prosperou com nódulos duros, como a dúvida nenhuma de que Hillary sempre soube perfeitamente que os principais doadores de dinheiro para a Fundação Clinton, o Qatar e a Arábia Saudita, também financiavam o terrorismo do ISIS/ISIL/Daech.  

Huma, a princesa decaída 

Agora, menos de uma semana antes da eleição, chegamos ao ponto crucial, em que as revelações que saem de WikiLeaks convergem e confirmam suspeitas de três grandes processos investigativos em andamento dentro do FBI – três. 

Prova A é essa bomba revelada por WikiLeaks: Peter Kadzik – atualmente encarregado do exame em curso no Departamento de Justiça (DdJ) de 650 mil e-mails encontrados num laptop usado partilhadamente pela mulher braço direito de Clinton, Huma Abedin, e o marido dela, conhecido pervertido sexual, do qual Huma está separada – também é agente da campanha de Clinton. 




Kadzik não foi apenas advogado de Marc Rich, quando foi perdoado por Bill Clinton; Podesta – como WikiLeaks também revelou –, agradeceu ao mesmo Kadzik por tê-lo ajudado a "ficar longe da cadeia"; e esse mesmo Kadzik deu a Podesta uma cópia secretado relatório de andamento da investigação sobre os e-mails de Clinton.  

A máquina Clinton, liderada publicamente por Hillary travestida como Nossa Senhora das Virtudes, é, de fato, negócio imundíssimo. São legendárias as conexões muito íntimas que ligam Huma e família à Arábia Saudita – e à Fraternidade Muçulmana (o irmão dela, Hassan, trabalha pra o Xeique Yusuf al-Qaradawi). Podesta, por falar dele, é lobbyista muito bem remunerado a serviço da Arábia Saudita em Washington; e até aí se tem só uma parte da Conexão Clinton Foundation.

Agora, com Huma sob os holofotes – no ponto mais iluminado do palco – e ainda repetindo que não sabia que todos aqueles e-mails estavam no laptop dela e do (então) marido Wiener – não surpreende que Hillary a tenha instantaneamente degradado publicamente ("uma de minhas ajudantes"). Antes, era como "filha" de Hillary; agora está sendo denunciada como A Princesa Decaída

O que afinal nos leva à intersecção das tais três investigações em andamento no FBI: sobre o Servidor Subterrâneo de E-mails de Hillary (que teria sido fechado, em teoria, por Comey, do FBI, no verão passado); sobre a Fundação Clinton; e sobre a rede de pedofilia administrada por Wiener. O FBI está investigando a Fundação Clinton já há mais de um ano. (Adiante, um resumo curto de história longuíssima.) 

Em julho passado, o Departamento de Justiça – então comandado por Loretta Lynch, figura do quadro de agentes de Clinton/Obama dentro do governo – decidiu não processar ninguém dos participantes do E-mail-gate. Mesmo assim, Comey, diretor do FBI Comey – que fez questão de destacar o "extremo desleixo" de Hillary –, returbinou a própria posição de não se fazer de cego, e abriu outra investigação, tipo o FBI "procurou voltar a focar as investigações sobre a Fundação Clinton". 

Em pouco tempo já tínhamos o pessoal do FBI que investigava a Fundação Clinton, requerendo pleno acesso a todos os e-mails revelados na investigação do E-mail-gate. O Distrito Leste de New York recusou-lhes o acesso. Detalhe importante: até 2015, adivinhem quem era Procurador(a) Federal dos EUA no Distrito Leste: Lynch, parceiríssima de Clinton/Obama. 

Entra aí uma camada extra de termos em impenetrável advogatês. E há menos de dois meses, os investigadores do FBI que trabalhavam sobre a Fundação Clinton descobriram que não teriam acesso a nenhum material do E-mail-gate que estaria protegido por acordos de imunidade. 

Então, há menos de um mês, outra equipe do FBI confiscou o hoje famosíssimo laptopusado compartilhadamente por Huma e o marido pedófilo Wiener – sob um mandato que só autorizava busca por indícios que comprovassem as acusações de que Weiner teria molestado sexualmente uma adolescente de 15 anos. Nessa pesquisa, encontraram e-mails de Huma Abedin de todas as contas dela – de Humaabedin@yahoo.com , até a crucial huma@clintone-mail.com. E assim se descobriu que Huma não apenas repassava e-mails do Departamento de Estado para suas próprias contas privadas, mas, também, queHillary enviava e-mails da conta "secreta" @clintonemail para a conta @yahoo de Huma! 

Ninguém sabia com certeza, mas alguns desses e-mails poderiam ser duplicatas dos mesmos aos quais os investigadores do FBI que trabalhavam sobre a Fundação Clinton não tinham acesso por causa dos tais malditos acordos de imunidade. 

O que já se sabe com certeza é que os metadata no laptop de Huma/Wiener foram atentamente examinados. Pensem só nas duas equipes de investigadores do FBI – os que investigavam a Fundação Clinton e os que investigavam as atividades de Wiener, o pervertido – comparando anotações e hipóteses. E foi assim que, sim, todos decidiram que os e-mails de Huma são, sim, "relevantes".  




Há questões chaves a responder; das quais a mais gravemente importante é: como os e-mails foram declarados "relevantes", se os investigadores só tinham mandato para examinar os metadados? 

O que importa é que Comey, com certeza, foi informado sobre o conteúdo dos e-mails – fator que pode virar qualquer jogo. Por isso, precisamente, uma das minhas fontes insisteem que a decisão de publicar tudo veio de cima. 

Outra pergunta chave agora é se o Departamento de Justiça – via Kadzik? – novamente fará parar uma investigação, dessa vez sobre a Fundação Clinton. Agentes veteranos, gente séria que passou e ainda passa hoje pelo FBI de modo algum deixará passar mais essa, sem reagir – para dizer o mínimo.

FBI trabalha no 'caso' Fundação Clinton há mais de um ano. Hoje, com certeza, está já carregado de provas – e não largará o osso. Ser eleita ou não parece ter-se convertido na menor das preocupações de Hillary Clinton, surgidas dessa Fogueira dos Escândalos.*****

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